PLANO DE AÇÃO

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Fernanda Sanchez


A chuva daquela manhã trazia toda melancolia que não queria.


Olhando através da janela do quarto, a antiga casa da árvore, que foi construída pelo meu pai, e meu tio, tal como um dia ele teve na infância, tomou todo meu campo de visão. Quando criança tinha medo de subir lá em cima. Só de imaginar cair, sentia vontade de chorar. Mas, ao passo que fui crescendo, entendi que o medo nada mais é, do que uma ressignificação do tamanho do risco que estamos dispostos á viver. Quanto mais alto se almeja chegar, mais medo vamos sentir.


Meu objetivo sempre foi tocar o céu.
Então, enterrei as fraquezas.
O mundo se tornou pequeno diante das minhas perspectivas.

Acima de qualquer coisa, estabeleci a meta de ser feliz.

Não queria ser como minha vó materna, que obscureceu a alma por falta da verdadeira felicidade. Sua visão errada e distorcida do amor á transformou em um ser sem vida, sem coração e sem propósito. No lugar da empatia e da afeição, nutria-se um ódio sem fim, e o rancor, bem como, a necessidade obsessiva em ter domínio e aceitação, foi por ela mascarada de paixão.

Em contrapartida, tive o privilégio de observar de perto a mais incrível faceta do amor.

Embora tenha se dado de forma pouco convencional, ou quem dirá, correta, meus pais sempre se amaram muito. Juntos enfrentaram o julgamento do que é certo, e do que é errado, do que é aceitável, e do que não é. Passaram por cima até mesmos dos seus próprios valores. A questão é que, quando se apaixonaram, e entenderam que era amor, enfrentaram tudo e todos por ele. Hoje estou aqui como resultado do fascínio, e do fruto do mútuo sentimento.

Ao contrário do meu tio Jhon, que exposto aos dois exemplos, optou por absorver o da minha vó, e se afastar de tudo que o amor poderia lhe proporcionar, eu escolhi amar e me permitir ser amada.

Me preparei a vida toda para encontrar o homem dos meus sonhos. Não que eu fosse muito velha, ao contrário. Mas no auge dos meus 18 anos, já havia experimentado diversas particularidades, que por sinal, moldaram meus gostos e minha identidade. Eu sabia o que queria, como queria, só não com quem queria.

Agora, com ele a meu alcance, um sentimento parecido com vulnerabilidade, começou a ameaçar meu reinado de certezas.

Assim que entrei no apartamento de Matheus Molina, na noite anterior, sendo o próprio arrastado por mim e meu tio, enquanto o mesmo reafirmava seu amor pela minha mãe , eu quis gritar, chorar e fugir.

Conhecia bem aquela história. Matheus se apaixonou pela dona Lia quando jovens. Ele foi incentivado pela minha vó a se envolver com ela. Mas, ao que tudo indica, o interesse que era pra ser falso, se tornou real. Eles chegaram a ser bem próximos, mas no momento da escolha, o coração dela optou pelo meu pai, Eduardo, até então seu padrasto. Com ímpeto e esperança de lutar por aquele amor, houve uma tentativa de algo a mais da parte dele, só que sem resultados. Então, após ambos terminarem a faculdade, e logo após o casamento dos meus pais, Matheus foi embora para o exterior. Voltava com frequência para visitas curtas, mas nunca se aproximava realmente. Ele, assim como meu tio Jhon, escolheu se fechar.

Sabia quem ele era. Sempre soube, mas foi só quando o vi vivendo, e defendendo o seu amor da forma mais crua possível, foi que o enxerguei.
Me apaixonei instantaneamente.

Seria engraçado se não fosse trágico.
Quando por fim me apaixono, essa pessoa não me convém.


-


- Agora você já pode ir. -Ordenou meu tio, de repente.
Eu o encarei, concentrando-me nele, e em seguida arqueei a sobrancelha.
- Nada disso! Antes dessa confusão começar, o senhor estava com febre. -Pousei a mão sob sua testa. - Por sinal ainda esta. Pode ir, já fez seu papel de irmão e o trouxe até em casa. Ele esta seguro, assim como o carro, que fiz questão de estacionar na vaga certa.

O irmão do meu tioOnde histórias criam vida. Descubra agora