Capítulo 3

174 16 3
                                    

EMMA BIANCHI

Estou nervosa, na realidade, estou muito nervosa! Tento respirar fundo, contar até dez, mas a ansiedade só aumenta. Meus pensamentos correm desordenados, como sempre acontece quando algo está fora de lugar. Será que a cortina da sala de jantar está torta? Eu deveria ter arrumado aquilo antes de sair... Não, Emma, foco!

— Se acalma, minha filha. Estamos aqui com você. – a voz da minha mãe é um pequeno conforto, mas o aperto de sua mão me deixa consciente do que está por vir. Nada pode me acalmar agora. Não com tudo isso acontecendo. O toque dela... Será que a mão dela estava limpa? Eu deveria ter lavado a minha depois...

Depois de saber sobre o jantar, passei a tarde inteira chorando e organizando minhas roupas por cor, por tecido, por... Enfim, precisava fazer algo para acalmar minha mente. Organizar sempre ajuda a colocar as coisas no lugar, pelo menos um pouco. Eu não consigo acreditar que isso está acontecendo comigo. Casar com alguém da máfia é um destino que eu jamais imaginei, muito menos com Mathias Savóia. Um libertino. Um cretino.

— Não quero me casar, mãe. Não com ele... — tento manter a voz firme, mas é quase impossível. Será que ela vai entender? Será que alguém entende?

Mathias Savóia. Só de pensar nele, sinto o estômago revirar. Já o vi várias vezes em eventos da família, sempre cercado por outras mulheres, sempre com aquele sorriso arrogante. E agora, ele será meu marido? Não! Não posso permitir. Mas... Como posso lutar contra isso? Sou apenas uma babá. A babá do Riccardo, filho da Giana.

Minha mente corre para o futuro, para as possibilidades. Um casamento sem amor, com um homem que... Já vi como ele trata as outras. Ele nem sequer vai tentar esconder. Será que terei que lidar com traições constantes? Com humilhações? Pior, serei apenas uma fábrica de herdeiros para ele.

— Olá. Sejam bem-vindos! — a voz da senhora Safira me arranca dos meus pensamentos. Ela sorri, e é um sorriso tão acolhedor que quase me faz esquecer da ansiedade por um segundo. Quase.

— Você é Emma, não é? — ela pergunta, e eu sinto meu coração pular. Será que eu deveria ter me apresentado antes? Fui rude? Não, não... Ela me perguntou, então eu estou bem.

— Sim, senhora — respondo rapidamente, antes que ela possa pensar que estou hesitando.

— Oh! Não, agora seremos da mesma família. Pode me chamar de Safira ou sogra. — Sogra. A palavra ecoa na minha mente como uma sentença. Ela me puxa para um abraço, um toque inesperado que me faz congelar por dentro. O que eu faço? Abraço de volta? Será que devo me afastar? Minha pele formiga, cada célula grita para eu sair dali e lavar as mãos. Mas não posso.

— Meu amor! Vai sufocá-la. – a voz rouca de Anthony Savóia preenche a sala, e finalmente sou libertada do abraço. Suspiro internamente, tentando ignorar o alívio irracional que sinto.

— Olá. – cumprimento o senhor Anthony, forçando um sorriso. Ele parece simpático, mas há algo nos olhos dele... Todos na família Savóia têm essa aura de poder, como se todos estivessem em um jogo constante, e eu sou apenas uma peça no tabuleiro.

Depois das apresentações, fomos levados à mesa de jantar. Tentei não olhar demais para os talheres, mas a tentação era grande. Estavam todos alinhados corretamente? E os pratos? Não... Não posso pensar nisso agora. Mathias ainda não apareceu, e isso me deixa mais ansiosa. Será que ele decidiu não vir? Será que...

— Boa noite! Desculpe o atraso — a voz de Matteo, o irmão gêmeo de Mathias, quebra o silêncio, e eu sinto meu coração acelerar. Ele é diferente do irmão. Há algo em seus olhos verdes que sempre me fez sentir um calor inexplicável. Mas eu não posso pensar nisso. Não agora. Não... Nunca.

