Um treinamento esquisito

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Naquela noite eu tive um sonho, estava numa cela de vidro com várias pessoas ao redor me olhando como se eu fosse algum macaquinho de zoológico prestes a fazer malabarismo. Me vejo levantar do chão gelado onde estava sentada e olhar ao redor, minha mente estava em um turbilhão de pensamentos e emoções, eu estava assustada, entrando em pânico.

— Pode jogar. — ouço alguém dizer num dos alto-falantes da cela e um babuíno cai dentro da cela junto a mim. Eu me encolho no canto com medo do animal, ele tinha presas enormes e parecia prestes a me atacar.

— Eu quero sair! — grito, dessa vez usando a minha voz. Quando vejo o animal andando em minha direção, minha boca se abre em mais um grito estridente — Me deixa sair!

O animal selvagem avança em minha direção e involuntariamente uso os meus poderes, ele está parado no ar se contorcendo de dor e vejo quando a sua vida se esvai entrando pelos meus dedos em pequenas ondas de névoa cinzenta.

O meu interior gritava para eu ir até o fim mas meu coração me importunava para parar, mas não consegui, o babuíno solta um urro de dor tão alto e estridente que o meu corpo inteiro treme, logo o animal cai no chão sem vida.

— Fascinante... — ouço alguém dizer quando também caio para trás no chão gelado, aquela voz parecia tão semelhante.

Acordo com dificuldade, os meus olhos estavam pesados e minha cabeça estava latejando mas algo dentro de mim parecia satisfeito. Quando finalmente meus olhos estão abertos, vejo Yoona ao meu lado mas algo estava errado, ela estava pálida com a boca entreaberta e os olhos revirados, sua mão estava na minha quando finalmente percebo o que estava acontecendo.

Me desvinculo dela o mais rápido que consigo e ela cai feito pedra no chão do meu quarto.

— Mamãe! — grito e pulo da cama indo em sua direção. — Mamãe me desculpa! — não consigo enxergar nada, meus olhos estão inundados por lágrimas enquanto encosto minha orelha em seu peito, ela estava respirando ainda.

— O que aconteceu? — Nancy entra no quarto alarmada, seus olhos encontram o da esposa no chão e em seguida os meus, ela me culpava e eu sabia bem.

— F-foi sem querer e-eu estava dormindo e quando acordei ela estava tocando em mim — me afasto de Yoona quando Nancy se ajoelha e pega a esposa nos braços.

— Mamãe eu sinto muito...

— Fique aqui! — ela diz e me dá as costas

— Não foi de propósito.

— Fique aqui, Raven! — ela ordena sem dar a mínima para o meu lamento, eu volto a sentar em minha cama e choro quando as vejo saindo do meu quarto.

Eu me odeio tanto, machuquei a minha mãe, minha outra mãe me odeia e eu estava falando normalmente depois de muito tempo, o que está acontecendo comigo?

Mamães ficam fora a manhã inteira, ainda estava pensando no que havia feito e em como aquele sonho havia me deixado em pânico a ponto dos meus poderes saírem tanto de controle. Estou no prédio do SN mais uma vez, mas antes de subir pelo elevador, dou de cara com Christopher e sinto vontade de chorar quando sinto o seu olhar de preocupação e compaixão sobre mim, ele não diz nada, passa por mim como se eu nem existisse e eu sinto a dor daquilo, mas foi escolha minha, eu não o quero no caminho, não posso arriscar que nada lhe aconteça também.

— Você de novo, tampinha? — atrás de mim ouço a voz dele, Minho, o rapaz com cara de gato.

"Você também não é muito alto" — digo e ele rir vindo em minha direção, aperto o botão do elevador e espero enquanto Minho para ao meu lado de braços cruzados.

— Então, como anda a sua missão especial?

"Não anda"

— Que saco, onde você tá indo?

"Sala de treinamento"

— Mulher de poucas palavras... eu gosto disso. — sinto um ardor nas minhas bochechas quando o ouço e viro o rosto para o outro lado tentando esconder aquilo, que diabos era isso? — Vai treinar com quem?

"Comigo mesma"

— Ah qual é, assim não tem graça.

A porta do elevador se abre e eu entro, logo em seguida o bichano vem atrás de mim, minha sobrancelha está arqueada enquanto o olho a espera de uma resposta.

— Vou treinar com você — ele diz como se não fosse nada — sou bom de briga, você vai ver.

"Você tem algum poder especial?"

— Não que eu saiba... — ele da de ombros

"Então você já perdeu"

Nos paramos no último andar do SN, as salas de treino eram imensas e cheia dos melhores equipamentos de luta, minhas mães enfartariam se me vissem aqui sozinha.

— Qual o seu estilo de luta?

Sozinha não, em péssima companhia.

Eu não o respondo, apenas ativo os meus poderes e toco no seu pulso, mesmo por cima do seu uniforme de trabalho os meus poderes alcançam a sua pele e sinto a sua vida entrando em mim.

— Isso doeu! — ele diz quando o solto e toca o braço.

"Você perguntou qual era o meu estilo de luta"

— Ok mas você não luta sem trapaça?

"Claro que sim"

Na minha direita, na sala de treinamento em que estávamos havia uma mesa com diversos equipamentos, canivetes de todos os tipos e tamanhos. estrelas ninjas e pequenas lanças afiadas. Eu tinha experiência com a maioria dos equipamentos ali, conseguia arremessar os canivetes com precisão a uma longa distância e força.

— Chega aqui, me mostra o que você sabe. — Minho estava sobre o tatame sem os tênis, eu o olho de cima a baixo e ele me chama com as duas mãos já em pose de luta.

Eu retiro os meus all stars e subo no tatame ficando em sua frente, ele tinha um sorriso ladino no rosto e eu estava morrendo de vontade de tirá-lo dali, ele me desafiou e eu não vou pegar leve.

"Vem" — digo e ajeito a minha postura de luta. uma perna a frente e a outra atrás, as duas levemente flexionadas.

Ele sorrir ainda mais largo e vem em minha direção, Minho tenta acertar a minha perna com um chute mas eu a recolho, os meus reflexos são impecáveis graças a Jeongin então quando recuo com a perna, uso a mesma para lhe acertar um chute não muito forte no tórax.

Minho recusa e pula várias vezes até dizer:

— O que mais você tem aí?

"Vem ver"

Mais uma vez ele está com aquele sorriso nos lábios enquanto vem em minha direção, enquanto Minho se prepara para tentar me dar uma rasteira, eu escorrego para o outro lado surgindo atrás dele e lhe dou um soco com a palma aberta no meio das costas.

— Essa foi boa gatinha mas agora chega de brincar.

Sua fala me causa um certo arrepio na nuca, ele se vira ficando de frente para mim e quando eu tento acertar um chute na costa, Minho agarra a minha perna com a mão em minha coxa, envolve o braço livre em minha cintura e me joga no tatame, as minhas costas batem no chão e ele sorrir para mim me dando uma piscadela em seguida.

— Você não pode estar aqui, Raven. — ouço a voz de Christopher na porta da sala e então percebo a posição esquisita em que Minho e eu estávamos, ele ainda tinha a mão na minha coxa erguida ao lado das suas costelas e estava encaixado entre a minhas pernas, seus olhos estavam nos meus e ele parece perceber o meu pânico, tanto que se senta nas próprias pernas me largando. — Você não devia estar trabalho, Minho?

Heaven & Hell | Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora