Capítulo 18

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EMMA SAVÓIA

O reflexo no espelho não mentia: Grace estava realmente deslumbrante. Seus olhos castanhos, grandes e expressivos, brilhavam com um misto de ansiedade e expectativa. Eu nunca havia visto alguém tão jovem, tão bonita e, ao mesmo tempo, tão triste.

— Nossa, ficou linda — elogiei, tentando não deixar transparecer minha própria inquietação.

— Você acha? — a hesitação na voz dela era palpável, como se a aceitação de sua própria beleza fosse algo estranho, quase proibido.

— Sim! Não é mesmo, Safira? — olhei para minha sogra, que, emocionada, limpava discretamente as lágrimas antes de sorrir para Grace.

— Está magnífica, querida — confirmou Safira, com aquele tom maternal que só ela conseguia.

Grace Norulo havia chegado à Itália há dois dias, e algo em sua chegada solitária me incomodava profundamente. Onde estavam seus pais? Como permitiram que a filha viajasse sozinha para um país estrangeiro, sem qualquer supervisão familiar? Isso me parecia uma negligência imperdoável, especialmente em um momento tão importante como a escolha do vestido de casamento. Por que sua mãe não estava aqui com ela, para esse evento tão significativo?

Essas perguntas rodopiavam na minha mente, como pequenos alarmes que não podiam ser ignorados, mas eu me forcei a focar no presente. Grace estava radiante, embora seus olhos transmitissem uma tristeza que contrastava com o sorriso forçado em seus lábios.

Quando ela chegou, a primeira coisa que perguntou foi sobre Matteo. A informação de que ele havia partido em uma missão dois dias antes, no mesmo dia em que ela chegou, pareceu desestabilizá-la por um breve instante. No entanto, Grace se recompôs rapidamente, aceitando a ausência com um silêncio que me deixou desconfortável. A forma como ela evitava falar dele era, para mim, um sinal claro de que ela tinha sentimentos mais profundos do que gostaria de admitir.

Talvez ela goste dele, pensei, observando-a de soslaio enquanto ela evitava olhar para si mesma no espelho, como se tivesse medo do que veria.

Grace era um mistério. Havia uma energia triste nela, um tipo de solidão que ela parecia tentar esconder. Seus sorrisos eram generosos, mas seus olhos não brilhavam com a mesma intensidade. Algo em seu comportamento me dizia que ela estava sofrendo, mas o quê, exatamente, eu não sabia.

Eu observei atentamente enquanto Grace recusava vestidos com decotes ousados ou que mostrassem seus braços. Havia uma reserva nela que eu não conseguia entender. Seria insegurança? Medo? Talvez algo mais profundo?

— Que tal experimentar outro? — sugeri, tentando manter o tom leve.

— Qual? — ela olhou para os vestidos pendurados, mas sua expressão era de alguém que não sabia o que escolher, ou talvez que não quisesse escolher nada.

— Esse é lindo — Safira disse, puxando um vestido rendado com um decote profundo nas costas, que descia até quase a altura dos quadris.

Grace mordeu o lábio inferior, um gesto que me pareceu indicar desconforto, enquanto cruzava os braços, numa tentativa quase instintiva de se proteger.

— E... então, não poderia ser mais fechado? — sua voz soava tímida, quase como um sussurro.

— Claro, querida — Safira sorriu, já se afastando para procurar outros modelos. — Como você prefere?

— Estilo princesa — respondeu Grace, seu rosto iluminando-se com um sorriso que parecia genuíno pela primeira vez.

Safira se retirou para buscar outros modelos, e eu aproveitei o momento para observar Grace mais atentamente. Algo estava errado. Desde que chegou, Grace vestia apenas roupas que cobriam o máximo possível de sua pele. Eu entendia que na Austrália fazia frio, mas estávamos na Itália, e o clima era bem diferente. Mesmo assim, ela parecia determinada a esconder o corpo, o que só aumentava minha curiosidade.

 O Cretino - Nova Era 7 - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora