DANDO A PARTIDA

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Matheus Molina


Abri os olhos e me sentei. Havia uma bela mulher nua na cama comigo, e eu sequer recordava seu nome, ou como ela havia parado ali. Estava em um bar, comemorando o aniversário de um dos enfermeiros do hospital. Não gostava de beber até perder os sentidos, mas já era a segunda vez naquela semana que fazia aquilo. Algumas lembranças me atormentavam como duas mulheres sentadas no meu colo, beijando-me, enquanto a imagem de Lia e Fernanda se mesclavam na minha mente.


Desde que provei dos lábios de Lia, toda vez que ficava com outra mulher, imaginava ela ali, mas dessa vez Fernanda também veio á meus pensamentos, e isso me assustou. Por isso, comecei a beber sem parar. A mulher ao meu lado se moveu puxando o cobertor e então uma segunda mulher, tal como recordava, surgiu com os seios desnudos.

Revirei os olhos, impaciente comigo mesmo. Não que transar com duas belas mulheres fosse algo ruim, ou que não estivesse acostumado a fazer tal coisa , mais o motivo, dessa vez, era perturbador.

Me levantei, e peguei minhas roupas, que estavam espalhadas pelo chão do quarto, junto com os vestidos das mulheres ainda adormecidas. Estava tudo uma bagunça.

Com cuidado, me arrumei, e em pleno silêncio, olhei por cima do ombro e as vi se movendo, estavam acordando. Sai do quarto rapidamente, e fechei a porta. Como sempre, não deixei meu telefone, muito menos me despedi.

Diferente do dia em que Fernanda estava no meu apartamento, o cheio daquelas mulheres estavam me enjoando. E ali estava ela de novo. Não entendia porque pensava tanto em Fernanda. Seria porque é ela filha da Lia? Mas, se fosse isso, porque nunca antes pensara nela?

De mal- humor, segui meu caminho passando pelo recepcionista do motel e pagando-lhe a diária, e também deixando um bom dinheiro á mais, caso as mulheres que me acompanhavam precisassem de algo. Por sorte, encontrei um uber facilmente, e fui para casa.

Fiquei no meu apartamento tempo suficiente para me recompor e me arrumar para voltar ao trabalho.

Fiz minhas obrigações do dia totalmente alheio ao meu mundo, e isso não costumava acontecer.

Dado um momento, Vinícius, meu amigo e companheiro de profissão, desviou o olhar para mim e sorriu, fechando a porta do consultório atrás de si.

- O que foi ? - Perguntei, enquanto preenchia um formulário em minha mesa.
- Vejo que a festa de aniversário do Marcos foi proveitosa. - Comentou com maldade.
- Vá para o inferno. - Devolvi, colocando a prancheta de lado. - Foi só um lapso.
- Não se martirize - Se aproximou enquanto sentava-se á minha frente. - Pelo menos dessa vez, você não foi parar na casa de uma mulher casada, e nem levou uns socos por isso.
Ele amava me irritar, e sempre conseguia. 

- Você não tem um consultório próprio ? - perguntei na tentativa de me desfazer dele.
- Esta me expulsão doutor Molina ? - sorriu descaradamente
- Que seja! - exclamei, ao fazer uma careta de desgosto.
- Vai, eu sei que quer me contar o que aconteceu.
- Porque acha isso ? - franzi a testa em desafio.
Ele cruzou as pernas e juntou as mãos.
- Vejamos. Ontem você bebeu todas, e começou a chamar a Veronica de Fernanda, e a Marcela de Lia. Depois, saiu com elas, não atendeu mais o celular e hoje apareceu com essa cara de cachorro morto. - Fez uma pausa. - Sem contar os suspiros longos que vem dando desde o começo da semana.

Inferno! Aquele patife me conhecia bem, e parecia estar me observando com minúcia. 

- Eu te odeio sabia ? - Levantei a sobrancelha, me dando por vencido.
- Sei que me ama, não se preocupe. Diga, o que lhe perturba?

Joguei meu corpo sob a cadeira.

- Dessa vez, enquanto estava com as moças, Veronica e Marcela, como bem me lembrou, não pensei só na Lia. - Vinícius me olhava com atenção. - Também pensei na Fernanda, a filha dela.
- Aquela que cuidou de você no fim de semana, depois de ter se humilhado ?
O fuzilei por me fazer lembrar do ocorrido.
- Isso! - respondi a contra gosto.
- Bom ... eu já vi fotos dela na internet. Apesar de novinha, é muito linda, e costuma chamar atenção por onde passa. - Me encarou novamente. E então algo se acendeu em seus olhos, e sorriu.
- O que foi ?
- Você se sentiu atraído pela Fernanda, não é ?
- O que ? claro que não.
O desgraçado começou a rir.
- Cara, toda vez que esta mentindo sua voz sobe uma oitava. Como agora.
Era a segunda vez no dia que revirava os olhos.
- Me deixa em paz! - esbravejei.
- Não até admitir.
Mordi os lábios, odiando-me.
- Então ... - insistiu, enquanto me olhava com cara de otário.
Respirei fundo.
- Ela é só uma criança. - soltei, e me levantei - Não estou atraído. Só confuso, porque não esperava reencontrar a filha da mulher que amo, com o homem que odeio, deitada na minha cama. Só isso.
Com os olhos semicerrados, me seguiu.
- Ela é nova, mas já é maior de idade. E mesmo dizendo que não, eu acho que a garota mexeu com você de outra forma. - Passou por mim e abriu a porta - Te conheço á anos, e sempre confidenciou-me que pensava em Lia, e somente nela enquanto estava com outras mulheres, e que por isso, nunca mergulhou em um relacionamento. O fato da Fernanda ter se infiltrado nesse santuário, pode querer dizer algo.  - Sorrindo com as próprias palavras, foi embora.

O irmão do meu tioOnde histórias criam vida. Descubra agora