8- Me ajuda

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Alec simplesmente não acreditava que Catarina o traiu dessa maneira.

Ela roubou seu caderno e ainda mostrou para Magnus.

Até podia esperar algo assim de um dos meninos que o provocavam, mas jamais imaginou que sua própria Guardiã faria isso. Uma das poucas pessoas em quem confiava.

Aquele caderno era como um diário e Catarina sabia disso.

Ele ainda não sabia escrever muito bem, por isso expressava seus pensamentos com desenhos, que era um talento herdado de sua mãe.

Desenhos quase sempre de Magnus, dos olhos dele, ou de coisas que ele fazia.

Tudo isso deveria ser um segredo, mas Catarina o expôs, e agora Alec só queria correr pra bem longe.

Ele correu do jardim pra dentro do instituto, mas desviou das escadas rumo ao seu quarto e disparou pra porta da frente.

Não havia ninguém por perto porque a maioria das pessoas estava na festinha de aniversário de uma das crianças no salão do terceiro andar.

Alec teve que dar um pulinho para alcançar a maçaneta, mas aproveitou a deixa, e quando chegou na rua, não pensou, apenas continuou correndo.

O orfanato ficava numa rua tranquila, sem um grande fluxo de carros justamente por ter muitas crianças indo e vindo o tempo todo.

Havia casas, prédios, mas também havia uma praça enorme mais adiante com várias árvores.

Alec gostava de árvores, então apertou o caderninho contra o peito mais forte e correu sem olhar pra trás.

Ainda estava dia, não mais que 16h da tarde, mas conforme ia adentrando naquela floresta, a grande quantidade de folhagens tapava o sol, deixando tudo mais escuro.

O garotinho estava tão nervoso que não se importou. Ele continuou correndo até que tropeçou numa raiz e caiu.

Seu caderno voou longe, seu cotovelo e joelho provavelmente tinham começado a sangrar, mas não era isso que realmente estava doendo.

O que estava doendo era o fato de precisar fugir porque fora traído.

Lentamente Alec se levantou daquele chão arenoso, coçou os olhinhos embaçados e recuperou o caderno antes de sentar no pequeno tronco de uma árvore caída ao lado.

Por longos minutos o silêncio predominou, com exceção do vento movimentando as folhas e das pequenas fungadas que Alec dava ao abraçar o caderninho.

Só que de repente tudo começou a ficar mais escuro e o menino escutou som de passos quebrando galhos enquanto se aproximava.

Alec se levantou assustado, querendo se esconder, mas era tarde demais porque um arbusto na sua frente começou a se mexer até que uma figura surgiu.

Já fazia 2 anos desde o acidente. 2 anos. Mas Alec se lembrava do seu pai como se ainda o visse todos os dias.

Seus olhinhos se arregalaram, ardendo, e seus lábios se abriram com uma arfada de pavor enquanto Robert Lightwood dava um passo em sua direção.

A mesma careca, as mesmas ruguinhas ao redor dos olhos azuis escuros, os mesmo braços fortes que o aninhavam toda noite antes de dormir.

- Meu filho... - Ele disse, e era a mesma voz que ainda ecoava na mente de Alec. - Eu vi você entrando nessa floresta sozinho e te segui. Está tudo bem?

A preocupação era nítida na voz do homem esperando uma resposta, e apesar da saudade ser devastadora, torturando seu coraçãozinho todos os dias, Alec só conseguiu ficar encarando, completamente imóvel.

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