Sonhar é o combustível que move os sonhadores, mas para Pete, um modelo em ascensão, o seu maior sonho veio acompanhado do seu pior pesadelo. Traição.
Depois de sofrer mais uma decepção amorosa, ele resolve voltar à Tailândia e tentar recomeçar do z...
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O silêncio seria ensurdecedor se não fosse o sibilar do vento que parecia circular em câmera lenta dando voltas e mais voltas antes de seguir seu fluxo natural. A claridade escassa do ambiente e a luz do luar se misturavam em um reflexo no olhar de Vegas, mas diferente de reluzir, eles se tornaram perdidos, como quando uma nuvem espessa toma a frente da lua e nos impede de vê-la completamente. Numa fração de segundos ele pareceu mergulhar em algum tipo de dor imensurável e de forma automática e inconsciente, sua mão apertou a minha. Seu semblante se tornou levemente endurecido e sua respiração espaçada. Apertei a ponta de sua jaqueta que ainda estava sobre meus ombros na tentativa de transferir o incômodo do seu aperto, mas mantive o olhar fixo no seu.
Seja qual for a situação, acredito que fiz a pergunta errada e minha mente começou a me bombardear com autopunição exacerbada. Porque eu não consigo ficar calado? Ok, eu sou curioso, tenho que admitir, se qualquer pessoa ainda tiver dúvidas, basta apenas olhar para aqueles que são meus melhores amigos. Caralho, eles até parecem um grupo de fofoqueiros altamente treinados e em nada me surpreenderia se algum deles aparecesse com diploma.
Mas... voltando a analisar Vegas, sinto que existe algo que deixa seu interior inquieto, como se ele tivesse caído em um mar agitado e submergido para o fundo e agora não conseguisse mais voltar à superfície para respirar.
Ele permaneceu imóvel, seu olhar ainda fixo ao meu, sua mão ainda apertando a minha e sua respiração... compassada.
Se eu pudesse voltar no tempo para minutos antes de fazer aquela pergunta, talvez eu tivesse escolhido outro caminho. Na verdade, se de alguma forma eu pudesse voltar no tempo, teria evitado todas as decisões estúpidas que já tomei na vida, mas infelizmente ou felizmente, não sei, isso não é possível.
— Você não precisa falar se não quiser. — esclareço usando suas palavras de minutos antes e inclinando levemente minha cabeça.
Seus olhos piscaram algumas vezes, como se ele despertasse de um sono profundo e estivesse tentando se habituar a claridade, sua mão diminui o aperto sobre a minha e ele soltou um longo suspiro desviando o olhar para baixo. Um sorriso fraco, com notas de uma sinfonia de tristeza, ressoou anasalado e mais uma vez ele acariciou meu pulso desenhando pequenos círculos.
Uma corrente de ar fria atravessou meu corpo e num ato automático, apertei — com mais força — a jaqueta de Vegas contra o mesmo, sentindo seu cheiro amadeirado inundar meus sentidos.
— Não é tão simples. — começou a falar em um tom vacilante. Seu olhar voltou a recair sobre mim, tristes, profundamente tristes. — Eu queria que fosse. — confessou.
Ele ficou novamente em silêncio e engolindo seco voltou seu olhar para um ponto menos iluminado do terraço. Em uma fração de segundos, Vegas fechou os olhos e apertou o maxilar e quando os abriu novamente me olhou de soslaio e deu um breve sorriso de canto.
— Sabe, Pete? Quando era pequeno eu acreditava que minha família era perfeita. — sua voz saiu arrastada e melancólica — Que meu pai seria aquele super herói que entraria em qualquer batalha pra me defender... e ele realmente era assim, mas então...
