Distração

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23 de fevereiro de 2074

Springfield, Massachussets

"O que você acha? Tate está aqui. Conto detalhes quando chegar."

Essa frase ecoava em minha mente. De novo, Tate, de novo? Onde eu errei? Pensando em tudo o que eu já tinha feito por ele e como ele retribuiu o favor, entrei na delegacia, local já bastante familiar. Andando em direção ao balcão, avistei, através da porta de vidro, o delegado, que me ligou mais cedo. Já sabendo o motivo da minha visita, a menina atrás da mesa apontou para o corredor, sem me dirigir uma palavra. Segui nervoso naquela direção, pensando se dava uma surra naquele moleque ou ficava desapontado comigo mesmo. Não concluí o pensamento, já que cheguei na sala antes. De cara, vi os cabelos loiros e bagunçados do meu filho, que descansava seus pés na cadeira que eu, supostamente, deveria sentar. Pigarreei, avisando que havia chegado e atraí os olhares dos dois.

-Boa tarde. -Falei, rígido. Ao ouvir minha voz, Tate encolheu-se na cadeira.

-Olá Frank. -Respondeu o outro. -Vamos ver o que temos para você hoje? -Disse, enquanto eu sentava na cadeira. Olhei para meu filho e sua pele branca estava manchada de pontos, hematomas e feridas. -Aqui. Bem, como pode ver, Tate se meteu em briga de novo. Pode contar ao seu pai o que disse à polícia? -Sem resposta. -Tate. Agora.

-Eu... -Engoliu em seco. -Eu estava com uns amigos da escola. Eles queriam comprar umas coisas pra gente fazer uma festa na casa de um deles, mais tarde. Saímos no primeiro intervalo e pegamos um ônibus pro centro. Depois, a gente tava esperando um táxi pra nos levar de volta pra casa, mas o Matt, aquele que já foi lá em casa uma vez, deu a ideia de comprar umas drogas também, pouca coisa, só pra atrair mais gente. Mas deu um pouco errado, os caras tinham facas e eu acabei apanhando pra deixar os outros fugirem. A polícia chegou, todo mundo fugiu, menos eu. Acho que eu tava com uma ou duas costelas quebradas, mas não sentia, então tentei correr, perdi o equilíbrio, caí e desmaiei de tanta dor. Acordei aqui. -Não sabia com o que estava mais surpreso: o fato do meu filho estar comprando drogas, dele ter matado aula ou dele ter se sacrificado e apanhado para ajudar seus amigos. Ou talvez, todos ao mesmo tempo.

-Fizemos todos os exames. Duas costelas quebradas, alguns cortes mais profundos no rosto e nos braços. Hematomas pelo corpo todo, como o esperado. A costela fez muita pressão no pulmão, então é normal que, durante os próximos 15 dias, você sinta um pouco de falta de ar. É só isso. Assine aqui, senhor Willis. -Assinei o papel. -Se Tate passar na delegacia mais duas vezes, é detido por uma semana. Tenham um bom dia. -Levantei. O policial tirou as algemas de Tate, que se levantou. Nos despedimos de todos, entramos no carro e seguimos o caminho para casa. Sem trocarmos uma palavra. Não passei no mercado, não cheguei cedo em casa e tinha mais de 10 ligações perdidas do laboratório. Tentei retornar, mas sempre dava ocupado. Não tentei novamente, então fui dormir, desapontado comigo mesmo.

No laboratório, mais cedo naquele mesmo dia

-Frank não está atendendo, Caesar. -Disse Pierce, nervoso. -Onde ele poderia estar?

-Não sei, ele deveria estar em casa, mas Ilana disse que ele foi ao mercado. Mas quando ele saiu, ele foi na direção oposta. Tenta ligar de novo! -Caesar gritou.

-Não grite comigo! Eu ainda sou seu chefe! O mundo ainda não acabou! Agora, mate esses animais, antes que alguém descubra e não falaremos mais disso! -Pierce exasperou-se. -Agora, desligue esse computador. E saia deste prédio o quanto antes. -Ordenou a seu funcionário e saiu da sala, sem nem se despedir.

-Sim chefe. -Caesar murmurou, com um certo tom de ironia e desprezo, e desligou tudo. Sacou sua arma, matou as cobaias e fitou os focinhos mortos dos animais, em estágios avançados de decomposição. Olhos leitosos o encaravam, com um ar de acusação.

-Não olhem para mim como se eu fosse o causador dessa merda toda! -Caesar se defende das palavras silenciosas que os macacos e porcos dizem. -Eu teria feito certo! Eu não deixaria essa máquina de merda ligada! Eu não teria inventado essa porra! Agora todo o nosso projeto está espalhado por esse prédio e a culpa é de quem? DAQUELE FILHO DA PUTA! -Caesar pega sua .45mm e afoga suas mágoas nos cadáveres em putrefação. Termina seu cartucho e percebe o que fez. Chamou a atenção de, pelo menos, todos os seguranças do térreo! Em uma tentativa rápida de se safar, bagunçou seu cabelo, deu alguns poucos tapas em seu próprio rosto, deixando este bem vermelho, e fez o que qualquer pessoa sensata não faria: atirou no próprio ombro. Os seguranças chegaram e o encontraram semi-consciente, deitado em uma poça do próprio sangue.

-Ele... Escapou? -Balbucia o homem, tonto, pálido e ofegante, com uma dor excruciante no ombro esquerdo.

-Conte-nos o que aconteceu. -O segurança ofega e carrega o cientista até a ambulância, parada 24h no estacionamento do prédio.

-Mortos... Vocês estão todos mortos... -Foram as últimas palavras de Caesar antes que ele desmaiasse por completo, enquanto o carro ia a mais de 100km/h, a caminho do hospital.

Infected- A origem (cancelado)Onde histórias criam vida. Descubra agora