Chapter Four: Run To The Hills

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Hawkins, Indiana
07 de Novembro de 1984

Joanna Hopper não saiu da cama naquele dia.

Para Jim Hopper, a filha estava sentindo muitas cólicas e dor de cabeça, e isso foi o suficiente para que o delegado não insistisse que a garota fosse para o colégio.

Para Eleven, Joanna estava indisposta por coisas de mulheres mais velhas, algo que ela não entendia muito bem ainda, mas que sabia que a irmã sentia todos os meses.

Mas a verdade era que, como a boa covarde que era, Joanna estava se escondendo. Se escondendo dos problemas familiares com Jim e El, do olhar decepcionado de Steve Harrington, da provável conversa que deveria ter com Billy Hargrove e até mesmo de Eddie Munson — mas, para isso, ela não tinha um motivo plausível.

Sendo assim, Joanna fez a única coisa que poderia ajudá-la a sair da realidade: assistiu à trilogia de Star Wars, comeu doces e ficou deitada usando apenas uma camisa maior do que ela com uma estampa do Iron Maiden.

Em algum momento, entre O Império Contra Ataca e O Retorno de Jedi, Joanna colocou seus sentimentos em palavras ao escrever alguns versos de uma música — que provavelmente nunca mostraria a ninguém. E, ao final do terceiro filme, por conta dos analgésicos que tomou para a enxaqueca, Joanna se permitiu dormir um pouco. Tinha certeza que Luke Skywalker e Darth Vader a perdoariam por isso.

Contudo, seu sossego não durou muito.

Em seus sonhos, retornou às suas memórias mais sombrias, como se sua mente tentasse pregar peças. Via as paredes brancas, que em seguida estavam manchadas de vermelho sangue. Via o desespero nos olhos de seus pais e ouvia nitidamente seus gritos, ordenando que ela corresse o mais rápido que conseguia. Via aqueles olhos azuis malignos, tão profundos e sem vida, como se o mal habitasse ali há muitos anos.

De repente, Joanna não era mais uma criança. Era a jovem de dezessete anos usando a blusa do Iron Maiden, as paredes já não eram mais brancas, tamanha era a quantidade de sangue ali. No chão, jaziam os corpos sem vida de Jim Hopper, Eleven, Steve Harrington, Billy Hargrove, Eddie Munson, Joyce e Will Byers — quem Joanna considerava família.

No mesmo instante, o ar faltou em seus pulmões, seu coração acelerou e suas mãos ficaram geladas. A cena mudava, como uma televisão quebrada, ora seus pais estavam mortos, ora sua nova família estava morta. A única coisa que permanecia a mesma era que Joanna não foi capaz de salvar nenhum deles. A covarde e fraca Joanna. Ela nunca conseguia impedir o mal de se aproximar, com seus olhos azuis convidativos. Talvez Joanna fosse o mal.

Suada e ofegante, Joanna acordou de supetão, gritando como se sua vida dependesse daquilo. Demorou mais tempo do que ela gostaria para finalmente se situar que estava na cabana, em segurança, deitada na sua cama. Os créditos do filme ainda passavam na televisão, a folha amassada em que escrevera os versos ainda estava ao seu lado na mesinha de cabeceira.

A porta abriu em um estrondo que fez Joanna quase saltar da cama, então Eleven entrou correndo, em completo desespero.

— Você está bem? Eu te ouvi gritando! — Eleven chocou seu corpo ao da irmã, abraçando-a com toda a força que conseguiu reunir.

— E-eu... — Joanna tentou falar, mas sua garganta estava seca e as lágrimas não paravam de molhar seu rosto. — Eu tive um pesadelo — respondeu, simplesmente, com a voz embargada.

— Com seus pais? — indagou a mais nova, com o rosto encostado no peito de Joanna, que começava a respirar um pouco melhor.

Desde que foi morar na cabana de Hopper, Eleven sabia que Joanna às vezes tinha pesadelos envolvendo seu passado, mas dessa vez tinha sido aterrorizante. Era como se alguém estivesse na mente de Joanna a torturando de dentro para fora.

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