Arriscar

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"Só para conversar." - Foi o que ele disse sem nem sequer saber por onde começar.

Gun resolveu ser diferente naquela noite. Fazer algo que ele não faria para um amigo, algo que em anos de amizade ele não fez para Off Jumpol. - "Se eram para as coisas serem diferentes a partir dali, então que assim seja." - Pensou enquanto cortava a carne sob o balcão, e dançava ao som da música que se repetia na sua cabeça por horas a fio.

Normalmente, quando Jumpol ia visitá-lo em seu apartamento, Gun preparava no máximo um balde com uma pipoca bem temperada. O jantar seria uma forma de expressar as coisas com mais de facilidade, já que Atthaphan não fazia ideia do que deveria dizer.

Com o jantar pronto, Gun decidiu por fim ir tomar um banho. Uma blusa longa e um short curto e confortável foi sua escolha mais óbvia, afinal, ele estava em casa.

As 20:00 o interfone tocou, anunciando a chegada de alguém que Atthaphan passou seu sábado inteiro esperando, e com o badalar da campainha, o pequeno correu para abrir a porta.

Quem encontrou atrás dela no entanto, foi um homem extremamente bem perfumado, usando a melhor roupa casual que encontrou, além do colar de marca que sempre esteve trancado a sete chaves. Apesar de ser uma das visões mais lindas que seus olhos de madeira queimada já viram, Atthaphan teve que segurar a risada.

— Você se esforçou. - Comentou para tentar amenizar o quanto que o gesto fofo fazia Gun achar graça.

Enquanto Jumpol entrava na casa, ele deu de cara com a mesa feita, onde estavam distribuídas as comidas favoritas dele.

— Você também. - Provocou de volta, Gun seguiu o olhar de seu amigo e encarou sua surpresa. - "Ele realmente não tinha moral nenhuma para falar sobre isso."

— Você gostou?

— Hnm. - Jumpol concordou com um sorriso largo e fechado. Depois, calmante tocou os ombros de Atthaphan e começou a massagea-los, vendo o pequeno tombar a cabeça para os lados com seus olhos fechados. - Obrigado, deve ter sido cansativo.

— Não muito. Mas se esperarmos mais a comida vai ficar fria e todo o meu trabalho não vai ter válido de nada.

Off tirou as mãos de onde estavam, e deixou que escorrega-se pelas costas de Gun, observando o seu corpo reagir em silêncio.

— Então vamos.

Atthaphan caminhou um pouco disperso até a mesa, e se sentou sob a cadeira, vendo Jumpol fazer o mesmo.

— Experimenta, eu quero ver a sua reação. - Gun deu um pouco de carne para Jumpol provar. Ele sabia que mesmo que estivesse ruim, Off diria que estava uma delícia, e continuaria insistindo nisso mesmo que não conseguisse morder a carne, ou que seus olhos começassem a lacrimejar.

Porém a reação foi diferente dessa vez, tudo foi genuinamente inconsciente.

— Está perfeito, eu quero mais. - O sorriso genuíno que se formou no rosto tão bem desenhado, fez Phunsawat sorrir também.

— Que bom, se não gostasse você ia comer mesmo assim, porque demorou pra fazer.

— Eu comeria. Mas eu sabia que estava delicioso.

— O que fez você ter tanta certeza?

— Tem algo sobre você, que apenas quem te conhece bem sabe. - Jumpol deu mais uma garfada naquela deliciosa carne antes de continuar. - A qualidade de tudo que você faz depende do seu sentimento sobre aquela coisa. As fotos, por exemplo.

Gun inclinou a cabeça para o lado:
— Não sei se entendi.

— Você é bom em fotografia, mas até você mesmo admite que as suas melhores fotos sempre são aquelas que você tira de mim. Sabe porquê?

Gun negou, tomando um gole do vinho.

— Porque independente do que você sinta por mim, é algo extremamente intenso e bom. Então você coloca o dobro de esforço

— Você não se acha um pouco convencido demais?

— Eu não disse nenhuma mentira. - Jumpol deitou sua cabeça em seu punho, encarando Atthaphan com um olhar absorto em seu rosto. - Acontece o mesmo comigo, eu nunca erro uma cesta quando penso em você.

— Mas você nunca erra.

— Exatamente.

Um sorriso vergonhoso surgiu no rosto doce de Gun, que não conseguiu manter contato visual e voltou a comer.

Quando terminaram, Jumpol ajudou a tirar a mesa e levá-la até a cozinha, que foram postas cuidadosamente no lava louças.

Mas mesmo após um longo jantar, Gun não perguntou o que queria. Estufando seu peito ele se virou para Off, que o encarou de volta.

— Papi, quero te perguntar uma coisa.

O homem encostou no balcão e cruzou os braços, sinalizando para que Atthaphan continuasse.

— É sobre... nós. - Ele apontou, oscilando o indicador.

Jumpol franziu o cenho e se aproximou um pouco mais.

— Certo, devo me preocupar?

— Não. - Ele falou rapidamente, negando com gestos. - Eu estive em dúvidas desde ontem, sobre o que aconteceu. Eu sei que é bobo, porque parece que já deixamos claro. Mas não sinto que foi claro o suficiente. Eu preciso saber com todas as palavras o que aquilo significou. O que eu "pertencer a você" significa pra você.

— "Aquilo que é propriedade de alguém" - Jumpol disse em um tom sereno, encostando o corpo de Gun rente a bancada da cozinha, tocando seu rosto com uma mão, enquanto a outra o detinha naquela posição, impedindo Atthaphan de se mexer.

Mas mesmo que ele pudesse, ele não o faria, ele apenas ouviu em silêncio. - Você ser meu, significa que só eu posso fazer isso com você. - Jumpol provou os lábios que agora estavam tingidos de roxo, com o gosto do vinho caro, a língua áspera e molhada invadindo sua boca com lentidão e longe de sua saciedade. Quando Gun estava prestes a se afogar em seu beijo, Jumpol o cessou.

— É só isso? - O tom frustrado foi cômico para Jumpol, que se aproximou novamente deixando um selar na bochecha de Gun, sussurrando em seu ouvido, o fazendo estremecer.

— Pensei que só quisesse conversar.

Off não mentiu, e Atthaphan sabia que se respeitasse sua faísca de desejo, ele não conseguiria mais voltar no assunto.
Mas no fundo, Gun não sabia se queria uma resposta.

— Papi, você não tem medo do que pode acontecer se seguirmos em frente? - Ele perguntava enquanto escorregava seus dedos pelo corpo do homem na sua frente.

— Não existe coragem sem medo. Eu gosto de você, Ter, e eu estou disposto a continuar com isso.

— E se as coisas mudarem? - Franzindo o cenho o menor perguntou, recebendo a mão quente de Jumpol em sua bochecha. - E se a nossa amizade acabar por isso? E se você se afastar?

— A mudança nem sempre é ruim. E a nossa amizade... ela ainda existe, não existe? Mas não me peça para te olhar do mesmo jeito que eu olhava antes de você me beijar. Porque nem que eu quisesse eu conseguiria me imaginar sem fazer isso mais uma vez, e adivinha? Eu não quero.

Gun ficou em silêncio. Ele já havia estado com outras pessoas no passado, não em um relacionamento sério, mas para ele, o amor romântico sempre foi muito instável. Jumpol por si só já havia estado em diversos relacionamentos, e todos não duravam muito. - Ele não queria ser só mais um na lista dos que deram errado.

Mas ele também não conseguiria ver Off da mesma forma que o via antes de sentir seu sabor.

— Já fomos longe demais, não é? Qual seria a graça de voltar atrás depois de ter trazido o seus sentimentos... e os meus, a tona.

— Eu quero arriscar com você. Não precisamos dar um título pra isso se não estiver tão seguro. Mas eu não quero ser só um amigo de novo, eu não consigo.

Gun inclinou seu corpo para frente e roubou um selar do homem que o olhava com medo de que Atthaphan desistisse.

— Então termine de me mostrar os lugares que só você pode tocar.

Admiração | OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora