Capítulo 14.

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Ao acordar demoro um pouco para entender o que estava acontecendo,mas a lembrança do dia anterior vem em questão de segundos. O dia estava nublado,muito mais do que ontem,também fazia frio...para mim isso não se parecia com um domingo.

— David?. — Chamo pelo garoto.

...ele simplesmente havia sumido...

Estando sozinho fecho os olhos e respiro fundo,embora parecesse que eu tivesse superado a ausência dos meus avós isso não significava nada. Eles fazem falta e isso não dava para simplesmente negar...

— Erick,você acordou,que bom. — Diz David entrando no terreno.

— Me deixou sozinho aqui?. — Pergunto indignado.

— Foi,mas...

— Ficou maluco? e se alguém tivesse entrado?.

— Erick,ninguém entraria aqui. — Ele se aproxima de mim — Aliás eu tive que voltar na casa para pegar isso.

...David me mostra uma camisa verde musgo,de mangas compridas e capuz...

...ele também usava uma parecida,porém essa sendo vermelha clara com listras escuras...

— Você precisa trocar sua camisa,assim tem menos chance de alguém te reconhecer.

— Onde conseguiu?.

— Uma mulher me deu algumas roupas velhas dias atrás...somos do mesmo tamanho,acho que cabem em você. — Ele me entrega a camisa.

— Visto quando a gente sair. — Solto um suspiro.

— Ontem os policiais não paravam de te encarar,eu não queria te levar comigo e correr o risco de,bom...você sabe.

— De qualquer forma estou feliz que tenha voltado. — Mostro um sorriso.

...naquele momento minha barriga começa a roncar de forma incoveniente...

— Tem um bicho aí dentro?. — David começa a rir.

— Meu estômago tem vida própria,não tenho culpa. — Movimento os ombros — O que você tem aí é suficiente para nós três?.

— Três?. — Ele questiona.

— Talvez até mais...

— Tubo bem,nós podemos ir a uma lanchonete aqui perto...eu tenho uns trocados.

— Tem certeza?.

— Claro,guarde seu dinheiro para outra ocasião.

— Certo... — Caminho até a saída.

— Erick.

— Sim?.

— A camisa.

— Ah,certo...eu tinha esquecido.

...eu também teria que falar com David sobre a minha ideia de ir até meu pai,só espero que ele aceite vir comigo...

...

Lá fora ainda se podia ver um pouco da destruição causada pelo terremoto,mas felizmente tudo parecia bastante estável. Eu conhecia aquela parte da cidade,mas nunca havia andado naquela região,mercearias e lanchonetes eram bem abundantes por ali. Devido a pouca circulação muitos estabelecimentos estavam fechados.

— É aqui. — David entra em uma lanchonete.

...o lugar humilde,mas bem arrumado,me transmitia uma sensação de nostalgia...

— Que tal uma xícara de café e um pãozinho francês?. — Ele sugere.

— Por favor. — Me animo.

— Procura um lugar legal,eu já vou indo.

Enquanto David falava com o senhor de trás do balcão eu escolho a mesa do canto para sentar. A camisa que David me deu serviu muito bem em mim,o frio já não incomodava mais,infelizmente tive que me desfazer da outra.

Pego meu celular e fico encarando as últimas mensagens que meus amigos me enviaram antes do terremoto,como ali não havia acesso a internet não dava para saber se tinha novas conversas...

— Prontinho. — Diz David trazendo uma bandeja com o nosso café da manhã.

— Você já veio aqui antes?.

— Claro. — Ele se senta na cadeira à minha frente — Eu conheço o dono.

— Será que ninguém desconfia de dois garotos sem teto andando por aí em pleno domingo de manhã?.

— As pessoas geralmente nos ignoram,se eu fosse você não me preocuparia com isso.

— E depois daqui,você pretende ir a algum lugar?. — Pergunto.

— Eu...não sei.

— Meu pai mora em Penhascos-Altos,acho que seria uma boa ideia se a gente fosse até lá e...

— Erick,essa cidade fica a quilômetros daqui,não temos dinheiro suficiente para comprar as passagens. — David solta um suspiro — Afinal o que seu pai iria dizer se visse a gente lá?.

— É,teríamos que conversar um pouco. — Respondo pensativo — Mas eu garanto que ele não iria nos negar ajuda.

— É claro que não,você é o filho dele...eu meio que fico sobrando nessa história.

— Confia em mim David,vai ser bom para nós.

— Eu confio,só não na possibilidade.

— Você tem outro plano então?. — Cruzo os braços.

— É claro que não,mas eu tenho medo. — Ele encara o vazio — Você é a única pessoa que...bom...está aqui comigo,só não quero acabar sozinho de novo.

— Se vier comigo não vai estar mais. — Sorrio.

...naquele instante David começa a pensar...

— Ótimo...

— Isso foi um sim?. — Me empolgo.

— É,foi...

— Beleza — Comemoro.

Eu entendo a preocupação de David,mas não vejo outra alternativa para nós,tudo que nos resta a fazer agora é planejar nossa ida até Penhascos-Altos. Meu pai disse que sempre estaria do meu lado e é nisso que quero acreditar...

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(Continua No Próximo Capítulo)

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