Sinval desceu as escadas furioso e, quando chegou até Neuta, a segurou pelo braço, arrastando-a na direção de seu escritório. A dama protestou contra seu gesto rude tentando ao máximo se soltar.
- Me solta, Sinval! - ela ordenou, em vão. - Você tá me machucando! - com certeza ganharia uma marca roxa devido a força com a qual ele apertava seu braço.
Mazé, que presenciou a cena, até tentou impedir, mas o homem a advertiu com o olhar para não se intrometer. Assim que entrou no recinto, ele trancou a porta e jogou Neuta na poltrona mais próxima. Ela sentiu a dor da pancada, entretanto, não esboçou reação para não dar esse gostinho para ele.
- Agora você vai me explicar direitinho onde diabos você se meteu! - o tropeiro gritou descontrolado e Neuta se levantou, não agiria como uma gatinha assustada. Ficaria de igual para igual com seu algoz, se abaixasse a cabeça, a situação ficaria pior para o seu lado.
- Não lhe devo explicação nenhuma! - ela vociferou tomando certa distância dele para sua segurança.
- Sim, você me deve sim! - ele apontou o dedo para ela. - Eu sou seu marido e você tem que me dar satisfação de tudo o que você faz! - Sinval exigiu perdendo a compostura por completo.
- Ser meu marido não lhe dá o direito de me tratar como um objeto! - diz exasperada. - Você não é meu dono!
- Vou perguntar mais uma vez: onde você estava? - o fazendeiro tinha uma feição alucinada ao se aproximar da esposa. - O que seu carro fazia abandonado no meio da estrada?
A mulher questionava-se como podia ir do paraíso ao inferno em tão pouco tempo. Num momento, estava aos beijos com seu peão e no outro, aos gritos com seu odioso marido. Ela precisava dar um jeito de sair dalí antes que as coisas ficassem violentas demais. Engolindo em seco, Neuta respondeu a pergunta do cônjuge, ocultando a parte em que Dinho a ajudou.
- O maldito do meu carro parou de funcionar por falta de gasolina! - ela falou exasperada. - Saí a procura de alguém que pudesse me ajudar. Começou a chover e por sorte encontrei o Tião pelo caminho e ele me trouxe para casa. - ela fez uma nota mental de combinar com o filho de Mazé para que ele confirmasse sua versão. Não gostava de colocá-lo no meio daquela história, mas o traste tinha confiança nele. Sinval a fitou desconfiado, pois sentia que ela não estava lhe contando tudo. Ele conhecia muito bem sua mulher, sabia quando estava mentindo.
- Por quê eu não consigo acreditar em você? - questionou a encarando.
- É só perguntar pro Tião, ele vai confirmar tudo! - diz sem perder a pose, não podia demonstrar fraqueza diante dele.
- Você tá mentindo pra mim, sua vadia! - Sinval berrou e avançou contra ela, agarrando-a pelos ombros. - Eu exijo que me diga com quem você estava. Não vou tolerar ninguém tocando em você!
- Eu já disse o que aconteceu! Se você não acredita o problema é seu! - ela gritou tentando se desvencilhar dele.
- Você tem um amante, não tem sua vagabunda? - o homem a sacodiu apertando ainda mais os braços dela.
- Você tá delirando seu maluco desgraçado! - Neuta gritou de volta.
- Olha aqui, se eu descobrir que você tem um amante, eu mato ele! Você me entendeu? - berrou possesso, a expressão de seus olhos era desvairada. - Eu mato o canalha que ousar encostar um dedo em você! - Neuta sabia que aquela ameaça era verdadeira e naquele momento temeu pela segurança de Dinho. Sua intenção de encontrar com ele para continuar o que não terminaram no estábulo, caiu por terra. Não arriscaria a vida dele por um breve momento de luxúria. - Você é minha! Tá me entendendo? Somente minha! - Sinval falou de forma obcecada. - Só minha! - ele avançou em sua boca forçando um beijo, mas ela conseguiu virar o rosto, então ele se direcionou para o seu pescoço. - Só minha! Só minha! - repetiu como um mantra obssessivo contra a pele dela.
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A Dama & O Peão
FanfictionPresa em um casamento infeliz e fracassado, Neuta vive um dia de cada vez em uma rotina maçante. Até que um belo dia ela esbarra em alguém que mudaria sua vida para sempre.