1º de março de 2074
Springfield, Massachussets
"Não chegaram a tempo"
Estávamos a cinco minutos tentando entrar no prédio, mas todas as portas estavam trancadas, protegidas por vários seguranças. Tentando, em vão, ver algo que se passa lá dentro, procuramos uma fresta entre o vidro das janelas e as persianas que as cobriam, mas estava simplesmente impossível de encontrar. Comovido com nossos esforços, um dos seguranças brutamontes deu um espaço para observarmos Caesar e sua apresentação da vacina. Não, não podia estar acontecendo. O seu plano não podia estar dando certo, não! Desesperado, vi Caesar colocar a máscara de oxigênio e Pierce tentando sair, também em vão. Ilana observava horrorizada a vacina sendo espalhada pela sala, na máquina que ela mesmo havia inventado. Todos os presentes começaram a tossir com o cheiro forte que se instalara no auditório. Dois diretores desmaiaram, instantaneamente, talvez por ataque cardíaco ou alergia às substâncias presentes na droga, mas nunca saberemos. Eu e Ilana estávamos ocupados demais nos esgoelando, mandando deixarem-nos entrar ou mandar todos saírem. Não pensávamos direito, bolar um plano para entrar secretamente? Impossível naquele momento. Em um ato de puro desespero, liguei para a polícia e avisei do massacre que aconteceria lá em menos de duas horas. Ao praticamente gritar com a telefonista, uma ideia iluminou meu cérebro, como um holofote.
-Ilana, Tate ainda tem aquela moto parada no estacionamento? -Perguntei com uma euforia que nunca pensei que teria.
-Provavelmente, não sei. Suspenderam a carteira dele depois de dirigir bêbado, não sei se ele vendeu ou continua parada lá! -Ela falava, um pouco incerta do que dizia e confusa com minha pergunta. -Por que quer saber? Precisamos entrar!
-O vidro das portas e janelas é forte o suficiente para não quebrar com tiros ou socos, mas ninguém disse que ele resiste à batidas de carro... -Deixei minha ideia subentendida, e logo a expressão de horror tomou conta de sua face. Não esperei ela contestar minha ideia, deixando-a parada na fachada do prédio, gritando que sou estúpido e inconsequente. Ela não correu atrás de mim, ou tentou me parar. Ilana sabia a merda que tínhamos feito e o preço a pagar para consertá-la.
~ x ~
O auditório estava um completo caos. Alguns diretores encontravam-se desmaiados no chão, uns por conta do choque anafilático, outros por ataques cardíacos. Outros poucos, muito fracos para fazer alguma cousa, estavam sentados em sua cadeiras e a maioria das pessoas presentes buscava uma maneira de sair. Todos os seguranças sabiam que não podiam deixar ninguém sair, mas os que se comoviam com a súplica e desespero dos presentes, eram mortos antes de tornarem-se uma ameaça, com um tiro. Isso foi o suficiente para alarmar a polícia e o som de sirenes tomava conta do pátio, em frente ao auditório, tentando arrombar as portas de vidro ou janelas. Caesar, por outro lado, já estava bem longe, no terraço do laboratório, onde haveria, supostamente, um helicóptero o esperando para ir o mais longe possível depois de ter entregado a cura aos infectados, mas ainda não tinha chegado. Resolveu, então, voltar para o meio do caos, talvez para acalmar os diretores, ou para explicar à polícia o que acontecera. No elevador, Caesar estava pensativo, um pouco incrédulo. Seu plano funcionara. Ele estava a um passo da riqueza. As portas de metal abriram, e, por um momento, pensou que conseguiria. Um brevíssimo momento, pois assim que encostou o pé esquerdo no chão do andar, a porta de vidro foi completamente estraçalhada por uma Harley laranja e preta, com pinturas flamejantes. O banco, por mais negro que fosse, brilhava com a intensidade dos cavalos que seu motor ostentava. Sentado no banco, estava seu maior inimigo, Frank Willis, mas quando a moto encostou no chão, ele fora arremessado para longe. A esta altura do campeonato, a vacina não estava mais sendo jorrada pelo ar, mas milhares de partícula dela ainda estavam presentes, mesmo que não concentradas o suficiente para causar algum efeito. O louco que acabara de cair com tudo no chão, encontrava-se desacordado, banhado em uma poça do próprio sangue, causando espanto geral. A gritaria e desespero corriam soltos, assim como todos no auditório, que ja estavam do lado de fora, na fachada. A polícia já estava presente, dando apoio para a multidão, enquanto outra parte dela está entrando, procurado por mais funcionários nos andares superiores. Alguns corpos de pessoas desacordadas jaziam ao longo do salão, incluindo a moto, agora quebrada num canto, com indivíduos mortos ou com membros quebrados, por causa do impacto, ao redor da mesma, completando o ar macabro da cena. A poeira estava em seu auge de concentração, sendo uma boa hora para sumir. Se esperasse mais um pouco, ela iria abaixar e Caesar, com certeza, seria o primeiro suspeito. Voltou correndo para o elevador, apertando freneticamente o botão H, subindo para o heliporto. Chegando lá, todos se aprontaram, levantando vôo logo em seguida, deixando todo o estardalhaço para trás, junto com o último resquício de esperança. A cura havia ido embora com Caesar, que se esquecera dela.
~x~
Não sentia minhas pernas, que provavelmente estavam quebradas. O quadril doía demais e conseguia sentir uma costela fora do lugar. Minha aparência devia estar igualmente, ou pior, que meu estado interno. Minhas roupas estavam ensopadas de sangue, assim como o chão empoçado. Ouvia o som abafado do choro de Ilana e suas palavras de ódio. Mensagens como "Eu disse que era uma péssima ideia!", "Eu te avisei!", "Olhe para você!" e afins, podiam ser facilmente ignoradas, pois a dor me fazia, obviamente, desaprender a ouvi-las. A falta de ar era tamanha, que a visão fica turva, e só consigo sentir meu corpo sendo levantado por paramédicos, colocado em uma maca e transportado para a ambulância. Consegui pronunciar as manhãs últimas palavras antes de desmaiar completamente.
"Salve-as."
~x~
A única coisa que ela conseguia pensar, era nas últimas palavras de seu marido. Sua voz ressoava em sua cabeça, como uma palavra mágica, colocando-a em uma espécie de transe. "Salve-as". As luzes brilhantes da sirene da ambulância ofuscavam o brilho do sol fraco. Não devia passar das dez, mas tanta coisa acontecera nas últimas horas, parecia que salvará Frank da prisão há dias. Meu Deus, seus filhos! Eles nem sabiam o que estava acontecendo lá. Não sabiam da situação de seu pai, nada. Além disso, Ilana sabia as chances de sair viva daquele confronto, caso não achasse a cura. Resolveu ligar para casa, provavelmente Tate e Lily estavam dormindo em pleno sábado de manhã. A voz rouca de seu mais velho atendeu o telefone.
-Mãe? O que houve? -Ele estranhou a ligação.
-Tate? Oi. Tirei seu pai da prisão, mas muita coisa aconteceu e agora ele está a caminho do hospital. Quero que acorde sua irmã e corram para lá. -Não quis entrar em detalhes, resumi o mais rápido que pude.
-Como assim? Mãe, me explica o que aconteceu. -Sua voz começou a se agitar e Ilana pode ouvir, ao fundo, Tate gritando para a irmãzinha levantar da cama.
-Não há tempo de explicar! Vão logo! -Ele calou-se do outro lado da linha e, então, a mulher pode ouvir soluços.
-Mamãe... Você vai ficar bem? -Sua voz estava embargada. Conhecia sua mãe. Sabia que ela não esclarecia as coisas quando elas não estavam bem.
-Meu filho. Eu te amo. Muito. Pode chamar sua irmã, por favor? -Os soluços estavam ficando mais fortes em ambos os lados da linha. Depois de alguns segundos, uma voz tornou a falar, porém mais fina e infantil.
-Mamãe? -Era Lily.
-Oi amorzinho! Dormiu bem? -Ilana tentava soar normalmente, mas não conseguiu ao ouvir a voz de sua filha.
-Sim. Mãe, traz pipoca? Hoje eu quero ver muitos filmes com você e o papai. -A voz inocente inundava os ouvidos da mulher, que se debulhava em lágrimas cada vez mais.
-Claro, querida. Mamãe te ama, viu? -Ilana gaguejava e sua voz falhava, cada vez mais violentamente.
-Também te amo, mamãe! Beijo!
-Um beijo. Cuida do seu irmão. -E desligou. Limpou a maquiagem que escorreu, deixando seu rosto preto de rímel. Não importa. Nada mais importa. Só a segurança de sua família. Com o choque da adrenalina, tomou coragem e adentrou o prédio, que seria sua tumba.
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Infected- A origem (cancelado)
Fantasi"Ninguém me disse que eu teria que viver assim. Se eu soubesse, teria nascido e já começado a me preparar fisicamente, espiritualmente e psicologicamente para isso" - Emily Ford, 17 "Não sei se ainda tenho traços da humanidade. Quando vejo uma ameaç...