Novo lar

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"E um gesto pode nos trazer alegria em tempos difíceis..."

Maraisa

- Vim perguntar se precisa de algo.

Tomei coragem e fui ao seu ambiente de trabalho. Ultimamente estou ignorando muitas das regras impostas por ela. Uma a mais ou uma menos não terá problema.

Eu acho...

- Estou bem.

- Posso te fazer companhia?

Claro que eu estava esperando um não, principalmente depois de tudo o que houve, mas a resposta veio rápida, e de uma maneira que não previ.

- Se é o que deseja, sim.

- Sério?!

- Sim. De novo. - falou com sarcasmo.

- É pedir muito para falar "sim" novamente? - me segurei para não rir.

- Não vou responder isso. - voltou suas atenções ao trabalho que executava em sua enorme mesa.

Fui para mais perto, e pude visualizar o que ela fazia. Não levei muitos segundos para identificar que ela estava mexendo no projeto da mansão de Tomás.

Fiquei calada por um tempo, somente analisei o que estava no papel, bem como as suas anotações.

- Bem pensado colocar o jardim aí. Acho que ficará com mais espaço se a piscina vir pra cá. - apontei o dedo. - Agora me diz: e se o portão ficasse um pouco menor e aproveitasse melhor esse espaço? - novamente indiquei o lugar, e Marília me olhou confusa. - Já sei... isso não é da minha conta.

Marília virou sua cadeira em minha direção e cruzou os braços. Eu levaria uma tremenda bronca. Normal...

- Como sabe o que minhas anotações significam?

Essa pergunta eu não esperava.

- Bem, eu só sei.

- Só sabe?

- É. Acompanho alguns arquitetos no país, vejo vídeos, essas coisas. Gravo dicas facilmente, vejo o posicionamento de cada traço e as explicações para tal, sei alguns significados, enfim, não tenho curso nem nada, mas só "batendo o olho" consigo identificar algumas anotações.

Fui analisada por alguns segundos, e Marília parecia surpresa, até mesmo um pouco feliz com o que foi dito.

- Que tal aprender mais e me ajudar no projeto?

Foi errado, mas gargalhei quando ela terminou a frase. A piada foi ótima.

- Posso saber qual o motivo da graça? - questionou com certa impaciência em seu timbre.

- Isso não se faz. - caminhei na direção da porta. - Ainda mais com uma pessoa que sonha em ser uma arquiteta.

- Não entendi.

- Ah, entendeu sim. Qual a lógica em me chamar para te ajudar em um projeto de uma mansão? Uma mansão. - repeti.

- Quero ver se leva jeito.

- Não sei nada técnico. - falei.

- Sabe qual o erro da maioria das pessoas que se formam na faculdade? - passou uma das mãos pelo queixo.

- Não. Qual é?

- Confiar demais na técnica, e não na percepção. Tive alguns colegas assim, sabe onde eles estão agora?

- Não. Onde?

- Trabalhando como motorista de Uber, auxiliar administrativo, advogados, nutricionistas, entre outros. - pontuou. - Não estou questionando o que eles estão fazendo da vida agora, longe disso, só estou tentando te mostrar que ter uma faculdade não necessariamente fará com que você siga na área, e confiar demais em um diploma não é bom.

The Lost - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora