Desespero

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Base militar do governo, local desconhecido

"-Pirralhos... -Desabafou ele, em um suspiro. Andou mais rápido, a fim de chegarmos logo, onde quer que ele queria chegar."

Por onde eu conseguia ver, homens de terno, outros com uniforme do exército, portando armas e granadas, cercavam-me. Me sentia muito insignificante no meio daquilo tudo, e ainda não havia visto qualquer pretexto para justificar minha presença ali. Já fazia mais cinco minutos que não parávamos de andar, e minha perna já estava doendo. Quando achei que não iríamos parar tão cedo, chegamos a um lugar amplo, longe de toda a confusão de armas, soldados e agentes do governo, sobrando apenas um amplo espaço sob a rocha de alguma montanha e uns poucos seguranças despreocupados, além de uma porta quase imperceptível. Estava prestes a perguntar o que estávamos fazendo ali, quando a porta se abriu, revelando sua grande espessura (de quase vinte centímetros) e tropas e mais tropas de soldados protegendo seu interior. Assustada com tudo aquilo, realmente me preocupei se era ali o nosso destino.

-Vamos mesmo ter que entrar em uma sala completamente cheia de soldados? -Esperava uma resposta que me acalmasse, mas já devia saber, com os poucos minutos que já tive com ele, que não seria bem assim.

-Sim. Entre, agora. -Ele não vacilou e continuou seu passo, firme. -Na verdade, essa é uma antessala, de proteção, para o lugar que você realmente tem que ir. -Tentou me acalmar e quebrar o gelo da primeira resposta, mas esse complemento só ajudou a meu nervosismo aumentar. Quer dizer que agora tenho que ir para uma sala que é protegida por centenas de soldados armados até os dentes e uma porta de vinte centímetros de puro aço? Temia pelo que viria a seguir, mas continuei o passo, sem vacilar uma vez. Quando a porta abriu, uma luz inundou o lugar, cegando-me momentaneamente. Quando meus olhos acostumaram-se com a luz, não entendi direito. Haviam computadores, alguns ocupados, outros apenas exibiam a tela de descanso, telões e números que não conseguia compreender. Comparada à sala anterior, poucas pessoas ocupavam o recinto, e podia apostar que não eram oficiais do governo, já que usavam roupas, das mais normais até pijamas.

-Era para eu entender o que estou fazendo aqui?- Indaguei, curiosa.

-Não.- Respondeu ele, pura e simplesmente. -Zoe!- Chamou ele, que foi atendido por uma menina, alguns anos mais velha do que eu, de cabelo e pele morena. -Ela é toda sua. -Ao pronunciar suas ordens, foi embora.

-E aí, novata. -Cumprimentou, simpática. -Sou Zoe, sua instrutora. Basicamente eu vou te ajudar a entender o esquema aqui da base e explicar tudo para você, até se acostumar com a rotina daqui é conseguir se virar sozinha. -A mulher gesticulava enquanto falava, além de ter um forte sotaque do sul. Enquanto ela me explicava, andávamos pela sala. -Como já deve saber, essa é uma base militar em Nevada. Usamos todo o dinheiro dos cassinos para comprar a mais potente tecnologia para construir isso aqui, principalmente para catástrofes deste tamanho. Com a morte do doutor, o governo está "caçando" mentes brilhantes para procurar a cura. Só os mais feras nas faculdades de biomedicina foram escolhidos e trazidos para cá, e os melhores estudantes das escolas foram escolhidos para terem aulas de biomedicina e, depois, juntarem-se às equipes de pesquisa. Você, Emily, foi escolhida entre milhões de estudantes para participar disso tudo.

-Você fala como se fosse algo mágico e um privilégio, mas era um destino que alguém dificilmente aceitaria, se tivesse escolha. Ficar trancado aqui, testando componentes o dia inteiro, não me parece algo "divertido" nem "mágico". -Comentei, enraivecida- Prova disso é que eu tive que ser sequestrada para isso. -Os flashes vieram à minha cabeça novamente e o desespero tomou conta de mim. -E minha família? Como está minha família?

-Família? -Ela não havia entendido. -Que família?

-Minha família ué! Meus pais! Quando eu fui eletrocutada e sequestrada, estávamos eu, meu pai e minha mãe na casa! Eu vi com meus próprios olhos eles caídos no chão! -Na verdade, minha lembrança era de várias pessoas caídas no chão, mas não conseguia ver o rosto de nenhuma no momento. Forcei minha mente para lembrar-me de mais algum detalhe, mas tudo que conseguia me lembrar eram os homens de preto e os olhos daquele agente. E que olhos...

-Olha, olhamos todas a fichas dos jovens com boas notas na escola. Eu sei cada detalhe da sua vida e não há nada falado sobre seus pais... -Ela dizia com tanta certeza que deu-me raiva.

-Não é possível! Eu quero saber! O que você fizeram com os meus pais! -Esperneava igual a uma criança birrenta. -Vocês estão mantendo-os presos! Só para me chantagear! Me forçar a ficar trancada aqui, tentando fazer milagres!

-Você poderia, por favor, não gritar, as pessoas estão... -Zoe tentou me acalmar, mas nada me fazia parar.

-Vocês não percebem que isso é inútil? Não tem cura nenhuma!! Quando se começa o apocalipse, ele não tem fim! -Sem eu perceber, seguranças já haviam entrado na sala e me imobilizado. -Me solta! Eu quero ir embora! Quero minha mãe! -Logo, me arrastaram pelos cabelos de volta para meu quarto que mais parecia uma cela e jogaram-me sem piedade na cama. -Eu só quero ir para casa... -Agora já estava choramingando. Os seguranças foram embora, deixando apenas o "Agente de Olhos Bonitos" -não sei o nome dele- e eu, que já estava pronta para o que viesse.

-Você me desapontou, Emily. - E foi embora.

Achei que ele iria gritar comigo, me matar, não sei, algo que um agente faria se o mundo, e sua paciência, estivesse acabando. Mas ele fez algo muito pior. Falou com calma. Paciência. Como se eu fosse uma criança que não parou quieta e quebrou alguma coisa. Isso doeu muito mais do que qualquer surra que ele me desse.

Infected- A origem (cancelado)Onde histórias criam vida. Descubra agora