XIV • A obstinada Ara

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"Nós podemos ficar aqui por mais algumas semanas. Estou ajudando a filha da senhora da pousada com algumas costuras, e até mesmo estou ganhando alguns vestidos!" Ara dizia, quase que eufórica.

Não sabia porquê, mas estava muito animada naqueles últimos dias. Acordava de manhã, bem cedinho, se trocava e ia para um salão onde uma dúzia de mulheres se reuniam para costurar e tecer. E especialmente, havia arrumado amizade com Luna, a filha mais nova da senhora que os acolheu na pousada. Ela era uma moça muito doce e ingênua. Mas sabia ter uma boa conversa, e elas acabavam conversando de tudo!

Em resumos aos últimos dias, Ara estava se sentindo feliz, realmente fazendo algo que a deixava bem, e aprendendo muito.

Adam, que estava sentado em uma cadeira, no canto do quarto, a olhou. E vendo a expressão dela, ele sentiu algum tipo de apreciação.

"Você ganha esses montes de vestidos. Como pensou que irá levar essa bagagem toda?"

Ara estalou a língua.

"Deixa de ser estraga prazeres. Até mesmo estou fazendo uma camisa para você. Aliás, preciso lavar essa sua roupa."

Adam olhou para baixo, resvalando as mãos pela sua roupa.

"Não precisa. Ainda estão limpas."

"Adam, não estão. Ontem mesmo você saiu para não sei onde. Vai saber por onde andou..." Ela comprimiu os lábios. Ele costumava ficar fora durante o dia.

"Está bem." ele disse, após ver a expressão dela. "Vou tirar."

Ara ficou parada o encarando. Quando Adam começou a tirar o blaser, ela imaginou que ele estivesse brincando, que não iria se despir na frente dela. Mas após ele abrir a camisa, ela teve que o repreender, de modo que seu rosto ficou rubro.

"Adam! Esperasse que eu saísse primeiro!"

"Estamos quase casados..."

Ara jogou a primeira coisa que pegou da cama, em direção dele. Foi certeiro.

Adam a olhou com a testa franzida.

"Está sendo imprudente." ela o avisou.

Adam soltou uma risada com escárnio. Mas depois se recompôs. Ao ver que Ara ficava cada vez mais vermelha.

"Não se preocupe, não iria fazer isso em sua frente. Só estava brincando."

A verdade, era que Adam nunca dividira espaço com uma mulher antes. E aquilo estava sendo uma experiência e tanto.

"Bom, continue. Vou me virar." ela lhe disse, tampando o rosto de vergonha ao se virar.

Adam terminou, vestiu a roupa limpa e deixou a suja na cadeira.

"Você sabe que não devemos demorar muito por aqui. Só mais duas semanas e partiremos."

Ara se virou, com a expressão triste. Por ela, ela adoraria ficar ali para sempre. E era um lugar onde ninguém a encontraria, era nisso que acreditava. E também, ela não pensava tanto em sua família, com tantas tarefas para fazer durante o dia.

"Você ainda pode voltar. Sua família está te esperando." ele disse num tom baixo. Não sabia como aquilo também havia lhe afetado. Logo ele que não se importava com nada além dele mesmo.

"Não irei." ela disse obstinada.

"Por que fugiu comigo, Ara? Às vezes penso que isso não tem sentido."

Ela o viu ajeitar o blazer. Adam era tão bonito. Ela tocou seus próprios lábios, relembrando o dia em que ele a beijou na floresta. Quando as armaduras de seu coração foram colocadas para baixo, abrindo passagem para uma paixão que estava crescendo em seu peito. Muito provável que ele tenha ficado com muitas mulheres, vindo de vários lugares. E se ele tivesse feito aquilo por impulso? O que era óbvio, mas ela queria acreditar em algo a mais.

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