— Olá, Emma — Matteo se aproxima, e meu coração quase para. Ele beija o dorso da minha mão, e tudo dentro de mim se rebela. Não posso. Não devo. Mas... Como não gostar de alguém como ele?

— Tenho dó de você, por ter que casar com Mathias — ele diz, e há um brilho de ironia em seu olhar. Eu poderia gritar que aceitaria casar com ele a qualquer momento, mas isso seria impensável. Inaceitável. Meu destino já está selado.

Quando vou responder, a voz que tanto temi finalmente surge.

— O que fala de mim, irmão? — Mathias entra na sala com uma confiança que só acentua o desconforto em meu peito. Ele e Matteo trocam palavras que parecem ter uma história por trás, mas estou muito nervosa para captar tudo.

— Tá vendo, mãe! Matteo é um falso — Mathias flexiona o olhar para o irmão, com uma expressão que só consigo descrever como... Desprezo. Ou será que é algo mais? Eu não sei.

— Meninos! Se comportem — a senhora Safira os repreende com elegância, e sinto um pouco de gratidão por ela manter a ordem. Mathias finalmente se vira para mim, e sinto como se o chão estivesse desmoronando. Ele é lindo. Assustadoramente lindo.

— Oi, senhorita Bianchi — ele diz, e o modo como seus olhos verdes fixam nos meus faz minhas pernas tremerem. Deus, por que ele tinha que ser tão atraente? Isso só torna tudo mais difícil.

— Oi. – murmuro, tentando não gaguejar.

O jantar segue, com conversas que mal consigo acompanhar. Minha mente está presa em um ciclo interminável de dúvidas, medo e... Sim, a cortina estava torta. Agora tenho certeza. O que mais pode estar fora do lugar? Como vou suportar isso?

Depois do jantar, fomos todos para a sala, mas minha mente está longe. Meu pai e o senhor Anthony estão discutindo detalhes do casamento, enquanto minha mãe e a senhora Safira escolhem uma data. E eu? Estou na varanda, observando as estrelas, tentando me acalmar. Mas como posso, quando sei que a partir de agora minha vida não será mais minha?

Preciso entrar. Está frio, e minha mente não suporta mais o silêncio. Assim que entro, a senhora Safira me chama, e me sento ao lado dela, ainda tentando manter a compostura.

— Você prefere qual cor para a decoração do casamento? – ela pergunta, e por um momento, minha mente se fixa na ideia de cores. Verde... Laranja... Sim, são cores que combinam. São... Simétricas. Harmoniosas. Mas nada disso importa, porque eu sei que o casamento não será.

— Oh! Não faço ideia, mas eu gosto de verde e laranja — respondo, tentando soar calma.

— Ótimo! Será verde. – ela sorri, e eu tento devolver o sorriso, mas minha mente já está correndo de novo. O que mais pode dar errado? Como vou sobreviver a isso?

— Com licença, posso ir à cozinha pegar uma água? – preciso sair dali. Preciso respirar.

— Se quiser, posso pedir a governanta.

— Não precisa, eu vou. – insisto, quase desesperada para ficar sozinha por um momento. Caminho até a cozinha, minha mente já se fixando em quantos passos eu dei, se o tapete da sala estava alinhado, se... E então, paro.

Mathias está lá, beijando outra mulher na bancada da cozinha. O choque paralisa meu corpo por um segundo, e então, sinto uma onda de algo que não consigo nomear. Raiva? Medo? Nojo? Tudo misturado. Eu deveria sair, fingir que não vi, mas... Não posso. Não sou fraca.

— O que faz aqui, Emma? – a voz de Mathias é casual, como se nada estivesse acontecendo, como se não estivéssemos prestes a nos casar.

— Só vim pegar um copo de água, não queria atrapalhá-lo! – respondo, tentando manter a calma. Vou até o filtro, pego a água, e sinto seus olhos me observando. A mulher ao lado dele me olha com desdém, mas isso pouco importa.

Saio dali, sem olhar para trás. Ouço Mathias me chamar, mas não ligo. Eu já sabia que isso iria acontecer. Já sabia que ele seria assim. Então, por que estou surpresa?

Mathias Savóia é, sem dúvida, um tremendo cretino.

 O Cretino - Nova Era 7 - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora