MATHIAS SAVÓIA
— Porque você tá com essa cara? – pergunto, folheando uma revista qualquer enquanto me recosto na cadeira do jardim.
Matteo, meu irmão gêmeo, não precisa responder. Conheço-o bem demais para saber que algo o incomoda, e é claro que, como seu irmão, faço questão de provocá-lo um pouco. Ele se recusa a responder imediatamente, preferindo cruzar os braços e soltar um suspiro profundo.
— Como você sabe a cara que estou fazendo, se você não está me olhando?
— Porque eu sou seu irmão gêmeo —viro a página, esboçando um sorriso malicioso — Desembucha. Se continuar com essa cara de sofredor, daqui a pouco estará ouvindo Billie Eilish e comendo biscoitos amanteigados.
— Amor, deixa seu irmão em paz. – Emma intervém suavemente enquanto rega suas plantas no jardim.
Eu lanço um olhar para minha esposa, que está concentrada em cada movimento, molhando as folhas e flores com uma precisão quase cirúrgica. Emma tem esse jeito meticuloso, quase obsessivo, de lidar com as coisas. Tudo precisa estar perfeito, alinhado e ordenado. Não posso evitar sorrir ao vê-la tão imersa em sua tarefa, mas sei que logo ela voltará a se juntar a nós. Minha mãe e meu pai estão para chegar, e o almoço em família promete ser animado.
— Olha pra ele, bela esposa — aponto para Matteo, que me olha com uma expressão ofendida — Está tenebroso! É quase um pecado vê-lo assim.
— Somos gêmeos! — ele protesta, ofendido.
— Eu — digo com ênfase — Sou o gêmeo bonito.
— Cuidado — ele alerta.
— Com o quê?
— Primeiro vem o rascunho e depois a obra-prima — ele sorri, triunfante.
As gargalhadas de Emma ressoam atrás de mim, sua risada é contagiante e, antes que eu perceba, estou rindo junto com ela. Mas o som de gargalhadas mais velhas ecoa e me faz virar a cabeça. Meus pais entraram no jardim, e, como o bom ator que sou, fecho a cara em uma expressão de falsa irritação. Minha mãe, Safira, se aproxima de mim e me beija na bochecha, como sempre faz.
— Você é lindo, meu bebê — ela diz com doçura.
— Eu sei — resmungo, fingindo estar chateado, mas por dentro me derreto como sempre.
— Olha o que trouxemos — minha mãe levanta uma travessa tampada —Delícia de abacaxi!
Eu e Matteo trocamos um olhar cúmplice. Delícia de abacaxi sempre foi nossa sobremesa favorita desde que éramos crianças. Não posso evitar me sentir nostálgico, lembrando de quando éramos pequenos e nossa mãe nos fazia provar a sobremesa enquanto nos observava, esperando nossa aprovação. Era o seu jeito de garantir que estava tudo perfeito.
— Está com uma cara deliciosa — elogio, e minha mãe sorri orgulhosa.
— Espero que gostem! — ela diz, batendo palminhas de alegria.
Sentamos todos na mesa do jardim, e Emma finalmente se junta a nós depois de tomar um banho. Sua presença sempre traz uma calma ao ambiente, e por mais que eu adore provocá-la, sei que ela prefere momentos como este, tranquilos e sem pressão. Enquanto comemos, o clima é de alegria, risos e brincadeiras, até que minha mãe decide trazer à tona um assunto que sei que vai deixar Emma desconfortável.
— Falei com seu pai, amanhã iremos fazer uma faxina nos antigos quartos de vocês.
— Por qual motivo, mamãe? – pergunto, curioso.
— Logo vocês terão filhos, quero que, quando meus netos vierem, fiquem no quarto que era de vocês. – minha mãe diz, com a mesma expectativa que sempre teve em relação a nós.
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O Cretino - Nova Era 7 - Conto
RomanceVol.7 Nova Era - Série da Máfia Mathias Savóia, o sétimo herdeiro da família, vive para o caos e o prazer, sem interesse em casamento ou filhos. Forçado por um acordo da família, ele deve abandonar suas noites sombrias para se casar com Emma Bianch...