IX • O irmão mais velho

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Pine Wood
1870



John estava fazendo uma espada de madeira, precisamente e meticulosamente, que já estava deixando Adam com certa impaciência. O mais novo cruzava os braços e andava para lá e para cá, as vezes em zige zage; ele não via a hora do irmão termina-lo, para assim irem brincar, mas John era lento demais, gostava das coisas tudo bem feitas, e isso sempre irritava ele.

"Nesse meio tempo pode acontecer de um meteoro atingir a terra e matar todos nós. Você sabia? Você não vai ganhar um premio por ter feito a melhor espada de madeira de Pine Wood." Adam retrucou, dessa vez bem perto do irmão.

John parou o que estava fazendo, os últimos retoques. Só faltava afinar mais a ponta da espada. Olhou para o irmão com paciência e disse:

"Tenha calma. Sem paciência não há perfeição."

Adam revirou os olhos, de um verde tão escuro quanto as folhas de Victoria.

"Não existe perfeição." ele respondeu irmão, irritadiço.

"Sim, existe. Se você trabalha muito em algo, de forma paciente e precisa, você pode chegar a esse resultado. Mas você não entende, não é mesmo? Não consegue se segurar de você mesmo." As palavras duras de John atingiram o peito de Adam.

Sim, o mais novo era de um tipo de impaciência que não dependia da perfeição. Tudo precisava ser começado e acabado. Mas não exigia tanto tempo; não exigia perfeição para nada.

"É só uma espada." Adam retrucou de novo, enquanto se jogada na grama bem aparada e verdinha, levemente úmida pela chuva da manhã. "Já perdeu a graça. Não quero mais brincar de cavaleiros.

"Bem, vou chamar Charlotte."

Adam levantou a cabeça no mesmo instante.

"Por que?"

"Porque você disse que não quer mais brincar."

"Você não pode me substituir assim, irmão."

"O dia que você se tornar mais paciente poderá brincar comigo." John disse, pegando as duas espadas de madeira que havia feito com tanto afinco e saiu, correndo para dentro do castelo, gritando para Charlotte.

Adam voltou a deitar a cabeça. Começou a sentir algum tipo de chateação pelo irmão, por si mesmo também. Isso acontecia com muito frequência, o mais velho sempre o deixava para trás e encontrava alguém melhor para brincar. Porque o mais novo não chegava a ser um modelo de criança perfeita, muito longe disso. Ele sempre via as coisas com certa pressa. O mundo estava correndo, logo ele se tornaria um ômega, mesmo que ainda faltava belos anos para isso acontecer e muito treinamento. Ele só pensava que quanto mais coisas fizesse no dia poderia se esquecer que estava deixando de ser uma criança.

Assim que ele voltou para o castelo encontrou Cecília nas escadas que davam para os aposentos. Ela segurava um livro em mãos, com vários outros espalhados pelo chão. Parecia tão imersa em outro mundo, que mal percebeu quando Adam se sentou ao seu lado.

"Vamos brincar de cavaleiros?" Ele perguntou-a. Demorou alguns segundos até que a menina fechasse o livro que estava lendo e se virasse para o amigo.

"O que aconteceu? John te deixou para trás de novo?" Ela perguntou com um tom de sarcasmo.

"Ele disse que eu sou muito impaciente."

"De novo?"

"O que eu posso fazer?"

"Nada." Ela voltou a abrir o livro.

"Nada? Ah, bem. Não tenho mais ninguém para brincar."

Adam era atento a verdade. Tudo que saía da sua boca era sincero e sempre carregado de sentimentos.

"Estou lendo agora, Adam. Não posso brincar de cavalheiro com você. E também eu sou uma menina. Meninas não devem brincar dessas coisas."

"Mas Charlotte brinca."

"Eu não quero brincar com você."

Adam ficou encarando a menina. Como as palavras poderiam ter saído tão duras?

John estava atravessando o salão com Charlotte quando viu os dois nas escadas. Ele parou e disse:

"Estamos procurando feno par fazer nosso castelo. Cavalheiros precisam de um castelo para morar." John disse segurando alguns suplementos. "E já temos comida."

Cecília arregalou os olhos em animação. Jogou o livro junto dos outros e se levantou ajeitando o vestido.

"Posso ajudar?"

"Certo, só precisávamos de mais um cavalheiro." John a sorriu. "Venha conosco."

E mais uma vez Adam havia sido deixado para trás. As crianças partiram, em busca de feno. Ele seguiu para a biblioteca, porque era a única coisa que poderia fazer sozinho era ler.

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