XVIII • Beijo do Diabo.

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A primeira noite de Ara no castelo fora um tanto perturbadora. Ela conseguia ouvir os cães a metros abaixo como se eles estivessem na janela ao lado. Conseguia ouvir o ranger dos dentes, os uivos, os latidos, as brigas por comida. Ela se virara de um lado para o outro, já que não podia se levantar por ordem de Jhon, e o mais assustador era que mesmo se quisesse dormir não conseguiria também ao saber que havia um guarda sentado bem em frente a sua cama. Ela não fechara os olhos nem por um momento sequer.

Estava tão preocupada com Adam. Tão preocupada a ponto de sentir seu peito se apertar por apenas respirar. Olhava para o teto e a única coisa que vinha a sua mente era ele. Pensava em trassar planos para sair dali, mas sempre que acontecia lembrava das últimas palavras do irmão mais velho dele, "vamos trazê -lo de volta." Por mais que não acreditava nas palavras do homem, era a única coisa que podia se agarrar no momento. Ademais, sua mente e coração gritavam por um solução imediata. Um plano em que ela mesma pensasse, para que no fim de tudo pudesse olhar para Adam e se sentir aliviada por ter feito tudo que pode para o livrar das garras inimigas.

Mas mal sabia, Ara, que Adam era o inimigo.

Jhon estava em seu escritório. Batendo incessantemente a ponta do lápis contra a madeira de sua mesa. Era o décimo que estragara. O lixeiro estava cheio até o topo de papéis e páginas arrancadas de livros antigos de seu pai. Estava tentando pensar em uma alternativa melhor. Pensando em um plano c, d, e. Havia uma criada ao seu lado o colocando água quente a sua xícara de chá a cada quinze minutos. Água desperdiçada pois não tocara em sua boca nem uma vez sequer.

Sentindo falta de Nell, ele mandara a trazer imediatamente.

Quando a feiticeira chegou ali, com os cabelos emaranhados e soltos, ele riu assim que pousou seus olhos na mulher, mas não era uma risada descontraída, era a risada que dava calafrios, até mesmo nela que o conhecia há tanto tempo.

- Estava fazendo uma poção... - ela disse, logo franzindo o lábio. - O senhor gostaria de minha ajuda para algo?

- Se eu não precisasse não teria a chamado, certo?

Ela rolou os olhos e foi se sentar na poltrona, cruzando as pernas e o olhando de forma para seduzi-lo. Jhon nem sequer a olhou, concentrado em um objeto como uma adaga de prata finíssima em suas mãos.

- Eles vão vir. Muito sabiamente da parte de Henry me chantagear com meu irmão.

A mulher soltou um suspiro indo até a mesa, e pegou a xícara que estava sobre ela, jogando o líquido morno todo por sua garganta. Limpou os lábios com a própria língua, e deixando o objeto de porcelana, pousou suas mãos nos ombros frios do homem, iniciando uma massagem tranquila.

- Vou precisar de um de seus feitiços para caçar as memórias de Adam de novo, ele pode ter tido alguma conversa com o Alfa.

- Sim, senhor...

- Preciso disso agora, Nell. - disse John com a voz inalterada, firme.

Ela se afastou franzindo a testa, derrotada. Sabia que não iria conseguir o que queria aquela noite. Das vezes que os dois se beijaram, havia partido do homem, era ele quem decidira. Era tudo ele. Nada ela. E por muitas vezes ter tentado e falhado chegara a uma conclusão de que ele só a queria quando lhe era conveniente. A verdade era que, lhe era perda de tempo querer ser amada, por alguém que nunca amara ninguém além de si mesmo, e se já chegou a amar a si mesmo.

- Amanhã. Já está tarde para mim. Você não dorme, mas eu sim, Jhon.

Ele a olhou com as sobrancelhas arqueadas, quase em uma expressão incrédula.

- Te chamei a meu serviço. Está me dizendo agora que devo esperar até amanhã? Estou dizendo agora.

- E eu estou dizendo que amanhã ao amanhecer podemos fazer isso. Estou cansada... - ela disse a última palavra num tom baixo, quase inaudível. - Passei o dia ajudando você em seu plano A. Sou humana apesar de tudo.

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