Nova era

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23 de fevereiro de 2074

Chicago, Illinois

-Mas por que H2O?? Podia ser chamada simplesmente de água!

-Porque cientistas complicam, Joshua! Só complicam! E acharam legal enfatizar o fato da água ter duas partículas de hidrogênio e uma de oxigênio chamando de H2O.

Odeio o Joshua. Não são os cientistas que complicam, é ele. Não é muito difícil de entender porque o nome da água é H2O, mas ele insiste em errar essa questão nas provas de química. Depois, quando as notas chegam, os pais dele reclamam da professora particular dele, no caso, eu. Pelo menos ele é rico, então sou muito bem paga pelos pais superprotetores dele. Joshua é aquele bad boy, rico e gostoso, pior ainda, que sabe que é gostoso e popular. Resumindo, uma representação viva dos populares de filme nacional, daqueles que jogam futebol, beisebol e até soccer. Não vejo sentido em soccer, sinceramente. Vários jogadores correndo atrás da bola, caindo, se machucando, tentando fazer um golzinho? Futebol de verdade é muito melhor, tem mais ação, mais organizado e os quarterbacks são muito mais bonitos e malhados.

-De novo: H2 significa duas partículas de hidrogênio. O significa uma partícula de oxigênio. H2O é composta de duas partículas de hidrogênio e uma de oxigênio. Entendeu?

-Isso eu já entendi! Mas não saquei o objetivo desse nome estranho.

-Joshua, nem todo mundo fala inglês. Água tem muitos nomes, em alemão é "wasser", em francês é "eau", em hindu é "paani"... É muito mais fácil a comunicação entre cientistas quando o nome é, na verdade, as substâncias que aquilo é feito.

-Mas então porque nós somos chamados de Homo Sapiens?

-Porque somos formados de muitas coisas! Todos os animais, plantas, seres vivos no geral, têm nome em latim. E você tá misturando química com biologia, a prova de biologia já passou!

-Isso é muito complicado... Quando é a prova mesmo? -Ele olha no calendário de provas ao seu lado -Puta merda, é daqui a quatro dias. Tô fodido...

-Calma, temos quatro dias para botar toda a matéria em dia. Quem mandou matar aula pra ficar de pegação atrás do ginásio?

Continuei explicando a matéria e, inexplicavelmente, ele prestou atenção. Ainda não tinha entendido porque os nomes são tão complicados, mas aprendeu e decorou todos eles. Depois de estudar química e um pouco de física, me despedi de Joshua e seu pai, peguei minhas coisas e fui para casa. Encontrei com minha mãe em casa, que tinha conseguido folga no Walmart, porém ainda teria que trabalhar no bar. Ela propôs que fôssemos ao shopping, fazer um programa de meninas. Como faz muito tempo que não saio com ela, concordei. Estava mesmo precisando de roupas novas.

Springfield, Massachussets

-Chefe, já fizemos análises em todo o corpo de todas as cobaias! Está mais que comprovado que a vacina é segura e já pode ser testada em humanos. -Tentei argumentar com o diretor dos testes em humanos.

-Desculpe Frank, mas há 15 dias atrás, sua vacina em símios deu erro. Não posso acreditar que em duas semanas ela já tenha evoluído, sido testada e avaliada. Sinto muito, mas não vou permitir os testes em humanos.

-Por favor, Pierce. O diretor do Conselho está pagando pela minha cabeça. Preciso disso logo, não tem como marcar uma reunião de urgência com a ONU, ver o que se pode fazer, talvez burlar algumas regras... Eu realmente estou em apuros.-Implorei para meu chefe, que estava hesitante. Acabou cedendo, marcando uma reunião de emergência com os supervisores da ONU. -Obrigado Pierce, você não sabe o quão grato eu estou.

-É bom estar, pois vou cobrar esse favor mais tarde! -Ele disse, raivoso. A sorte é que Pierce era compreensivo, é um grande amigo meu. Saiu resmungando do laboratório, enquanto eu observava o monitor do computador, que não parava de mostrar-me as análises consecutivas das cobaias. Não acredito que consegui, finalmente. Sentado na cadeira, em estado catatônico, mal percebi Ilana entrando na sala com um cupcake é uma vela em cima.

-Parabéns pra você, nessa data que... Frank, tudo bem? -Ela me olha estranho e deixa o prato em cima da mesa. Pôs a mão na minha testa, acordando-me do transe.

-Desculpe, querida. Eu só... Estou muito surpreso. Não acredito que estamos quase lá. Só mais um passo e curamos quase todas as doenças já vistas, cânceres de todos os tipos... Todas essas pessoas miseráveis, que não tem nada, serão ajudadas e, ainda por cima, vão ficar milionárias! -Contei todos os benefícios que conseguiríamos se a vacina fosse efetivamente eficaz.

-Mas é claro que sim, meu amor. Tudo vai dar certo, porque pesquisamos, demos duro, já erramos muito... Agora vamos conseguir.

-Não sei, estou com um pressentimento estranho... -Revelei o que andava me matando. Essa sensação me atormenta até no sétimo sono.

-Pois eu estou aqui para te contradizer. Estou com um pressentimento ótimo! Vai começar uma nova era! -Ela tranquilizou-me e foi embora, despedindo-se com um abraço apertado. -Vou buscar Lily na escola, então pode passar no mercado para mim? -Lily, nossa filha de sete anos, o orgulho do pai.

-Passo. Algum pedido especial? -Sempre esquecia de comprar alguma coisa, então passei a perguntar se eles queriam algo a mais e que não podia faltar.

-Chegue cedo em casa. -Ela parou na porta e fitou-me com um olhar acusador. -Sei que gosta de ficar no laboratório vendo o jogo de futebol com Caesar, mas você tem uma esposa e dois filhos te esperando em casa. Não chegue tarde hoje.

-Como se Tate parasse em casa alguma hora. Não sei como ele conseguiu tirar a carteira de motorista, com o jeito louco de ser dele...

-Ora, dê uma chance ao menino! É uma fase, vai passar. E se me lembro bem, você não era muito diferente quando te conheci... -Ilana levantou uma sobrancelha e abriu um sorriso fraco. Lindo. Andando em minha direção, deu-me um beijo apaixonado, sentando-se na bancada, amassando, sem querer, o teclado. Quando se levantou, um barulho repetitivo, porém quase inaudível, começou a ecoar.

-Ok, você me venceu. Chego em casa cedo, prometo. -Me rendi aos seus encantos. Levei-a até a porta da sala, caminho que ela já conhecia bem. Observei-a andar até o elevador, apertar o botão e descer para o estacionamento. Tive muita sorte de conhecer Ilana na faculdade e, mais de dez anos depois, encontrá-la novamente no laboratório. Não somos oficialmente casados, mas vivemos uma vida juntos, temos uma família, uma casa grande e um emprego que gostamos.

Saí do trabalho pouco tempo depois, terminando o relatório que Pierce fez questão de ser preenchido à mão. Andei em direção ao carro, listando mentalmente tudo o que devia comprar. Meus pensamentos foram interrompidos quando meu celular vibrou no bolso dianteiro da calça. Distraído, tomei um susto, mas atendi rápido, sem ver quem estava me ligando.

-Frank Willis, quem fala? -Cumprimentei, como de costume.

-Olá senhor Willis, aqui é o delegado Parkson. Como está Ilana? -A voz familiar inundou meus ouvidos.

-Vai muito bem, obrigado. E como vai a vida, Parkson? Alguma coisa errada? -Estranhei a ligação de um velho conhecido. Por favor, de novo não. Por favor, hoje não!

-O que você acha? Tate esta aqui. Conto detalhes quando chegar. -E desligou, simplesmente.

Entrei no carro, furioso, e dirigi às pressas para a delegacia.

Infected- A origem (cancelado)Onde histórias criam vida. Descubra agora