EMMA BIANCHI
A casa da senhora Giana me recebe com a familiaridade de sempre, mas meu coração ainda carrega o peso da inquietude que parece nunca me abandonar. Três dias se passaram desde o noivado, e eu sinto como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo. O transtorno, que sempre esteve lá, uma sombra constante, agora se manifesta com mais intensidade, como se quisesse me lembrar a cada instante de que estou perdendo o controle sobre a minha vida.
Quando Giana abre a porta, vejo a surpresa em seu rosto, refletindo algo que me incomoda, como se eu não pertencesse mais a este lugar. Por que me sinto assim? Eu deveria estar feliz, certo? Mas há um nó no meu estômago que parece não querer se desfazer.
— Emma! — Giana me cumprimenta, curiosa.
— Tudo bem? — tento sorrir, mas a verdade é que estou cansada de fingir que está tudo bem.
— Sim, e você? Entra. — ela abre espaço para eu entrar, e eu atravesso a soleira, sentindo o alívio momentâneo de estar em um ambiente familiar, mas sabendo que isso não dura muito. – Desculpe à pergunta, mas o que faz aqui?
Sua pergunta me atinge com mais força do que deveria. O que estou fazendo aqui? Eu mesma não sei. Talvez esteja tentando fugir de uma realidade que não estou pronta para encarar.
— Vim cuidar de Riccardo — minha resposta é automática, um reflexo condicionado, algo para preencher o silêncio desconfortável.
— Você está noiva do meu primo, logo será da família. Afinal, Riccardo já tem uma nova babá — o sorriso se esvai dos meus lábios, deixando em seu lugar uma sensação de vazio e inadequação. Será que eu já não sou mais necessária aqui?
— Posso vê-lo? Sinto tanta falta daquele pequeno — tento conter a tristeza na minha voz, mas não tenho certeza se fui bem-sucedida. Giana parece perceber minha mudança de humor, e sua expressão suaviza.
— Claro que sim.
•
Brincar com Riccardo é como uma forma de terapia para mim, algo que me acalma e afasta os pensamentos obsessivos que sempre rondam minha mente. Cada risada dele é um alívio temporário, uma pausa na constante necessidade de organizar, controlar e prever.
Eu deveria estar pensando no meu futuro com Mathias, mas, no fundo, o que eu mais quero é congelar o tempo e ficar aqui, no chão, brincando com uma criança que não exige nada de mim, que não espera nada além de amor e cuidado.
— Logo será os seus filhos. – Giana comenta, e sinto um aperto no peito. Filhos. Algo que nunca parei para considerar seriamente. Não porque eu não queira, mas porque o simples pensamento me enche de medo.
— Não penso em filhos. – respondo, focando no Riccardo, como se ele pudesse me proteger da conversa.
— Por que não? São uma benção, aliás, se for um menino será o consigliere de Vito.
— Por quê? – pergunto, mais para prolongar a conversa do que por real curiosidade. A ideia de filhos, de me tornar mãe em um mundo como o nosso, é aterrorizante. Como posso proteger alguém em um ambiente tão caótico e perigoso?
— Os filhos de Jane irão assumir a cadeira de Veneza. Os de Irina irão para a Rússia logo, Asier irá assumir a cadeira espanhola. – Giana explica com naturalidade, mas tudo isso me parece tão distante, como se estivesse falando de outra pessoa, de outra vida.
— Mas e os de Armando? Ele tem o Pietro e Ângelo.
— Não há nada definido, mas pelo o que parece, eles irão ficar com a empresa da família. – Giana sorri, parecendo relaxada, enquanto eu me sinto cada vez mais tensa. – Não vejo naqueles meninos o espírito de comandar, eles são agitados e gostam de ação como os tios.
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O Cretino - Nova Era 7 - Conto
RomanceVol.7 Nova Era - Série da Máfia Mathias Savóia, o sétimo herdeiro da família, vive para o caos e o prazer, sem interesse em casamento ou filhos. Forçado por um acordo da família, ele deve abandonar suas noites sombrias para se casar com Emma Bianch...