Fuga

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27 de fevereiro de 2074

Springfield, Massachussets

Acordei tonto, deitado em uma superfície gelada e dura. Era uma espécie de cama, uma tábua enferrujada de metal, coberta por um fino colchão, este sendo forrado por um lençol puído, tudo pendurado na parede por duas correntes, cada uma em uma extremidade do leito. Para completar, meu rosto estava enterrado em um "travesseiro", cheirando a mofo e naftalina. Aquele lugar cheirava mal, uma mistura de excrementos, comida estragada e o ar metálico do sangue. Muito úmido, nojento. Exalava morte e putrefação, com uma pitada de sonhos perdidos e arrependimento. Se continuasse descrevendo, acho que entraria em depressão, de tão estranha era a sala que me encontrava. Minha cabeça girava e sentia pontadas dolorosas nas laterais do corpo, porém na maior parte do tempo, não conseguia sentir nada do peito para baixo. Levantei a blusa que usava e vi, surpreso, um grande curativo envolvendo minha barriga inteira. Retirei a gaze que a cobria e assustei-me com o estado da minha pele. Bolhas, algumas soltando pus, outras sangrando, porém todas horripilantemente feias, que faziam parte da paisagem das feridas em meu tronco. As armas de choque estavam mesmo bem carregadas, ou pelo menos o suficiente para deixar-me desacordado e causar aqueles machucados. A cela não era muito grande, pouco mais de 5 metros quadrados, com uma mesa, uma cadeira, uma luz de luminosidade duvidosa e a cama, na qual eu me encontrava sentado. A porta, de metal escuro, tinha duas frestas, uma na altura dos olhos, para ver o que eu estava fazendo lá dentro, e outra no meio, para colocar algemas em mim quando saísse ou para entregar pratos de comida. As paredes, pintadas com verde pastel, descascavam e eram frias, feitas de gesso, mas revestidas igualmente de metal. Não sabia desses detalhes só de ver, claro, mas havia visto um documentário sobre prisões há um tempo, então sabia como eram feitas. Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi passos e vozes no corredor, uma mais grave e rouca, outra mais feminina, que reconheci imediatamente: era a voz de Ilana.

-Dez minutos. Estou do lado de fora, se precisar. -Disse o homem, que, ao abrir a porta, vi que era um policial, alto, visivelmente acima do peso, cabelos e pele morena. Suas bochechas eram grandes, sua barba rala, suja de açúcar de confeiteiro. -Frank Willis, você tem visita.

-Olá Frank. -Cumprimentou Ilana, vestida de preto, combinando com seus cabelos ondulados, que projetavam-se sobre seu ombro. Uma vez fechada a porta, ela correu em minha direção, caindo em meus braços e abraçando-me com força, machucando profundamente as feridas abertas e inflamadas. Gemi de dor, um reflexo natural, alertando-a, que soltou-me na hora. -Desculpe, desculpe. Oh Deus, as armas de choque, verdade. Deve estar doendo muito, eu vi o vídeo que alguém gravou e passou no jornal. -Ela estava muito nervosa, falava sem respirar direito, uma mistura de ansiedade e medo. Pela expressão que povoava sua face, a próxima coisa que ela falaria não agradaria meus ouvidos. Minha mulher engoliu em seco e tomou uma golfada de ar, antes de perguntar-me. -Diga-me, Frank. É verdade o que estão dizendo? Você...

-Ilana, não podemos pensar nisso agora. -Cortei-a, ansioso demais, ou talvez com muito medo para ouvir aquela pergunta. -Preciso sair daqui, impedir um massacre de proporções bíblicas.

-Querido, você não está falando coisa com coisa. Proporções bíblicas? Eu te conheço. Sou casada com você há 20 anos, sei que quando começa a falar difícil, significa que você está escondendo alguma coisa. O que quer esconder de mim, Frank? -Ela questionou-me, duvidando da minha sanidade.

-Ilana, a história é muito longa e muito complicada. Mas se você me ama ou amou um dia, precisa me tirar daqui. Só eu posso resolver esse problema todo, só EU posso consertar a merda que Caesar fez! -Exasperei-me, nervoso com a compreensão lenta da minha mulher. Ao ouvir o nome do seu ex-parceiro de equipe, surpreendeu-se.

-Caesar? O que ele tem haver com tudo isso? -Confusa e com medo, afastou-se dois passos de mim. Tentei me aproximar, em vão.

-Frank. Por favor, tente me explicar. Eu preciso saber o que está acontecendo com você, quero ter algo pra dizer aos nossos filhos, quando chegarem em casa hoje à noite, sem encontrar o pai. -Chantageou-me emocionalmente. Hesitei por um momento, mas resolvi resumir a história.

Infected- A origem (cancelado)Onde histórias criam vida. Descubra agora