Um pouco confuso

255 37 51
                                    

O sabor de ter algo que sempre desejou para si era tão doce quanto açúcar cristalizado. - Pelo menos nos primeiros 25 minutos, antes que você percebesse que talvez, os seus desejos pudessem ser um pouco contraditórios.

Os dedos de Gun tocavam a fria pinça, enquanto a única coisa que seus olhos viam era a cor vermelha daquela sala de revelação. Sua mente deveria estar focada nas fotografias escuras esperando para tomarem forma, mas seus pensamentos estavam em outro lugar, e isso fez com que o material da Polaroid se desfizesse na composição molhada sem que Atthaphan sequer notasse algo que demorou tanto para fazer, sumindo rente aos seus olhos desatentos.

— Você perdeu. Não era a sua favorita?

A voz em sua nuca e os braços prensando Gun discretamente, fez seu coração palpitar e seu corpo pular.

— Papi.

— Hnm. Eu já terminei as minhas fotos, precisa de ajuda com as suas?

— Não... eu não preciso, obrigado. - Ele não ousava virar o rosto, Gun temia que suas bochechas estivessem vermelhas o suficiente ao ponto de desaparecerem ao comparadas com a luz.

— Tudo bem. - E para o alívio do pequeno Atthaphan, Jumpol se afastou, e ele pode voltar a respirar corretamente. - Eu tenho treino hoje, vai vir assistir?

— Vou, eu só preciso terminar de revelar isso.

Off percebeu que Gun não olhava em seu rosto, isso o incomodou, mas naquele momento ele resolveu ignorar, pensando ser apenas sua imaginação o sabotando.

— Te vejo lá então. - Foram suas últimas palavras antes de sua saída.

Phunsawat nunca esteve tão confuso. Ambos conseguiram exatamente o que queriam, mas na manhã seguinte, nenhum dos dois tocou no assunto. Eles apenas sentaram-se em suas cadeiras, e colocaram seus materiais em cima da mesma mesa que Gun foi colocado com brutalidade pelas mesmas mãos que agora escreviam nas linhas azuis perante a concentração de Off Jumpol.

Era uma tortura nenhum dos dois dizer sequer uma palavra. Mas no fundo, Gun tinha medo do que aconteceria se eles dissessem algo. - Pois quando estavam entorpecidos quase como dois adolescentes com os hormônios a flor da pele, nada além de ter um ao outro parecia importar. Agora que sua mente estava clara, o medo de perder seu melhor amigo porque não achava esse título o suficiente consumia seu peito.

Gun arranjou forças para ir ao campo depois de terminar sua lição. Ele se sentou sob a arquibancada e assistiu Jumpol correr de um lado para o outro, como sempre sabendo trabalhar bem em equipe, estando a todo instante um passo a frente do adversário. Era quase impossível vence-lo em algo que ele amava. Off sempre foi muito competitivo, e o esforço que ele colocava em algo que ele almejava o deixava ainda mais atraente.

Era nítido o quão rendido Phunsawat era por seu melhor amigo. Tudo nele o encantava, tudo nele era atraente, e principalmente, tudo nele era importante para Gun Atthaphan.

Mas mesmo que ele quisesse acreditar nisso, sua amizade nunca seria o suficiente. - Ele podia esconder isso muito bem, mas suas fotografias não mentiam, tal qual as batidas rápidas de seu coração sempre que Jumpol o encarava na quadra de basquete, com seu uniforme suado e o cabelo molhado, almejando pela água fria.

As fotos continuavam carregando o mesmo sentimento, mas dessa vez era tudo ainda mais intenso. A cor quente, o enquadramento, o destaque na marcação de seu corpo e a atmosfera desfocada no fundo. Ver aquilo era quase frustrante para Gun, que mesmo após ter provado o que queria, continuava com o mesmo fogo consumindo cada parte de sua penosa pele sensível.

Ficar ali, o observando jogar, não estava ajudando em nada. Cansado de sua mente o sabotando, Gun desceu da arquibancada e foi em direção aos fundos da quadra, onde encostou na parede e observou o muro que o impedia de fugir e terminar com aquele dia.

Minutos se passaram, e não demorou muito para que Off mandasse uma mensagem.

— "Onde você está?"

— "Fui tomar um ar, eu já volto."

— "Você está literalmente ao ar livre"

— "Depende do ponto de vista"

Depois disso, ele desligou o celular e não pensou em liga-lo novamente.

Gun não queria viver essa história clichê de negação, mas até onde ele conseguiria levar essa história sem um título?

— Te encontrei.

E novamente, Jumpol conseguiu assusta-lo. Gun colocou a mão sob o peito, respirando fundo.

— Eu não estava escondido, de qualquer forma.

— Por que está evitando olhar pra mim?

— Eu não estou.

— Está olhando para seus pés agora. - Jumpol tocou com a mão esquerda o rosto pálido além do normal, e com a direita apertou a cintura modelada do que parecia ser de um frágil homem, mas estava longe disso. - Consegue se lembrar do que eu falei sobre você evitar o meu olhar?

— Pediu para que eu olhasse pra você.

— Eu não pedi, ter. Eu mandei.

— Pensei que estivesse evitando o assunto, então eu apenas o evitei também.

— E eu pensei que tínhamos sido claros ontem. Você pediu para que eu te tornasse meu naquela sala. Eu fiz isso, não fiz, Gun?

A concordância veio com um gesto de cabeça, e em seguida uma mordida leve no lábio inferior tão atraente de Atthaphan foi realizada por Off Jumpol.

Gun queria perguntar o que isso significava. O que exatamente pertencer a Jumpol significava para ele, mas não parecia muito bom discutir sobre isso na faculdade, então a pergunta sugestiva veio logo em seguida.

— Papi.

— Hnm?

— Pode ir na minha casa hoje a noite?

Jumpol sorriu e passou os dedos pelos fios macios do outro, confirmando.

— Eu posso. Quer que eu leve alguma coisa?

— Não. - Gun ficou na ponta dos pés e surpreendeu Jumpol com um beijo lento e quente, seguido por um selinho carinhoso, antes de completar a sentença: - É só pra conversar.

Admiração | OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora