Carta de amor - Fim

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Prezado Jumpol Adulkittiporn

Venho por meio deste, dizer que todos os dias tento te apagar da minha memória. Mas para te esquecer eu precisaria ignorar quase toda a minha vida, então escrevo isso com raiva de mim, raiva por compreender que não posso te culpar pois, foi eu quem te mandei embora.
Queria que se imaginasse na seguinte situação:
No altar, enquanto olha para o seu parceiro, você sabe que se outro homem em específico o pedisse para te abandonar no altar, ele o faria sem pensar duas vezes. Essa é a situação do meu noivo, que compreensivamente sabe que eu nunca vou ama-lo como te amei, e que eu só o escolhi porque você não estava aqui; não pense que admito isso com orgulho, me sinto profundamente patético e egoísta.
Há quanto tempo você se foi? Eu parei de contar a partir do terceiro ano; mas creio que já tenham se passado cinco, e como um cientista, estou preso na máquina do tempo que eu mesmo criei.
Desde a sua partida, descobri que sou ótimo quebrando promessas: a primeira foi quando eu soube da notícia que você jogaria como ala em seu primeiro campeonato profissional, lembro-me do dia em que eu te prometi que, quando isso acontecesse, eu estaria na arquibancada gritando o seu nome. Mas queria que você soubesse, que eu cheguei a comprar o ingresso e a passagem, porém, a caminho do aeroporto eu desisti. Além de um ato de covardia, também foi o dia em que eu percebi que se algum dia eu te encontrasse de novo, eu abandonaria tudo que construí.
Depois disso eu me lembro de ter bloqueado o seu contato, e a última mensagem que você recebeu de mim foi um breve "Boa sorte", sinto que você sabia que aquilo era um adeus.
Eu tentei te excluir de tudo, mas continuava tendo contato com a sua família, talvez porque com elas eu ainda sentia ter você por perto. Ontem a noite, a sua irmã me ligou... e foi a primeira vez em que eu recusei, talvez esse tenha sido o meu ultimato.
Escrevo essa carta com a esperança de que após o ponto final eu deixe você ir, saía daqui e consiga dizer pela primeira vez ao meu noivo que o amo; estou a um passo de acreditar no papai Noel também.
Você deve estar se perguntando se eu me arrependo de ter te beijado naquele dia, mas como eu poderia? Não, eu não me arrependo de ter te amado. Mas me arrependo de tê-lo conhecido.
Eu acho que você gostaria de saber que eu fui para Paris depois que você se mudou, lá eu recebi uma proposta incrível e consegui me tornar um artista autônomo, conhecido por estar em todas as manifestações em prol dos direitos tailandeses, em especial o casamento igualitário.
"Casamento igualitário"... por vezes me pego pensando se você conheceu alguém, e se conseguiu ama-la ou ama-lo tanto quanto me amou. Queria dizer que genuinamente espero que sim, porque você merece isso, Off Jumpol.
Me pergunto como seria se eu realmente te encontrasse mais uma vez, há tantas coisas que quero te dizer. Mas provavelmente nossos olhares se prenderiam um no outro em um silencioso som de dor e nostalgia, nos consumiria até que um de nós decidisse quebra-lo com um lamentoso "oi", e o assunto morreria, com a presença de um elefante na sala que nunca faremos a questão de dispensar.
Eu te amo, Off Jumpol, eu te amo como Radha amou Krishna, e para sempre a minha alma será sua. Mas eu espero que entenda, que eu preciso viver, e para que isso aconteça eu não posso mais te levar em meu coração, preciso queima-lo junto com as fotografias que um dia pensei eternizar; adeus, e eu espero que na próxima vida eu possa ser seu.

Com amor, Atthaphan Phunsawat

Gun encarava com pesar a folha manchada em lágrimas tão salgadas quanto um oceano. A luz do quarto estava escura, e aquele papel manchado em palavras dispersas era iluminado apenas pelo abajur alaranjado.

O menor não queria fazer barulho, pois, o homem com quem aceitou se casar dormia como pedra atrás de si. Ele olhou para aquele adormecido e suspirou com o cenho franzido; em seguida levantou-se e abriu o armário, recolhendo uma caixa e levando a carta até o andar debaixo.

Ele aproximou-se da lareira e a ascendeu, observando-a em silêncio por alguns minutos, parado enquanto pensava profundamente em todas as decisões de sua vida. Ele leu por uma última vez tudo aquilo que escreveu, e riu em contragosto, negando com a cabeça.

Logo após isso ele jogou-a no fogo, e abriu a caixa. A sua feição apática agora era pincelada por uma lágrima tímida, que pigou nas memórias as quais ele guardou com apresso e angústia de Off Jumpol. Ele observou a foto que tirou enquanto ele dormia, a apertava em seus dedos até às pontas ficarem brancas, como quem não queria deixá-las escapar. Mas no fim, todo aquele amontoado de coisas queimou no fogo, servindo como gasolina para aumentar uma chama ardente.

— O que está fazendo acordado? - A voz do homem vindo das escadas fez Gun virar a cabeça. Não teve resposta, o menor apenas sorriu e observou-o se aproximando, o abraçando por trás com o queixo em seu ombro: - Teve um pesadelo, querido?

— Sim.

Admiração | OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora