XIX • Longa madrugada

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Ara não tinha ideia como conseguiu tanta coragem para entrar em uma carruagem desconhecida e deixar o castelo, correndo o risco de algo tremendo acontecer enquanto estivesse fora dali. Jhon logo poderia sentir sua falta se o feitiço falhasse, ou até mesmo se ele não fosse poderoso o suficiente para que se mantivesse por tanto tempo. Dado as circunstâncias do momento tinha que atribuir toda a sua confiança a Nell, e a mais ninguém, mesmo sua mente relutando contra a razão dos problemas.

Os cavalos negros e reluzentes a levavam para longe dali, sobre a luz de um luar incomum, claro, misterioso. Seu corpo tremia levemente de frio, e ela teve que se encolher para que o vento não transpassasse suas meias finas e tecidos da saia longa que compunha um vestido da cor de felugem, já velho e encardido. Suas mãos seguravam firmes sobre o peito que batia forte pela adrenalina que havia disparado. Ela se perguntava o que estava exatamente fazendo, e que o impulso de suas ações envolviam uma só pessoa que queria muito proteger. O desconhecido a lançava para um paredão de tijolos frágeis e quebradiços.

Quando o cocheiro bateu na portinhola, com a mão revestida de um branco translúcido, a moça se assustou. Mas logo teve um olhar para fora. Ele havia parado perto de um campo de arroz, pode ver o lua grande e parecia extremamente perto, arremetendo a um cenário fantasmagórico, nunca visto por seus olhos antes. E o palácio se mostrava bem naquela direção.

- A senhorita Nell lhe deu as instruções para entrar no castelo de Henry, certo? - o homem lhe disse, estendendo a mão para que ela descesse.

- Sim... Mas acredito que tenha um caminho menor. Me parece longe e esses campos devem estar em uma lambança...

- Não há. Siga esse caminho que antes do amanhecer estará lá.

Ara o olhou com a testa franzida, estava com medo, disso não poderia negar, nunca havia feito algo assim antes, claro que estava preocupada.

- Muito obrigada. - ela o agradeceu, passando as mãos pelo vestido, e ergueu o queixo. Precisava de um pouco mais de coragem, e estufou o peito.

- Até mais.

- Até mais.

Ouviu as ferraduras dos cavalos estrépitos sobre a chão de barro, voltar naquela mesma direção que vieram, e se virou a vendo desaparecer na noite como uma mágica. E ela estava ali, sozinha em um caminho desconhecido, sobre os olhos de uma lua gigante e um vento que corria por seu corpo como se a estivesse testando. Adam estaria há alguns metros dali, sabe Deus como estaria. E isso lhe deu um impulso que precisava para começar a caminhar pelo campo aberto, afundando os pés na lama e poças grande de água. Na metade do caminho teve que retirar suas sandálias, pois uma havia arrebentado as cordas, e ela as lançou longe.

Pisando em terreno firme, se escondeu em uma das grandes pedras, olhando ao redor para saber se havia perigo a sua vista. Nada de cachorros, pelo menos. Andou mais um pouco com os pés doloridos pelos pedregulhos, e se escondeu novamente quando viu um guarda vestido de um uniforme azul escarlate, e as botas longas pretas. Nell havia posto no feitiço algo para que disfarçasse seu cheiro humano, ou eles acabariam a encontrando, pois o sangue de Ara era tão doce que chegava a ser como o mel das abelhas, o que seria um prato e tanto para os alfas.

Enquanto isso em um dos quartos do castelo, Henry estava compenetrado em um livro sobre a história do rei Arthur. Seu semblante calmo sobre uma pele firme e fria. O dedo indicador e o polegar seguravam seus lábios, os pressionando vez ou outra enquanto seus pés iam da mesa até a estante, sem tirar os olhos do livro.

Era uma noite calma, ele a queria manter dessa forma, assim conseguia pensar com mais clareza no seu próximo passo, e torturar um pouco mais seu prisioneiro com a espera. Não havia como não dar errado, ele pensara em todas as possibilidades e estava em vantagem, mesmo sem um plano b definido. Ele iria usar Adam, o mantendo de seu lado, isso agitaria a raiva dos outros clãs, e ali estava seu motivo para começar uma guerra de poder. Estava tudo esquematizado, apenas uma aparição pública de Adam e tudo começaria.

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