O início do fim- Parte 1

132 14 0
                                    

1º de março de 2074, sete da manhã

Springfield, Massachussets

Estava inquieto. Não conseguia parar de andar de um lado para o outro naquela cela minúscula e abafada, sem janelas. Ilana deveria chegar a qualquer momento, pronta para me tirar desse inferno. Ainda não acredito que deixei, depois de muito discutir e não concordar, minha esposa cantar o policial e prometer uma noite de maravilhas, numa tentativa de me tirar daqui, acredito menos ainda que deu certo. Sabia que iria funcionar, vendo seu estado quando minha mulher veio me visitar: o coitado não via uma mulher bonita há tanto tempo que nem conseguiu controlar os países baixos, o que deixou a cena da calça justa mais ridícula ainda. Voltei para a realidade quando um barulho de fechadura sendo destrancada foi ouvido. Era hora, minha respiração estava irregular e meu coração batia descompassado, e tudo só piorou quando vi Ilana e o policial grandalhão ao seu lado.

-Não temos muito tempo. Vamos logo. -Ordenou o homem, que me prendeu com algemas. -Vamos para a sala do interrogatório. Explico mais no caminho. -Ele me deu um fone de um ouvido só, uma espécie de walkie-talkie que se prende nas orelhas, bem escondido. -Ok, vamos passar pelo corredor, como se eu fosse levá-lo até a sala das testemunhas. -Um guarda estava no portão, olhando as câmeras e comendo donnuts. Passamos por ele tranquilamente, exatamente como deveria ser. -Parte um feita. Agora vamos andar tranquilamente até o andar do interrogatório. Mas ao invés de entrarmos na sala 2, vamos para a sala 3. Um amigo meu me espera lá, ele vai te dar roupas novas, um disfarce, você sai do prédio. No estacionamento, tem um carro esperando por vocês dois, que levarão vocês até o laboratório. -Ele dizia as instruções com naturalidade, cumprindo bem seu papel e andando normalmente. Estávamos no elevador, chegando metade do processo. Quanto mais perto da sala 3 chegávamos, mais nervoso e apreensivo eu ficava. Meus ombros estavam rígidos, assim como meu maxilar. O suor escorria de minha testa, caindo em meus olhos. Não ia dar certo, esse plano era insano!

-Frank. Vai dar tudo certo, confie em mim. -Ilana, percebendo meu nervosismo, me acalmou. O toque de sua mão em meu braço direto acalmou-me instantaneamente. Os ombros relaxaram e percebi que, se forçasse mais minha mandíbula, acabaria literalmente quebrando os dentes. Chegamos na tal sala e, ao abrir a porta, me deparei com um rapaz, na casa dos 20 anos, uma lixeira com esfregões e vassouras dentro é um macacão da conservação.

-Esse é meu grande disfarce? Eu vou ser faxineiro? -Perguntei, incrédulo. Eu iria sair da prisão, vestido de desentupidor de privadas, é isso?

-O menos chamativo que existe. Além disso, a touca esconde o microfone no ouvido. Agora vamos, não reclame e vista a roupa logo! -O rapaz disse, deixando-me sozinho com Ilana no lugar. Troquei a roupa voando, rezando para que ninguém tivesse percebido a movimentação suspeita naquele vasto corredor de interrogatórios. Saí, já interpretando meu personagem, assim como Ilana, com o batom borrado e a blusa amarrotada, deixando qualquer coisa que acontecera lá dentro subentendida. Ouvi um chiado, vindo do tal aparelho em monjas orelhas.

-Estão me escutando? -A voz do policial ressoa em minha mente.

-Sim. -Respondemos, eu e Ilana em uníssono. -Estou no elevador indo para o estacionamento. -Ilana disse determinada, como se estivesse falando no telefone.

-Estou na escada, descendo. -Falei, sussurrante. Eu estava interpretando meu papel tão bem, que qualquer um que me visse acharia que falo sozinho. Avistei o tal carro, preto e com janelas escuras, porém com uma abaixada, revelando o rosto preocupado de minha mulher. Entrei correndo, sempre certo de que estávamos fritos, mas, ao que parece, ninguém nos viu novamente. Estava tudo indo tão bem, que o pressentimento de que algo não ia sair como planejado ficava cada vez mais forte.

Enquanto isso, no laboratório

-Pierce, estamos prontos? -Caesar bombardeava ordens para a nova esquipe, formada por ele, o chefe e mais dois estagiários que "realizariam" os testes em humanos. Óbvio que aquele teste era um pretexto para reunir o Conselho e causar o caos.

-Sim Caesar. E a cura. Está pronta? -Pierce estava apreensivo, com muito medo. Não queria morrer, tinha mulher, filhos e uma herança enorme de um tio que estava bem doente. As coisas estavam boas demais para deixá-las agora.

-Meu caro chefe... Acha mesmo que essa é a parte que deve se preocupar? -Caesar retruca, frio, fazendo Pierce engolir em seco e voltar a ficar calado. -Sua máscara está pronta? Tem que colocá-la antes de acionarmos a máquina ou sair do prédio o quanto antes. -O homem já estava cansado de ouvir isso, mas ao mesmo tempo relembrava constantemente que sua vida dependia disso.

O Conselho chegara e a sala, que antes estava vazia, agora se encontrava com poucos assentos disponíveis. Pierce sentou-se na primeira fileira, de prontidão para a hora decisiva. Relendo calmamente o texto já ensaiado, Caesar aparentava estar sereno, mas por dentro, estava se sentindo horrível. Mal. E, surpreendentemente, gostava dessa sensação. Observou a grade tela na parede da sala, mostrando a câmera de segurança ao vivo da sala de testes, com os dois estagiários e o homem que será a primeira cobaia. Pigarreou, preparando-se para o discurso e começou, com a voz mais firme e decidida do que esperava.

-Bom dia, senhoras e senhores do Conselho. Devido ao infortúnio fracasso na nossa primeira tentativa, trabalhamos muito e conseguimos, com muito suor, desenvolver uma vacina para curar o câncer e outras doenças graves. Como alcançamos resultados esplêndidos com as cobaias animais, decidimos mostrar para os senhores o nosso primeiro teste com uma cobaia humana. Este é Charles, um sem teto que vivia nos arredores da nossa usina. Ele sofre de câncer no fígado e metástases no pulmão, por conta da grande exposição à radiação. Se os resultados forem igualmente satisfatórios, sua complicações terão um fim em menos de duas horas. Aplicamos a vacina há uma hora e trinta e três minutos atrás, então qualquer mudança no seu quadro clínica será notada. -Apesar de todo esse teatro, Caesar já sabia o óbvio: Charles iria morrer em questão de minutos. Ele aprimorou a vacina, fortalecendo-a para acelerar o processo de decomposição, um tipo de suco concentrado de vírus mortíferos que seriam espalhados pelo sistema de ar condicionado do prédio, ameaçando a vida de todos presentes.

-Dr. Brooke, parece que há algo errado. Eles parecem preocupados. -Alertou-o uma das diretoras presentes, libertando-o dos seus pensamentos. Realmente, eles pareciam preocupados, mas como se soubessem que aquilo aconteceria. Pareciam nervosos, com medo do que aconteceria depois. No visor do seu celular, pode ver a mensagem que tanto esperou, de um dos cientistas lá presente. "Ele morreu". Ao lê-la, fez um sinal a Pierce, que saiu da sala imediatamente. Uma mensagem para o chefe da segurança, que sabia dos seus planos, para que ele trancasse todas as portas do prédio. O plano estava dando certo, até agora.

-Senhoras e senhores, temo dizê-los, mas... Foi um fracasso. Infelizmente, a cobaia não aguentou o vírus atenuado presente na vacina e faleceu. Mas não se preocupem, algo mais interessante vem por aí. O experimento de hoje foi marcado para comprovarmos que há uma forma de voltar à vida. Tínhamos plena consciência dos resultados e sabemos as causas da morte. Febre, dor de cabeça e nos ossos. A vacina faz com que vírus destruam as células sem função do câncer, porém houve um erro e ele passou a devorar as células saudáveis também, principalmente as hemácias, os neurônios e os osteócitos, células do sangue, do cérebro e dos ossos, respectivamente. Com a explosão dos glóbulos vermelhos, ha acessos de febre. A falta de neurônios causa a morte, logicamente. E, por fim, a dor dos ossos se quebrando em pedaços. Tudo em conjunto contribui para a morte do paciente.

-Então por que o deixou morrer? Não há como voltar dos mortos, sua experiência é completamente insana! -Exaltou-se um diretor nada importante, no final da sala.

-É aí que você se engana, meu caro. Depois de 5 a 20 minutos depois da morte, as células não param de se reproduzir, e elas precisam de nutrientes, fazendo com que o corpo de mexa involuntariamente, em busca de alimento. -Enquanto explicava, colocava a máscara de oxigênio, que impediria a inalação da vacina no ar. -Querem uma prova disso, observem a tela, em sua frente! -Nada acontecia. A cobaia estava morta há dias, aquilo era uma grande farsa. O verdadeiro teste mal tinha começado. -Está quente aqui, não? Vamos ligar o ar.

Imediatamente, todo o conteúdo da vacina já feito foi lançado nos tubos de ar condicionado do prédio, infectando mais de três mil funcionários e visitantes. Horrorizados, Frank e Ilana assistiam aos últimos cinco minutos, devastados. Não chegaram a tempo.

Infected- A origem (cancelado)Onde histórias criam vida. Descubra agora