Aquecimento

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Os dois estavam sentados rente aquela mesa de vidro. Arm ouvia atentamente tudo que seu sogro tinha para dizer, com uma esperança avassaladora que consumia cada particula de seu corpo.

Ele entendia o que aquele homem dizia quando colocava a imagem do seu filho a frente de sua empresa. Ele sabia que o país em que viviam não acataria a ideia de ter um representante gay dirigindo uma marca de renome como aquela, seria visto como depravação.

E Arm amava Tay, ele o amava com cada particula de quem ele era. E estava disposto a quase tudo para poder chamá-lo de seu; mas havia algo Chansook que em poucos estava realmente presente: o amor próprio.

Ele sabia que para amar alguém você não precisava abdicar-se do amor que sentia por si mesmo. Mesmo entendendo o que levaria ao término de seu namoro dos sonhos, ele jamais estaria disposto a se esconder em um armário por outra pessoa, abrir mão do seu sonho de moldar uma marca representativa e ser reconhecido por ajudar sua própria comunidade através da arte. Mesmo que essa pessoa fosse de fato o amor da sua vida.

Já Tawan, amava Arm o suficiente para abdicar-se do que era seu por direito.

— Tay não vai herdar a empresa se você concordar com os termos.

— Como é? Ele não pode fazer isso. - Arm quase gritou, aquela era a vida de seu namorado. Sua chance de sair da faculdade já no topo, sem precisar começar do zero. Qualquer caminho além desse parecia intragável na visão de seu parceiro.

— Juridicamente ele pode. Não seria necessário continuar com a linhagem, mas indo por esse lado meu irmão comanda a empresa quando eu me aposentar. E nós não estamos em um filme clichê, meu irmão é ótimo no que faz, essa agência estará em boas mãos.

— Mas e o Tay? Como fica o futuro do meu namorado?

— Não vou deixar meus filhos de mãos atadas. Eu te respeito, Arm, e respeito o amor que o meu Tawan sente por você. Pretendo financiar seu lançamento no mercado de trabalho, sem expor nossa ligação, pago a mídia que você precisa e auxílio você no desfile de abertura para apresentar a sua marca. Mas tudo isso deve ficar por trás das cortinas.

— E onde o Tay entra nessa história?

— A marca estará no nome de vocês dois. Trabalharão juntos.

— Mas então no que isso iria diferenciar? Ainda é o seu filho. Nos assumirmos a mídia não vai atingir direto a sua marca de qualquer jeito?

— A marca não tem o meu sobrenome. Apenas o meu rosto, contanto que Tay não gerencie diretamente a corporação pouco importa o que ele faça. Isso pode até causar um impacto negativo na imprensa, mas não o suficiente para atingir em níveis absurdos as estatísticas. Eu não sou o homem que fundou a Hèrmes, sou apenas um dos representantes.  

— Tay. - O rapaz virou seu rosto para encarar o do namorado, que por sua vez parecia inabalável.

— O que acha?

— Você tem certeza disso?

— Eu tenho certeza que quero você para o resto da minha vida, Arm. E seu sonho é lindo, seria uma honra fazer parte dele. Eu não estou abrindo mão do meu futuro, só estou o adaptando para que possa acontecer do seu lado.

Um silêncio e um sorriso ingênuo foi a confirmação que Tawan precisava. Convencer seu pai não foi uma tarefa fácil, chegarem a um consenso muito menos. Porém mais que um empresário ele era o homem que criou Tay desde o seu nascimento, e se aquilo era o caminho que o mais novo havia optado por seguir, o homem faria de tudo para que seu filho tivesse sucesso.

Alguns não tinham escolha a não ser abrir mão de um sonho por outro. Se ambos tinham a chance de conciliar os dois, então assim fariam.

Seguindo os conselhos de seu melhor amigo, mesmo não concordando com essa política capitalista dentro da arte ela ainda existia, e Tay era privilegiado dentro desse sistema. Tendo ciência disso ao menos usaria ao seu favor.

Admiração | OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora