XXI • A transformação

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Adam tinha uma jovem quase desfalecida em seus braços. Por mais que ela relutasse para se manter consciente, seus sentidos estavam se desligando aos poucos, e já não sabia mais distinguir se estava dormindo ou acordada. Os zumbidos que os seguiam por todo um pasto de animais, alguns uivos ao longe e a proeminência de uma tempestade que estava se aproximando rapidamente. Um raio cortou o céu se transformando em um estrondo insuportável aos ouvidos, e por mais que o vampiro corresse em uma velocidade surreal, fazendo com que o mato cortasse sua carne como faca, ele não sabia para onde exatamente teria que chegar.

Tinha que pensar rápido, sozinho não tinha como salvar Ara. Ao menos que tivesse que apelar para algo indestrutível, e ele não estava disposto a arriscar a vida dela, para que vivesse a mercê de um terrível e imortal destino. Ele sabia muito bem que aquela não seria a escolha dela. E em meio a uma cabeça pegando fogo, ele pensou em voltar para o castelo da família, ademais, teria que enfrentar seu irmão.

- Porcaria...

Praguejou em meio ao vento forte, tendo que fechar os olhos por alguns segundos quando as gotas de chuva batiam em seu rosto com força.

Ele seguiu o rumo para lá, não sabia muito bem o que esperar, mas estava ciente de que eles tinham uma feiticeira que poderia ajudar a salvar a vida de Ara. O desespero não o fez pensar com cautela, e talvez se arrependesse disso depois, mas quanto a isso ele saberia lidar bem, o que em todo esses anos ele não se arrependesse?

Jhon se preparou, pegou uma estaca de ferro, e quando viu o irmão se aproximar com sua prisioneira nos braços, abriu aquele sorriso desprezível, que fazia o estomago revirar,  e os cadáveres se contorcerem nos caixões.

- Nell, preciso da sua ajuda. - foi a primeira coisa que Adam disse quando chegou.

A feiticeira correu ao encontro deles examinando Ara, que havia desmaiado.

- Venha, vamos levá-la para meu quarto. Só temo não ter o que ela precisa.

Adam não fez subjeções, apenas assentiu a olhando, e ela viu o desespero naquele olhar que parecia pegar fogo de tão vermelho. Era a primeira vez que um vampiro daquela família a olhava assim, algo naquele calor tinha um pouco da humanidade impressa. E a feiticeira chegou a pensar que talvez o amor fosse o antidoto para afastar as sombras e trazer calor aos corações gélidos, mesmo para seres que não tinham um.

Ara foi deitada em uma cama, ela acordava de minutos em minutos, num curto tempo, e murmurava coisas incompreensíveis. Ela estava queimando em febre, e se tardasse mais alguns minutos acabaria tendo convulsões e a morte seria certa. Mas Nell sentiu algo estranho, ela pediu para que os homens saíssem por um momento. Pegou um pano úmido e passou pelo pescoço da jovem, fazendo o mesmo com os braços, até parar em seu pulso, e ver algo enegrecido.

- Por Deus... Ela fora mordida... - disse em sussurros, tentando verificar que tipo de mordida era aquela.

A feiticeira se levantou rapidamente, procurando algo pronto que pudesse ajudar a abaixar a febre, e quando achou logo ergueu a cabeça de Ara, passando conhaque sobre seus lábios apenas para que ela acordasse. E com o outro líquido descendo a garganta, era só esperar alguns minutos. Enquanto isso, Nell olhava para a marca, e chamou Adam, se esquecendo totalmente que Jhon ainda estava ali, encostado ao lado da porta, pelo lado de fora.

- Não fora como eu imaginei... Ver vocês dois tão pacíficos na presença um do outro. Acabou com minhas expectativas. - Nell disse, com uma risada baixa.

- Ainda não tive razão para querer cortar a cabeça dele. E pelo que me disse, precisa da chave do porão onde se encontra as coisas do papai. - Adam se abaixou um pouco para ver como Ara estava, e parou os olhos na marca do pulso dela, que parecia aumentar a cada minuto. - O que é isso?

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