Capítulo 17

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MATHIAS SAVÓIA

— Porque você tá com essa cara? – pergunto, folheando uma revista qualquer enquanto me recosto na cadeira do jardim.

Matteo, meu irmão gêmeo, não precisa responder. Conheço-o bem demais para saber que algo o incomoda, e é claro que, como seu irmão, faço questão de provocá-lo um pouco. Ele se recusa a responder imediatamente, preferindo cruzar os braços e soltar um suspiro profundo.

— Como você sabe a cara que estou fazendo, se você não está me olhando?

— Porque eu sou seu irmão gêmeo —viro a página, esboçando um sorriso malicioso — Desembucha. Se continuar com essa cara de sofredor, daqui a pouco estará ouvindo Billie Eilish e comendo biscoitos amanteigados.

— Amor, deixa seu irmão em paz. – Emma intervém suavemente enquanto rega suas plantas no jardim.

Eu lanço um olhar para minha esposa, que está concentrada em cada movimento, molhando as folhas e flores com uma precisão quase cirúrgica. Emma tem esse jeito meticuloso, quase obsessivo, de lidar com as coisas. Tudo precisa estar perfeito, alinhado e ordenado. Não posso evitar sorrir ao vê-la tão imersa em sua tarefa, mas sei que logo ela voltará a se juntar a nós. Minha mãe e meu pai estão para chegar, e o almoço em família promete ser animado.

— Olha pra ele, bela esposa — aponto para Matteo, que me olha com uma expressão ofendida — Está tenebroso! É quase um pecado vê-lo assim.

— Somos gêmeos! — ele protesta, ofendido.

— Eu — digo com ênfase — Sou o gêmeo bonito.

— Cuidado — ele alerta.

— Com o quê?

— Primeiro vem o rascunho e depois a obra-prima — ele sorri, triunfante.

As gargalhadas de Emma ressoam atrás de mim, sua risada é contagiante e, antes que eu perceba, estou rindo junto com ela. Mas o som de gargalhadas mais velhas ecoa e me faz virar a cabeça. Meus pais entraram no jardim, e, como o bom ator que sou, fecho a cara em uma expressão de falsa irritação. Minha mãe, Safira, se aproxima de mim e me beija na bochecha, como sempre faz.

— Você é lindo, meu bebê — ela diz com doçura.

— Eu sei — resmungo, fingindo estar chateado, mas por dentro me derreto como sempre.

— Olha o que trouxemos — minha mãe levanta uma travessa tampada —Delícia de abacaxi!

Eu e Matteo trocamos um olhar cúmplice. Delícia de abacaxi sempre foi nossa sobremesa favorita desde que éramos crianças. Não posso evitar me sentir nostálgico, lembrando de quando éramos pequenos e nossa mãe nos fazia provar a sobremesa enquanto nos observava, esperando nossa aprovação. Era o seu jeito de garantir que estava tudo perfeito.

— Está com uma cara deliciosa — elogio, e minha mãe sorri orgulhosa.

— Espero que gostem! — ela diz, batendo palminhas de alegria.

Sentamos todos na mesa do jardim, e Emma finalmente se junta a nós depois de tomar um banho. Sua presença sempre traz uma calma ao ambiente, e por mais que eu adore provocá-la, sei que ela prefere momentos como este, tranquilos e sem pressão. Enquanto comemos, o clima é de alegria, risos e brincadeiras, até que minha mãe decide trazer à tona um assunto que sei que vai deixar Emma desconfortável.

— Falei com seu pai, amanhã iremos fazer uma faxina nos antigos quartos de vocês.

— Por qual motivo, mamãe? – pergunto, curioso.

— Logo vocês terão filhos, quero que, quando meus netos vierem, fiquem no quarto que era de vocês. – minha mãe diz, com a mesma expectativa que sempre teve em relação a nós.

 O Cretino - Nova Era 7 - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora