XIII • Jhon

25 0 0
                                    

Jhon estava sentado em seu gabinete. Um lugar que cheirava a madeira recém pintada.

Com o peito cheio de orgulho por ter finalmente um lugar só seu para gerenciar os negócios de seu clã. Ele teve que abrir um sorriso, descendo o peito em alívio.

Mas seus criados logo bateram a sua porta. Com a permissão de Jhon eles adentraram, com hesitação. Com os rabos encolhidos por medo de repreensão eles se aproximaram com suas espadas, guardadas nas bainhas, porém com os dedos fortemente cravados ali.

"Falem." Jhon ordenou.

"Quando chegamos lá, procuramos e perguntamos em todo lugar. As pessoas ainda estão assustadas pelo que ocorreu." Um dos criados disse, com os olhos sempre voltados para o chão.

"Continue."

"Havia um rapaz, que vivia num barraco perto da floresta. Alguém que eles nunca desconfiaram ser de algo sobrenatural. Estava de caso com uma moça. Que era filha um dos comerciantes. Também se chamava Adam."

Jhon cerrou os dentes de leve.

Eles estavam procurando em cada vilarejo daquela região, há bastante tempo.

"Eles não tinham nenhum registro?"

"Não, senhor. Disseram que esse rapaz não tinha nome em cartório, e nem família tinha. Nunca fora registrado em lugar algum."

"E para onde ele foi?"

O mais velho que falava, deu um passo para trás.

"Ele fugiu. Ninguém mais o viu. Disseram que ele levou essa moça."

Jhon bateu com o punho na mesa. Não conseguia acreditar que depois de anos de procura, quando eles finalmente acharam seu esconderijo, ele simplesmente fugiu para outro lugar de novo. Jhon queria asmagar a cabeça de alguém, com tanta raiva que estava sentindo.

"Aquele..." ele comprimiu os lábios fortemente.

"Isso é tudo, senhor."

"Saíam. Quero que continuem procurando. Por cada parte daquela Coreia. Ele não deve ter ido muito longe." Jhon ordenou, com os punhos cerrados.

Assim que os criados saíram, Jhon abriu uma gaveta que ficava ao seu lado direito. Havia muitas coisas ali que ele não queria expor para que outras pessoas pudessem ver. Mas tinha algo que ele mesmo não queria ver.

Pegou em mãos um retrato. Ali estava ele e seu irmão mais novo. Era uma cena um tanto quanto cômica. Pois Adam estava pendurado como louco no balanço, tanto que a foto estava meio borrada. E Jhon estava com os braços cruzados no peito, com a expressão tão fechada que poderia se comparar com uma tempestade em formação.

Ele não sorriu.

Não esboçou nenhum ricto sequer.

O que ele nunca entendeu, como teria guardado tanta raiva do irmão nessas últimas décadas. Como se ao crescerem, isso fosse se moldando de forma que chegasse aqui, e ele já não suportara se sentir dessa forma. Como uma bomba relógio, que tictaqueava dentro de seu corpo.

Ele realmente queria achar Adam, sim ele acharia, nem que fosse preciso dar o seu único núcleo de poder interior para que o irmão estivesse em suas mãos. E foi com esse pensamento que suas mãos cravaram a borda do retrato. O jogou de volta ao fundo da gaveta.

Bateram na porta mais uma vez, e sentindo a presença conhecida, ele se levantou e caminhou até lá. Queria receber a pessoa bem.

Uma mulher, com traços exuberantes, lhe sorriu. Seus cabelos eram loiros e longos, um comprimento que chegava até a cintura com grossas ondas. O perfume que ludibriava qualquer que fosse o homem. E um sorriso de tirar o fôlego. Essa era a feiticeira mais poderosa do clã Nosfetaru. Uma mulher que veio de muito distante com sua família, e desde então tem se tornado de extrema importância ao clã.

Jhon não sabia o que fazer sem ela.

"Você parece tão abatido." ela começou, pousando sua mão no rosto dele.

"Adam fugiu mais uma vez. Não espere que eu esteja bem." ele disse de forma séria e fria. Analisou o rosto da mulher, e tirou a mão dela de seu rosto.

"Hum. Com um péssimo humor também. Seu irmão ainda tem um incrível poder sobre você, mesmo de longe."

"Não me provoque."

Colocando a mão na boca, ela se calou, sem deixar o sorriso.

"Então, me chamou por causa disso?"

Jhon fez menção para que ela se sentasse. Então ambos ficaram de frente para outro, cada um sentado em uma poltrona.

"Vejo que terminaram de reformar o lugar. Ficou ótimo. Na verdade, ficou a sua cara." ela sorriu de canto, tirando as luvas negras.

"Majestosa?"

"Fria e rústica."

Jhon soltou um suspiro.

"Pois bem. Vamos ao que interessa." ele fez uma pausa antes de continuar. "Preciso da sua ajuda para encontrá-lo, Nell."

Esse era o nome da feiticeira, que só Jhon poderia chamar. Era algo íntimo deles. Com isso ele queria dizer que confiava inteiramente nela, para qualquer coisa.

"Quer que eu use a magia... Mas você sabe que seu irmão tem o poder de camuflar a energia de seu núcleo. Vocês só acharam o lugar onde ele esteve por bastante tempo, porque ele estava vulnerável. Ele poderia não estar caçando."

"Não. Ele poderia ter se apaixonado." Jhon disse ríspido, passando os dedos pelos lábios. Um sorriso brotou ali, como se tivesse tido a mais brilhante das idéias. "Esse maldito se apaixonou."

Nell analisou a expressão de Jhon.

"Se ele se apaixonou, então será muito fácil de capturá-lo." ela disse. "Não precisará da minha magia."

"A sua magia pode chegar lá antes. Nell, se for precioso mate a garota. A dor que ele sentirá vai ser valioso para nossa procura. Ele chegará aqui de joelhos."

A feiceira passou as mãos pelo cabelo brilhante, pensando.

"Você nunca se apaixonou antes, Jhon?"

O homem a sua frente franziu o cenho.

"A paixão é desconfortável e irracional. Você não vai achar nenhum traço de irracionalidade em mim."

A mulher assentiu, realmente concordando. Jhon nunca nem amara alguém na vida, ele nem mesmo sabia como era a sensação. Como poderia compreender o irmão?

"Está bem. Irei te ajudar. Hoje a noite irei elaborar um feitiço, e te vejo pela manhã." Ela se levantou, pegando seu casaco. "Saiba que terá um preço por isso."

John a acompanhou até a porta, mas ela parou no caminho.

"O que foi?"

"Não irá me perfuntar qual o preço?"

"Hun? Você nos presta serviços de graça."

Ela soltou uma risada, sendo abafada pela mão.

"Quero você."

Jhon a olhou sem qualquer mudança de expressão. Como se aquelas palavras fossem como qualquer outra.

"Está bem." ele a disse, e estendeu sua mão para alcançar o rosto dela.

Mas as mãos de Jhon nunca eram quentes. Emanava um frio congelante, como se nunca tivesse conhecido o calor. Seu corpo todo era dessa forma. Ele não treinara seu corpo para ser como a dos humanos. E isso também queria dizer que não poderia dar filhos a uma mulher. Até seu sangue corria de forma fria. Tudo isso foi resultado de uma dor, que o deixou sem nada.

Como o esperado de alguém que tornou sua dor especial. A usando para se vingar do irmão e o fazer em pedacinhos. Uma justificativa para sua maldade. Para seus pensamentos atrozes.

"Por que quer tanto encontrá-lo?"

"Porque ele é o culpado pela morte dos meus pais."

SOUL BLOOD | Entre Vampiros e Humanos.Onde histórias criam vida. Descubra agora