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Winter's pov:

Eu estou deitada de costas. Minha camisa absorve a umidade, a grama roça a pele desnuda dos meus braços. A lua cheia acima é o único ponto de luz no céu escuro. Além do som distante do trânsito da cidade, tudo o mais está quieto.

Pisco várias vezes seguidas, apressando meus olhos a se adaptarem à pouca luz. Quando viro a cabeça para o lado, um arranjo simétrico de galhos curvos despontando do meio da grama aparece diante dos meus olhos. Muito lentamente, levanto-me. Não consigo tirar os olhos dos destroços de concreto sobre o gramado. Minha mente se esforça para reconhecer a viagem familiar. Em seguida, depois de um terrível momento de reconhecimento, eu entendo. Estou em uma construção abandonada.

Engatinho para trás até chegar a uma cerca de ferro. Tento entender como vim parar aqui, nessa situação, e penso em minha última lembrança. Eu toquei nas cicatrizes de Jimin. Onde quer que eu esteja, é em algum lugar dentro da sua memória.

Uma voz feminina vagamente familiar atravessa a escuridão, cantando uma música em voz baixa. Viro-me na direção dela e vejo um labirinto de concreto espalhado como peças de dominó no meio da neblina. Jimin está parada no meio dele. Usa apenas uma calça escura e um moletom de capuz azul-marinho.

— Prestando serviços de arquiteta? — Pergunta a voz familiar. É firme, densa. Aeri. Ela se acomoda em uma mureta de concreto diante de Jimin, observando-a. Passa o polegar no lábio inferior. — Deixe-me adivinhar. Você veio fazer uma visita a alguém que enterrou aqui — Ela brinca, balançando a cabeça. — Ainda não tinha vislumbrado esse seu lado sentimental.

— É por isso que continuo perto de você, Giselle. Você sempre vê o lado bom.

— Esta noite começa Cheshvan — diz Aeri. — O que você está fazendo aqui nesse lugar?

— Estou pensando.

— Pensando?

— É um processo no qual uso o cérebro para tomar decisões racionais.

Os cantos da boca de Aeri se contraem para baixo.

— Estou começando a me preocupar com você. Vamos. Hora de sair. A lua muda à meia-noite. — Ela solta um suspiro. — Sei que você disse que não seguiria por esse caminho, mas estou a disposição se tiver mudado de ideia.

Como Jimin permanece parada, Aeri fala:

— Você está me ouvindo? Precisamos ir. Eu aceitei fazer um juramento de lealdade com você! Não está lembrada? Que tal essa? Você é um anjo caído. As próximas duas semanas serão um presente meu para você. Um presente entregue de boa vontade, aliás — ela acrescenta com um sorriso cúmplice.

Jimin olha Aeri pelo canto do olho.

— Só aceitei que se tornasse minha vassala para mantê-la a salvo dos demais anjos caídos. Jamais irei possuir o seu corpo, Giselle. Acho que já deixei isso bem claro.

Ela respira fundo, resiliente.

— Sou grata por ter garantido minha segurança durante todos esses anos, mas não acha que eu poderia retribuir de alguma forma? Eu sei que sou uma Nefilim, mas metade de um humano é melhor do que nada.

— Você já me dedica sua lealdade, não preciso de nada além disso. — Os olhos de Jimin penetram em Aeri. — Além disso, duas semanas não são suficientes. Eu quero ser humana. Permanentemente.

Aeri passa as mãos nos cabelos.

— E como pretende fazer isso? Você é um anjo caído, e não humana. Nunca foi humana, nunca será. Final da história. — Ela joga o pescoço para trás e observa o céu escuro.

Dark Prelude - WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora