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Winter's pov:

Uma porta se abre e fecha, espero ouvir passos se aproximando, mas um som muito mais vibrante quebra o silêncio. É um som reconfortante e etéreo, uma dança melódica no ar. Asas, penso. Vieram para me levar.

Prendo a respiração, esperando, esperando, esperando. Então, o tempo parece andar ao contrário. Em vez de se tornar mais lento, ele acelera. Sinto como se algo fluido começasse a espiralar dentro de mim, em um redemoinho cada vez mais profundo. Sinto que sou jogada na correnteza. Estou escorregando através de mim mesma, até chegar a um lugar escuro e quente.

Meus olhos se entreabrem e encontram o familiar revestimento de carvalho no teto inclinado. Meu quarto. Uma sensação de conforto toma conta de mim. Então me lembro de onde estive. Na faculdade, com Woojin.

Um calafrio corre pela minha pele.

— Jimin? — Digo, com a voz rouca pela falta de uso.

Tento me sentar e então solto um grito abafado. Algo está errado com meu corpo. Todas as células, todos os músculos, todos os ossos estão doloridos. Eu me sinto como um enorme machucado.

Há uma movimentação na entrada. Jimin apoia-se no batente. A boca está tensa, sem o traço tão constante de humor. Os olhos parecem muito profundos, como eu nunca os vira. Aguçados por um instinto protetor.

— Foi uma bela briga no ginásio — Ela diz. — Mas acho que você se beneficiaria se tivesse mais algumas aulas de boxe.

Todas as lembranças voltam como uma onda. Lágrimas vêm de dentro de mim.

— O que aconteceu? Onde está Woojin? Como cheguei aqui? — Minha voz falha, tomada de pânico. — Eu me joguei da viga.

— Foi preciso muita coragem para fazer aquilo. — A voz de Jimin fica rouca e ela entra no quarto.

Fecha a porta atrás dela, e eu sei que é sua maneira de tentar trancar lá fora tudo de ruim. Está colocando uma barreira entre mim e tudo o que se passou. Ela caminha e se senta na cama ao meu lado.

— Do que mais você se lembra?

Tento reconstituir minhas lembranças, tentando examiná-las de trás para a frente. Lembro-me do bater de asas que ouvi logo depois de me jogar lá do alto. Sem dúvida, sei que morri. Sei que um anjo veio levar embora minha alma.

— Estou morta, não estou? — Digo baixinho, tremendo de medo. — Sou um fantasma?

— Quando você pulou, o sacrifício me deu abertura para cuidar de Woojin. Tecnicamente, quando você voltou à vida, a existência dele já havia sido varrida desse mundo.

— Estou de volta? — Pergunto, esperando não estar me iludindo com falsas esperanças.

— Não aceitei seu sacrifício. Eu recusei.

Sinto minha boca se abrir de admiração, mas o "Oh!" formado em meus lábios não se materializa.

— Você quer dizer que desistiu de ter um corpo humano por minha causa?

Ela levanta minha mão com curativos. Sob toda a gaze, os nós dos dedos latejam por causa dos socos que eu dei em Woojin. Jimin beija cada dedo, demorando-se, mantendo os olhos fixados nos meus.

— De que me adianta ter um corpo se eu não puder ter você?

Lágrimas mais grossas escorrem pelo meu rosto, e Jimin me puxa para junto dela, apertando minha cabeça contra seu peito. Bem devagarzinho, o pânico cede, e eu sei que tudo acabou. Eu vou ficar bem.

De repente me afasto. Se Jimin recusou o sacrifício, então...

— Você salvou a minha vida. Vire — ordeno solenemente.

Dark Prelude - WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora