XVII • Captura

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Adam só conseguia ver uma imensidão escura, como um vasto universo que se estendia para o além dos limites de si mesmo. Ele esperou para abrir os olhos, e apurou os sentidos.

Sentia o cheiro metálico do sangue, que lhe impregnava as narinas. De repente sentiu seu próprio corpo impulsionar para frente para onde vinha o cheiro. Ele estava com fome. Com tanta sede que suas garras cravaram o chão de concreto do lugar fechado onde estava.

Adam foi para trás, batendo as costas desnudas na parede fria da cela. Soltou um grunhido, tão exacerbado que estava. Queria poder socar aquele lugar até cavar um buraco e chegar a Henry.

Ele precisava pensar. Precisa refletir. Mas toda vez que tentava ele fracassava porque não havia mais nada que pudesse pensar além de sobreviver. Porque se ele continuasse naquelas condições, seu corpo pareceria.

- Filhos de uma puta desgraçados. - ele disse, e a voz saiu fraca.

Juntou suas mãos, e as olhou presas em uma corrente grossa, machucando sua carne. O cheiro de carne podre, lhe deixava enjoado. E comer sua própria carne... Não, ele maneou a cabeça, de modo algum.

A cela foi aberta. O som estridente de correntes sendo aberta do lado de fora, lhe doeu os ouvidos, e teve que fechar os olhos, já que suas mãos não poderiam chegar a suas orelhas.

Passos se aproximaram no escuro. Adam viu a bota marrom de couro, por uma fresta de luz que vinha do alto. E logo uma risada ecoou, fazendo seu corpo gelar.

- Ora, ora. Adam Willians Nosferatu. Que bom te ver novamente. Não queria que fosse nessas condições, mas não tínhamos muitas opções. Nunca pensamos que seria tão fácil te capturar dessa vez. Parece até uma miragem.

- Vai se foder.

Henry soltou uma gargalhada amargurada. Rouca, e podre. Ele se agachou na frente de Adam, o pegando pela franja e batendo sua cabeça na parede com força. Adam soltou uma risada.

- Você acha que isso é alguma coisa? Acha que dói? Olhe pra mim. Nada dói em mim. - Adam disse, o tom de voz firme, o máximo que conseguiu reunir para não mostrar fragilidade na frente de Henry.

- Nada dói? Tem certeza? - Henry lhe perguntou, mudando o ponto, enterrou o dedo no peito de Adam, direto no coração. - O menino rejeitado do clã, que veio até mim anos atrás, querendo acabar com todos eles. O menino que já tinha as mãos sujas de sangue. Era sua família, Adam. Como pode sequer pensar em entregar eles? - o dedo se afundava cada vez mais sobre a pele do outro. - Você só era um garotinho. Então fugiu para bem longe quando não conseguiu cumprir com a missão de extermínio de seu clã, mas custou a vida de seus pais. Você deixou seu irmão sozinho para cuidar de um clã inteiro. Ele sempre esteve certo em querer acabar com sua vida. Eu até concordo com ele nesse ponto. Todos nós queremos acabar com você. Todos temos algo em comum. Isso não é esplêndido, Adam?

Adam continuava a olhar firme. Os olhos esverdeados que estavam tão claros e cristalinos, encarando os pretos e frios de Henry. Ele sentia a dor, queimando lá no fundo. Mas se sentia entorpecido. Ela não servia de nada no momento. Nada mais fazia sentido. Mas havia se entregado por um objetivo, então aguentaria o que viesse.

- Eu não me importo com esse seu discurso sobre a minha vida. Eu não tenho mais nada com que me preocupar. Família, amigos. Não tenho mais nada disso. Então se quer acabar comigo, faça isso de uma vez.

As sobrancelhas de Henry se elevaram. O olhar mórbido de quem não havia piedade. Mas surpreso, por talvez ter sido fácil demais o outro se entregar assim. Ele ficou sem fala por alguns instantes, e se levantou, chutando a canela de Adam com toda a força.

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