Capítulo 13

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DONATO SAVÓIA

A mansão do meu pai, com suas paredes de mármore e corredores intermináveis, sempre foi um lugar onde me senti preso. Não pela riqueza e poder que ela simbolizava, mas pela sombra de expectativas e tradições que carregava. Naquela tarde, enquanto eu percorria os corredores, tentava não ser visto. Irina estava comigo, e eu sabia que isso causaria um tumulto.

Meu pai, sempre informado de tudo, já devia saber de sua chegada. A bratva já havia enviado homens para procurá-la. Eu estava preparado para enfrentar as consequências, mas isso não tornava a tarefa menos assustadora. O peso das paredes parecia aumentar a cada passo que eu dava.

Quando finalmente estava a poucos metros da saída, ouvi meu nome sendo chamado com a autoridade que só meu pai podia invocar. Senti um calafrio percorrer minha espinha. Respirei fundo e me virei, seguindo em direção ao escritório. Ao entrar, vi que ele não estava sozinho. Sebastian e Armando, estavam lá. Pra que? Eu não sei, estava nítido que não moveriam um dedo pra salvar meu rabo.

Meu pai, um homem de estatura fria e olhar severo, levantou-se da cadeira com um ar de fúria contida.

— Onde você estava com a cabeça, Donato? — sua voz ressoou pela sala. — Trazer Irina para a Itália é a maior loucura que você já fez!

Por um momento, o silêncio tomou conta do ambiente. O som de um relógio de parede era a única coisa que quebrava a tensão. Respirei fundo, tentando manter a calma. Enquanto Armando parecia se divertir demais.

Canalha

— Pai, eu amo Irina. Não podia deixá-la em perigo. — minha voz soou firme, embora eu sentisse meu coração acelerado.

— Amor? — ele quase cuspiu a palavra, como se fosse um veneno. — Você sabe o que está em jogo? Sebastian, Armando, deixem-nos a sós.

Os meus irmãos saíram, em contragosto, deixando a sala ainda mais opressiva. Meu pai se aproximou, os olhos ardendo de raiva.

— Donato, você não entende. — ele começou a andar de um lado para o outro. — Irina não pode ficar escondida para sempre. Temos um almoço de família neste domingo. Todos estarão aqui. Como você pretende escondê-la?

Eu sabia que ele estava certo. A família toda se reuniria, e esconder Irina seria quase impossível. Mas minha decisão estava tomada.

— Pai, sei que é arriscado, mas não posso abandoná-la. — Encarei-o, tentando demonstrar a convicção em meus olhos. — Se ela for descoberta, enfrentaremos juntos.

— Você é louco! — Ele gritou, batendo com o punho na mesa. — Louco de amor, como nunca vi. Essa mulher... ela é o seu calcanhar de Aquiles.

A fúria em seu olhar começou a diminuir, sendo substituída por uma espécie de resignação.

— Você realmente a ama, não é? — sua voz estava mais baixa agora, quase um sussurro.

— Sim, pai. Com toda a minha alma. — respondi sem hesitar.

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo grisalho.

— Está bem. — disse, finalmente. — Faremos o possível para mantê-la escondida até o domingo. Depois disso, teremos que decidir o que fazer. Mas me diga, de quê caralhos você está querendo a proteger?

A tensão no ar parecia ter diminuído um pouco. Meu pai, apesar de toda sua rigidez, começava a entender a profundidade dos meus sentimentos por Irina.

— Aquele ataque no shopping... não foi atoa, pai. Tenho a impressão que estavam lá com um propósito, e esse era pegar Irina.

—Você sabe o que isso significa, não sabe? — ele perguntou, com um olhar de preocupação.

— Sei, pai. E estou disposto a enfrentar qualquer coisa por ela. Irina pode não precisar que eu a defenda, mas farei isso,
mesmo que não queira. — respondi.

Ele assentiu lentamente, como se estivesse aceitando uma verdade inevitável.

— Muito bem. Vá agora. E cuide dela. — sua voz, ainda que severa, carregava uma nota de compreensão.

Saindo do escritório de meu pai, senti uma mistura de alívio e tensão. Havia muito a ser feito para garantir a segurança de Irina até o domingo, mas ao menos meu pai estava disposto a ajudar. Caminhando pelos corredores, encontrei Sebastian e Armando, que pareciam estar esperando por mim.

— Então, o que o velho disse? — perguntou Sebastian, com um sorriso malicioso.

— Deixe-me adivinhar — Armando interveio, cruzando os braços. — Ele ficou furioso, mas no final cedeu porque você o venceu pelo cansaço?

— Algo assim — respondi, rindo. — Ele não está nada feliz, mas concordou em ajudar a esconder Irina até o domingo.

— Ah, o almoço de domingo — Sebastian suspirou dramaticamente. — Mal posso esperar para ver a cara de todos quando descobrirem que você trouxe Irina para cá. Vai ser um espetáculo. Jane irá surtar!

— É, mas a verdadeira diversão vai ser tentar esconder ela até lá — retrucou Armando, rindo. — Quem sabe você não a esconde na cozinha? Aposto que ninguém pensaria em procurar lá.

— Só se eu quiser que ela seja sequestrada por chefes de cozinha italianos armados com colheres de pau — brinquei, fazendo-os rir.

Enquanto continuávamos conversando e rindo, Matteo, nosso primo mais novo, passou por nós. Ele estava com um tablet na mão e parecia bastante tenso.

— Ei, Matteo! — chamei. — Por que essa cara séria? Parece que viu um fantasma.

Matteo parou e olhou para nós, claramente preocupado.

— Acabei de receber uma informação preocupante — disse ele, ajustando o cabelo loiro com os dedos — Há japoneses na região sudeste da Itália.

— Japoneses? — perguntou Sebastian, franzindo a testa. — O que eles estão fazendo aqui?

— Isso é exatamente o que estou tentando descobrir — Matteo respondeu. — São homens da Yakuza, e parecem estar investigando algo.

— Isso não é bom — disse Armando, cruzando os braços. — Não precisamos de mais problemas agora. Já temos os Russos, os Australianos e os Turcos! Agora a porra da Yakuza?

— Precisamos descobrir o que eles querem e por que estão aqui — acrescentei, sentindo a gravidade da situação. — Matteo, você pode continuar investigando e nos manter informados?

— Claro — disse Matteo, acenando com a cabeça. — Vou ver o que mais consigo descobrir... Ah, fiquem alertas!

— E não se esqueça de descansar, primo — brincou Sebastian. — Não queremos que você desmaie de exaustão no meio da investigação.

— Vou tentar, mas não prometo nada — respondeu Matteo, rindo um pouco antes de sair.

— Então, além de um almoço de família cheio de tensão, agora temos a Yakuza para nos preocupar — disse Armando, balançando a cabeça.

— Perfeito — suspirei. — Parece que nunca temos um momento de paz.

— É por isso que adoramos a vida na máfia, não é? — brincou Sebastian, dando-me um tapa nas costas. — Sempre algo emocionante para lidar.

O Insolente - Nova Era 4 - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora