Capítulo 17.

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O trem andava em uma velocidade razoável,nós ainda não havíamos saído da cidade,depois que terminamos de comer ficamos conversando e apreciando a vista. David me distraia com diálogos engraçados,mas meu pensamento estava distante...

— Ei,você ouviu o que eu acabei de dizer?. — David chama a minha atenção.

— Palavras... — Faço uma expressão engraçada.

— Tinha vogais?. — O garoto entra na brincadeira.

— Como se faz uma frase sem vogais?. — Sorrio.

...como dois bobos caímos na gargalhada...

— Você tem um sorriso bonito. — Ele fala diretamente.

— O que?...meus dentes são separados,não tem nada de bonito aqui.

— É aí que você se engana.

— De qualquer forma agradeço o elogio.

...e ele novamente insiste em olhar em meus olhos,mas dessa vez parecia querer disfarçar...

— O que foi?. — Pergunto ainda sorrindo.

— Nada,eu...sei lá...as vezes tenho esse costume irritante.

— Isso não me irritou.

— ...estamos indo rumo ao desconhecido,como se sente sobre isso?. — David muda de assunto.

— Eu não tenho muita certeza do que sentir,tá tudo acontecendo tão rápido...terremotos,mortes,poderes... — Solto um suspiro — Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo e eu ainda não enlouqueci.

— Você é bem forte.

— Forte?...tudo que eu faço é criar uma luz própria.

— Não se esqueça dos raios.

— Ah é,isso também. — Movimento os ombros.

— Mas eu tô falando da sua força interior.

— Acho que eu adquiri quando minha mãe faleceu. — Encaro o vazio.

— E como era ela?.

— Minha mãe era uma mulher incrível. — Explico com os olhos cheios de lágrimas — Brincalhona,as vezes séria,misteriosa,empolgada...não tenho nem palavras.

— Entendo.

— Ouve um período em que minha mãe ficou muito doente..."não tenha medo de viver"...era o que ela dizia.

Infelizmente não deu para segurar o choro,envergonhado tento disfarçar escondendo o rosto. David gentilmente passa a mão na minha bochecha enxugando o rastro da lágrima,agora foi minha vez de olhar fundo em meus olhos.

— Ela está certa. — Digo me recuperando — Não posso ter medo da vida...nem do que sou.

...

Quando saímos da cidade já dava para contemplar aquela paisagem verdejante,era como se eu estivesse na janela do ônibus em uma daquelas viagens que costumava fazer. David e eu paramos de conversar por um tempo e ficamos apenas observando os lugares por onde o trem passava,as vezes a gente ficava se olhando sem motivo algum,inevitavelmente eu sorria quando isso acontecia.

— Onde vamos passar a noite quando chegarmos lá. — Pergunto olhando o horizonte.

— Não tenho ideia...podíamos dormir aqui,mas eles sempre verificam os vagões.

— Me sinto em um apocalipse zombie. — Comento sorridente — No lugar dos zombies são as pessoas que querem nos pegar.

— Sabe,nós poderíamos acampar no bosque.

— No bosque?.

— Pico-do-Anjo é uma cidade pequena,depois dela é só estrada então pensei em montarmos um acampamento no bosque. — Ele explica — Estaremos mais seguros longe da civilização.

— E se algo der errado David?.

— Usamos nossos poderes.

— Acampamento no meio do nada?... — Penso um pouco.

— Você confia em mim,certo?.

...David me encara com tanta confiança no olhar que era impossível negar...

— É,pode ser legal. — Respondo.

— Eu tenho uma barraca aqui em algum lugar. — Ele mexe na mochila.

— Barraca?.

— Aqui. — O garoto mostra um saco laranja — Não deu para trazer um cobertor,tô sem espaço.

— Sério isso?.

— Ser organizado é uma dádiva meu amigo,não sou um garoto de rua qualquer.

— Você falou em usar os poderes para se proteger,certo?. — Falo encarando minhas mãos.

— Eu sei que você não quer chamar atenção então é em caso de emergência.

— Fico mais aliviado.

— Erick,quando chegarmos lá ninguém vai nos parar.

Aquele drama misturado com aventura dava um novo significado em tudo,negativamente e positivamente,tudo ao mesmo tempo. O meu "eu" do passado nem sonhava com isso,mas quem realmente está preparado para a vida?.

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(Continua No Próximo Capítulo)

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