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— Isso é impossível Pete, seu contrato acaba só daqui a dois meses.

John se recostou na cadeira, enquanto girava entre os dedos uma caneta esferográfica. Sua voz era firme e fria. Um verdadeiro profissional.

Quando acordei pela manhã, desejei que tudo não tivesse passado de um terrível pesadelo, mas a realidade veio como uma ventania forte quase me derrubando e uma mensagem de John me fez levantar a contra gosto e vir até seu escritório.

Na noite anterior, enquanto entornava uma garrafa de vinho, mandei uma mensagem para ele informando que voltaria para a Tailândia o mais rápido possível e que queria encerrar nosso contrato e agora, estou sentado à sua frente tentando a todo custo me manter firme.

— O ensaio de ontem era o último programado. — respondi secamente.

— Estou em negociação com uma empresa automobilística, eles querem um garoto propaganda que consiga cativar o público e você está crescendo cada dia mais no mercado, será uma grande visibilidade e vantagem para ambos. — ele falou calmamente e era possível ver as cifras dançarem em seus olhos.

— Olha John, eu não sei qual seu problema, mas eu não estou afim de ficar trabalhando com o cara que enfiou a língua na boca do meu namor… não, não, não, ex-namorado, como se isso fosse algo normal. — falei em irritação me levantando da cadeira, apoiando minhas mãos sobre a mesa enquanto o encarava.

— Você vai abandonar sua carreira por conta de uma traição? — franzi minha testa totalmente incrédulo com a situação e respirei fundo para não avançar na sua direção, quem esse cara pensa que eu sou?

— Quem disse que estou abandonando minha carreira? Eu só não quero mais trabalhar com você.

Sinceramente, eu só quero ir logo embora e tentar recomeçar, sem ter que me lembrar da traição sempre que olhar ao redor.

Olhar para John depois de tudo, observando a forma como ele está agindo — como se de fato nada tivesse acontecido — me fez perceber que eu não o conhecia, na verdade, o quão pouco eu quis enxergar dele.

Não deveria me surpreender o fato dele ser ganancioso, a todo momento ele sempre falava de oportunidades e sucesso, mas no fundo eu queria acreditar que ele não era assim.

— E você acha que vai encontrar um agente melhor do que eu? — ri de sua pergunta.

Quem é esse idiota na minha frente? Porque não é a mesma pessoa que convive todo esse tempo. É  como se o John que ontem quis se explicar tivesse sido substituído por um robô. Um robô que só pensa em lucros.

— Não me importa que não seja melhor, desde que não seja você.

Meu sangue estava começando a borbulhar nas minhas veias e quanto mais absurdos eu escuto mais eu quero sair correndo daqui.

— Não sei como você vai fazer, — continuei falando —  só quero que esse contrato seja cancelado o quanto antes e quanto ao projeto?  Pode repassar pro seu… — estalei os dedos buscando uma palavra apropriada — amante? Ele deve está mais necessitado do que eu. — cuspi as palavras de forma ríspida e dei as costas para sair da sala, parando com a mão sobre a maçaneta, voltando meu olhar para ele pela última vez e falar o que estava entalado — Eu realmente considerava você John.

Abri a porta de forma abrupta, mas paralisei assim que meus olhos encontraram a figura de Brian me olhando de maneira fria. O que eu fiz pra merecer esse castigo? Suspiro cansado e sem falar nada, passo por ele, saindo em disparada para o lado de fora do prédio.

Desde pequeno, minha avó me ensinou que nossos valores devem estar acima de qualquer coisa. Ela sempre me disse que se alguém tem que nos amar, ela vai fazer isso pelo que nós somos e não por outro motivo, não por status ou dinheiro ou qualquer outra coisa de valor. O amor não é remunerado.

Idiota. Idiota. Idiota.

Bato com a palma da mão na lateral da minha cabeça. Como eu fui tão burro assim? Como pude acreditar nas palavras daquele imbécil? Por que não acreditei quando o Arm falou que ele não era confiável?

Minha cabeça está uma verdadeira bagunça, meus neurônios parecem não conseguir conectar os cabos de forma correta e imagens desconexas com frases soltas invadem meus pensamentos.

Enquanto me dirijo ao aeroporto, envio uma mensagem ao meu advogado — ele deverá assumir a partir daqui — e outra para Arm informando que embarcarei em algumas horas.

Eu estava tão absorto em meus pensamentos que nem ao menos notei quando o táxi parou na entrada do aeroporto. Suspirei pesado depois de descer do veículo, olhando uma última vez ao meu redor, contemplando a vista que de fato nunca tive tempo para apreciar.

Fecho meus olhos e sinto a brisa fria tocar meu rosto e um nó tão familiar se formar na minha garganta, enquanto as lágrimas começam a querer vir, mas dessa vez eu não pretendo impedir.

Talvez seja egoísmo da minha parte, mas eu só quero ser feliz, será que isso é tão errado? Ou será que eu estou visualizando a felicidade de forma errada? Sinceramente, eu não sei.

Já fiz tantas viagens a trabalho que realizei o processo de embarque no automático e só me dou conta que estou dentro do avião, quando este começa a taxiar para levantar voo.

Observo pela janela tudo se tornar minúsculo e deixo as lágrimas lavarem meu rosto mais uma vez. Todas as imagens dos últimos doze meses surgem como flashes na minha mente e a dor no meu peito se torna insuportável. Tentei me convencer de que não era nada, que tudo acabaria bem, mas essas mentiras só me fazem querer chorar mais e mais.

Talvez amores com um “Q” de drama e comédia só possam ser encontrados em filmes e livros e acho que ando consumindo muito do gênero para ter esse tipo de desejo.

Essa dor que rasga o peito e me faz querer morrer, era como uma confirmação aberta de que eu nunca experimentaria a sensação de ser amado de verdade, de que ninguém nunca doaria seu tempo por mim.

Por que tem que doer tanto amar alguém?

Por que tem que doer tanto amar alguém?

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Obrigada por ter lido o capítulo, espero que tenha gostado. Não esqueça de votar e se desejar, comentar, isso ajuda muito no engajamento❣

Only You↬VegasPete Onde histórias criam vida. Descubra agora