Capítulo 6

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EMMA BIANCHI

Eu nunca fui boa em controlar meus pensamentos. Eles sempre foram como uma onda incontrolável, uma força que me arrasta, especialmente quando estou nervosa. E, enquanto eu me olhava no espelho, ajustando pela centésima vez a pequena dobra de tecido no meu vestido, minha mente estava a mil.

— Está tudo bem, Emma. Você está bem.

Minha mãe me observava de longe, sorrindo com aquela expressão que conheço tão bem. Ela tentava ser forte por mim, apesar de todo o sofrimento que esconde por trás do sorriso. Ultimamente, sua saúde havia piorado, mas ainda não tínhamos respostas concretas. Eu sabia que ela estava nervosa também, mas, como sempre, fingia estar melhor do que realmente estava.

— Você está linda! – a voz dela cortou meus pensamentos, e eu me virei, oferecendo um sorriso em resposta.

— Obrigada. A senhora está belíssima! – respondi, observando seu vestido verde musgo, que contrastava lindamente com seus cabelos presos em um coque alto.

— Pare. – Ela balançou a mão no ar, como se dispensasse o elogio, mas eu podia ver o brilho de satisfação em seus olhos. – Mas estou me achando melhor, acho que são os novos remédios.

Minha mãe estava longe de estar bem, mas eu esperava que esses novos medicamentos realmente fizessem alguma diferença. Era frustrante não saber o que estava acontecendo com ela, ir de médico em médico sem respostas. Mas, pelo menos, naquele momento, ela parecia um pouco mais animada.

— Certamente. – falei, tentando trazer alguma leveza à situação.

— As mulheres da minha vida estão lindas demais. – meu pai apareceu na sala, beijando a testa da minha mãe e, em seguida, a minha. Seu toque sempre foi uma âncora para mim, um lembrete de que, por mais caótico que o mundo parecesse, eu tinha a segurança de sua presença.

Respirei fundo, ajustando mais uma vez a alça do vestido, lutando contra a vontade de verificar se tudo estava perfeitamente alinhado. Às vezes, meu TOC era um fardo pesado de carregar, especialmente em momentos como este, onde a pressão e a expectativa pareciam se acumular no ar.

Ao chegarmos na casa dos Savóia, tudo parecia maior, mais imponente do que eu lembrava. A decoração era deslumbrante, um reflexo da riqueza e do poder que essa família detinha. Enquanto meus pais se moviam com facilidade pelo espaço, eu me sentia pequena, uma intrusa em um mundo que nunca seria verdadeiramente meu.

Foi então que Mathias apareceu ao meu lado, como se materializado do nada, com aquele sorriso arrogante que ele sempre usava como máscara.

— Bela noiva. – sua voz foi um sussurro que me fez arrepiar.

— Não faça isso. – apontei o dedo para ele, tentando ignorar o calor que subia pelo meu pescoço.

— Como quiser, futura senhora Savóia. – ele levantou as mãos, como se rendesse à minha pequena reprimenda.

— E também não me chame assim, me sinto velha.

— Você é mais chata do que eu pensava — murmurou no meu ouvido, sua voz me fazendo arrepiar novamente.

— Mais do que você imagina — respondi, devolvendo o olhar e um sorriso sarcástico, satisfeita ao vê-lo surpreso pela minha resposta.

No entanto, antes que Mathias pudesse responder, Dona Safira se aproximou, nos chamando para um grupo de mulheres. Fui apresentada a todos, minha mente correndo a mil para lembrar de cada nome, de cada detalhe.

Eu sabia que deveria estar atenta, mas minha mente estava em outro lugar, repetindo padrões, organizando informações de maneira obsessiva, como sempre fazia em situações de estresse.

Depois de um tempo, consegui me sentar ao lado de Ágata e Irina, que, como sempre, me acolheram com gentileza. Elas conversavam sobre seus maridos e filhos, mas minha mente vagava, voltando para a imagem de Mathias e o futuro que parecia inevitável.

— Muito nervosa? – Ágata perguntou, sua voz doce me trazendo de volta ao presente.

— Não muito. Já conheço a maioria que está aqui, meu pai trabalhou por muitos anos na máfia.

— Eu não quis dizer isso. – ela me olhou com um olhar compreensivo. – Está nervosa por se casar com um Savóia?

— Para ser sincera, sim. – confessei, sentindo um nó se formar na garganta. – Mathias é difícil de entender. Ele sempre está fazendo piadas e sendo sarcástico.

— Acredite, quando você começar a conviver com ele, saberá como compreendê-lo. – Ágata segurou minhas mãos, seu toque me trazendo algum conforto. – Viva um dia de cada vez. Ainda faltam algumas semanas até seu casamento.

Irina, por sua vez, me ofereceu um sorriso tranquilizador. Ela parecia tão feliz, apesar de estar casada com um homem que, segundo boatos, havia lhe sequestrado. Mas isso não fazia com que a minha situação fosse menos assustadora.

— E Safira estará lá para te ajudar — Irina continuou, com um brilho nos olhos. – Seremos vizinhas.

Conforme a conversa continuava, eu me sentia mais isolada, presa em meus próprios pensamentos. Meu TOC era um inimigo silencioso, uma presença constante que me mantinha cativa, mesmo em momentos como esse.

Eventualmente, pedi licença e fui até Mathias, que estava em um canto conversando com seus primos.

— Posso falar com você? – sussurrei, sentindo uma onda de nervosismo se formar.

— Já está falando, bela noiva. – ele respondeu com aquele sorriso provocador, mas, para minha surpresa, ele segurou minha mão. Um arrepio percorreu meu corpo, mas eu ignorei, tentando me concentrar no que eu precisava dizer.

Ele me levou até o jardim dos fundos, um lugar que, em outra situação, eu poderia achar bonito. Mas, naquele momento, eu estava apenas focada em dizer o que precisava.

— Isso pode parecer estranho e talvez até burro... – comecei, respirando fundo para manter minha compostura. – Mas eu não quero morar no condomínio dos Savóia.

 O Cretino - Nova Era 7 - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora