FAZENDO ACONTECER

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Fernanda Sanchez


Cheguei a conclusão, de que se minha vida fosse um conto de fadas, eu nunca seria a Cinderela. Dependendo do dia, poderia ser a fada madrinha com uma agenda apertada, ajudando pessoas diversas a ter o que eu queria para mim, uma história. Em outros, um dos ratos responsáveis por levar a princesa ao baile. Mas que no final, ficava esperando do lado de fora. Entretanto, nessa manhã de sexta-feira, eu era o dragão furioso cuspindo fogo do alto do meu colchão, não por estar sendo acordada meia hora antes do meu horário, mas por estar há dias sendo ignorada.

- Você está me ouvindo Fernanda? - Me olhou, desconfiada.
Revirei os olhos.
- Sim mãe, eu escutei.
Ela riu, e jogou uma almofada na minha cara.
- Mentirosa.
Soltei uma risadinha.
- Tá! Não ouvi nada, pode repetir, por favor?- fiz biquinho.
Foi sua vez de revirar os olhos.
- Eu marquei médico para nós, hoje.
- Porque? Eu não estou doente - á encarei - E pelo que vejo você também não.
- São só exames de rotina. Sabe que gosto de deixar esse tipo de coisa em dia.
Bufei alto, passando ás mãos pelo rosto.
- Odeio fazer exames. Mas já que marcou, né.
Ela se sentou ao meu lado, e me abraçou.
- Te conheço muito bem Filha, e algo me diz, que está precisando de um conselho, certo?
Apoiei a cabeça em seu ombro.
- Certíssima!
- Diga! O que está acontecendo?
- Eu me apaixonei. - Confessei á queima roupas, me inclinando o suficiente para ver sua reação.
Todavia, não parecia estar surpresa. - Você já sabia? - Arqueei as sobrancelhas.
Um sorriso largo surgiu em seus lábios.
- Claro que sabia. A senhorita nasceu de mim, esqueceu? - Acariciou meu rosto com carinho - De longe dá pra ver que está envolvida com alguém. E dessa vez, creio eu, que é amor, não é?
Apenas acendi.
- Suponho que não vai me dizer o nome dele.
- Não!
- Ok! Mas, precisa de ajuda.
- Ele é complicado.
- Como ?
Endireitei a postura, ficando de frente para minha mãe.
- Vamos começar pela questão da idade. Ele é muito mais velho que eu.
- Idade não é um problema. - Abriu os braços - Eu e seu pai somos prova disso.
- É que ... tem uma diferença, maior.
Semicerrou os olhos, mas não disse nada, dando-me a oportunidade de continuar.
- Além disso, ele tem questões pessoais que o deixa teimoso, duro, e ás vezes perdido, sem saber o que quer. - Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha - Mas, o pior de tudo, é o fato dele já estar apaixonado por outra mulher. - Suspirei.
Mamãe regalou os olhos.
- Isso - apontou para mim - é complicação de verdade. Porque se já tem uma pessoa no coração dele, tirar, é um processo doloroso, para você, e para ele. Ás vezes dá certo, outras vezes, não.
- Eu sei - agarrei os cabelos, e os puxei levemente - A questão é que, é ele. Eu o amo, e soube desde a primeira vez que o vi. - Uma lágrima escorreu dos meus olhos.
- Ele sabe que o ama? - Passou a mão pela minha face, limpando-a.
- Eu não disse com todas as palavras, até porque ele vai achar que eu sou louca. Não faz tanto tempo que o conheço. Todavia, eu já deixei MUITO, MUITO, claro meu interesse.
- De algum modo ele deu a entender que poderia sentir algo? - Buscou saber mais.
Apertei a nuca, e relembrei alguns momentos.
- Teve momentos em que eu senti, que já havia algo.
Meu rosto foi segurado delicadamente por duas mãos quentes, e aconchegantes.
- Então, há esperanças de ter sentimentos. Não desista! Se no seu coração, sentiu que estava sendo retribuída, lute!
Me joguei de costas sob o o colchão, fazendo-o balançar.
Fitei o teto em silêncio por um minuto.
- Ele não quer que eu lute. A propósito, está me ignorando há dias. - Lamentei - Eu não passo de uma distração, ou de um erro.
De um pulo, Minha mãe se levantou, agarrou meus ombros e me fez sentar.
- Escute aqui Fernanda Sanchez, se sente que esse homem pode amá-la do jeito que merece, e do jeito que sonhou em amar alguém, persista! Está ouvindo? O amor não acontece duas vezes, por isso não podemos nos dar ao luxo de perde-lo, não sem ter lutado até o último suspiro. Agora, se não for correspondida, e tiver certeza disso, ai sim, retire-se sabiamente, sem se rastejar. - Me soltou, e deu as costas, indo em direção á porta. - Estamos estendidas? - Questionou, sem direcionar os olhos á mim.
- Sim! - Respondi com confiança.
- Perfeito! Nos encontraremos na faculdade para ir ao hospital santa Luzia. - Decretou, antes de ir embora, dando o assunto anterior como encerrado.

O irmão do meu tioOnde histórias criam vida. Descubra agora