€-- Sentia uma dor enorme nas costas. É claro. Minha mãe era pesada e eu tinha dez anos.
€-- Não preciso de ajuda. Não somos iguais!
€-- Mas isso não duraria muito mais tempo. Logo ela se libertaria de mim. Logo logo, sua vida voltaria a ser como...
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-- Sete anos atrás --
Sentia uma dor enorme nas costas. É claro. Minha mãe era pesada, estava molenga, e eu só tinha dez anos.
- Fique acordada, mamãe - supliquei aos prantos. - O hospital está logo ali, falta só mais duas esquinas.
Ela tentou responder, tentou dizer que conseguia andar sozinha. Que estava tudo bem. Mas tudo o que conseguiu fora uma crise de tosse, junto de uma rajada de sangue, que respingou sobre meu ombro, bem no lugar onde sua cabeça estava encostada. O vermelho carmesim marcou minha blusa branca, observei cada gota escorrendo até se infiltrar completamente no algodão.
Estava horrorizado. Comecei a chorar desesperado, sentia as lágrimas descendo até meu queixo e caindo, uma a uma. O medo de não chegar a tempo, vozes e mais vozes invadiam a minha cabeça. Se eu não chegasse a tempo a culpa seria minha, só minha.
Minha mãe chorava baixinho, estava sem forças para reclamar ou qualquer coisa do tipo. Ela estava jogada nas minhas costas. E eu não era alto, então seus joelhos se arrastavam no chão. Eu tinha que chegar no hospital.
A cada pedido de desculpas falho que saia de sua boca, meu coração batia mais rápido. Angustiado, medroso. Não podia perde-la, não tinha mais ninguém nesse mundo.
Seus olhos começaram a se fechar. E meu coração errou a batida.
Corri, mesmo com meus joelhos latejando de dor. Corri, o hospital estava do outro lado da rua.
Maldita hora para tudo estar deserto.
Respirar tornou-se difícil. A cada passo que eu dava, sentia como se meus tornozelos rachassem, cada vez mais. Estava doendo, mas eu tinha que aguentar. Precisava.
Entrei no hospital, gritando por socorro. Estava vazio, apenas os funcionários viram uma criança de dez anos ensanguentada, carregando uma mulher com o dobro de seu tamanho nas costas.
Eles olharam assustados. Mas agiram rápido, colocando minha mãe na maca e a levando para longe.
Eu tinha esquecido de respirar, a ansiedade não me deixava. Caí no chão, já sem forças. Minhas pernas pulsavam, minhas costas não se mexiam de jeito nenhum. Meu peito doía, não conseguia respirar. Minha garganta estava ardendo.