Prologue

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Hawkins, Indiana
09 de Setembro de 1979

Jim Hopper odiava o Halloween, e isso considerando que ainda nem haviam entrado no mês de Outubro.

Quer dizer, odiar era uma palavra muito forte, ele simplesmente não suportava ver as crianças correndo atrás de doces, fantasiadas e sorrindo como se o mundo fosse um eterno passeio na Disney. Apenas a sensação de que essa época do ano se aproximava já o deixava extremamente nervoso.

Sua vida nem sempre foi assim, no entanto. Tudo havia mudado desde o falecimento de sua filha Sara, de apenas oito anos. Sara amava o Halloween, o que fazia Jim amar ainda mais. A realidade de que Sara nunca mais iria se fantasiar ou pedir doces se tornava mais dolorosa a cada segundo, então Jim fez a única coisa que parecia certa: entrou em sua caminhonete e dirigiu na maior velocidade possível até sua cabana para afogar suas tristezas em álcool e cigarros, como de costume.

Enquanto dirigia pela parcialmente iluminada e deserta estrada que o levaria ao conforto e solidão de sua cabana, escutando You Don't Mess Around With Jim, de Jim Coce, e batucando levemente no volante no ritmo da música, Hopper avistou uma figura pequena saindo da escuridão da floresta e caindo no chão. Instintivamente, o delegado freou sua caminhonete, se questionando internamente se estava ficando louco, se havia bebido demais ou se realmente havia visto uma criança saindo da floresta.

Desistindo de tentar entender se sua mente estava pregando uma peça ou não, Jim saiu da caminhonete, prendendo a arma na calça, segurando a lanterna em uma mão e o rádio na outra. Não fechou a porta, apenas por precaução, e caminhou a passos largos até a suposta criança, observando atentamente ao redor para ver se havia mais alguém ali. Contudo, a estrada e a floresta continuavam silenciosas, e as únicas almas vivas eram Jim Hopper e a criança caída na terra fria. "Pelo menos não estou ficando louco", pensou ele, se aproximando da criança e abaixando até poder vê-la melhor.

A menina aparentava ter entre dez e doze anos, parecia frágil e tinha alguns machucados visíveis nos braços, como se tivesse corrido pelo meio da vegetação. Sua respiração era fraca e sua pele estava pálida, então Jim percebeu que ela provavelmente estava sofrendo uma hipotermia. Embora ainda estivessem no outono, o frio em Indiana era rigoroso, e para alguém usando apenas um pijama fino de mangas curtas e andando no início da noite pela floresta uma hipotermia não era um cenário tão impossível.

O único questionamento que passava pela mente de Jim Hopper enquanto levava a criança nos braços para dentro da caminhonete era o que diabos ela estava fazendo sozinha na floresta, usando pijamas e meias amarelas de abelhinhas. Jim arrumou a menina no banco traseiro, colocando seu casaco pesado sobre ela para aquecê-la o máximo possível, então ligou o carro e pisou fundo no acelerador, ligando a sirene da polícia para que ninguém se atrevesse a entrar na sua frente durante o trajeto até o Hospital de Hawkins.

Hawkins, Indiana
12 de Setembro de 1979

Jim Hopper recebeu a ligação que mais havia esperado nos últimos dias: a criança desconhecida finalmente havia recobrado a consciência.

Ele não sabia explicar o motivo de se sentir tão ansioso para descobrir mais sobre a menina, quem ela era, qual era seu nome e principalmente como foi parar no meio da floresta sozinha naquele clima frio. Com cautela para não assustá-la, Jim deu dois toquinhos na porta aberta do quarto do Hospital de Hawkins e esperou que a menina o olhasse.

Instantaneamente, a criança virou a cabeça na direção do chefe de polícia, com os olhos castanhos e assustados arregalados, as pupilas dilatadas e os lábios levemente entreabertos. Ela estava apavorada e Jim não a culpava, mas pelo menos seus machucados estavam cicatrizando e sua pele já havia voltado ao tom normal.

— Não vou machucá-la — assegurou Jim, levantando as mãos no ar em rendição. — Meu nome é Jim Hopper, eu sou o chefe de polícia de Hawkins — Jim levou a mão ao peito, os olhos fixos no rosto da menina. — Qual é o seu nome?

Jim achou que ela não iria responder, mas uma voz assustada e baixa preencheu o ambiente.

— Jo... Joanna — respondeu ela, apreensiva. — Você é o policial que me achou? — Joanna engoliu em seco e se aninhou no cobertor, mas não demonstrou estar desconfortável com a presença de Hopper.

Aproveitando a deixa, Jim entrou um pouco mais no quarto, se mantendo a uma distância segura da cama.

— Sim, sou eu. — Jim tirou o chapéu e passou a mão pelo cabelo, arrumando-o. — Você sabe seu sobrenome, Joanna? — indagou, esticando os lábios em um pequeno sorriso solidário. Joanna meneou a cabeça negativamente. — O que você pode me dizer sobre você?

— Eu tenho doze anos — respondeu Joanna, dando de ombros.

— Ótimo! E os seus pais? Pode me falar sobre eles?

Durante os três dias que sucederam o início do mistério sobre Joanna, Jim Hopper ficou esperando pais desesperados chegarem na delegacia, folhetos com o rosto da pequena menina, mas tudo parecia normal em Hawkins. Não havia sinal de uma criança desaparecida ou sequestrada. Ninguém estava procurando por Joanna.

— Meus pais... — Os olhos de Joanna se encheram de lágrimas e ela apertou o cobertor com mais força. — Eles estão mortos.

As palavras sussurradas e amedrontadas de Joanna pegaram Jim de surpresa, fazendo-o tombar o corpo para trás, como se tivesse sido atingido por um soco na boca do estômago.

— O que? Você tem certeza do que está falando? — Jim tentou soar calmo, mas de repente suas mãos ficaram suadas e geladas, e sua nuca arrepiou sem motivo aparente.

— Sim, senhor. O homem ruim... Ele matou mamãe e papai... Ele matou todos eles... — Lágrimas rolaram pelo rosto delicado e assustado de Joanna. — Eu corri porque estava com medo.

— Onde esse homem atacou os seus pais? Foi na sua casa? — Jim não queria fazer perguntas demais para não deixar Joanna com ainda mais medo, mas precisava saber o que diabos estava acontecendo. E porque ninguém reportou um maldito homicídio.

— E-eu não me lembro direito. — A voz de Joanna começou a tremer, então Jim fez a única coisa que passou por sua mente: sentou na cama e segurou a pequena mão de Joanna, tentando tranquilizá-la ao perceber o quanto a situação a havia deixado traumatizada.

— Está tudo bem, querida, não se esforce. Sabe me dizer onde você mora com seus pais? — Uma informação para começar a investigar era, definitivamente, melhor do que nenhuma.

— Trailer. Nós moramos no parque de trailers. — Joanna fungou, sentindo as mãos pararem de tremer ao se sentir segura com Hopper.

— Certo, obrigado por isso. Eu vou investigar, tudo bem? Enquanto isso, você vai ficar aqui com um policial de confiança. — Jim se esforçou para esboçar um fraco sorriso. — Você está segura agora, Joanna.

Joanna assentiu, se aconchegando novamente no travesseiro quando Jim levantou e saiu.

— Não tire os olhos dela, ouviu? — ordenou Hopper ao policial que o havia acompanhado. — Vou precisar ir até o parque de trailers ver o que encontro sobre essa garota. Espero que alguém conheça uma menina de doze anos chamada Joanna.

— Se tem alguém que vai conhecê-la naquele lugar é o velho Wayne Munson. Ele mora lá com o sobrinho desde sempre. O garoto deve ter a mesma idade dela — explicou o policial, sentado na cadeira ao lado da porta.

Jim assentiu em agradecimento pela informação valiosa e colocou novamente seu chapéu. Precisava descobrir o mistério sobre Joanna e seus pais. E precisava da ajuda de Wayne Munson, e muito provavelmente de seu sobrinho, Eddie.

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