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Quando são quase meia noite, olho para seu Astolfo e cruzo os braços.

- Minha hora e meu dinheiro. - digo e ele me olha com desprezo. Ele separa dez moedas de prata e me entrega. - Até amanhã. - digo e caminho para a saída, recebo alguns comentários pra não sair e ignoro. O olhar do bruxo me segue e saio da taberna olhando para a porta.

"Algo me diz que posso acabar em problemas se esse bruxo continuar em meu pé."

Caminho pela estrada escura do vilarejo e vez ou outra passo por um bar movimentado. Passo pelo bar de Shiva e vejo muitos alados. Suspiro. Shiva não contrata ninguém, senão, esse seria o lugar que eu trabalharia feliz. Parece extremamente seguro e livre do cheiro forte de suor e sangue.

Caminho mansamente até o portão de casa e sinto um calafrio, olho em volta e vejo a rua vazia e gelada. Abro o portão e entro, fecho novamente e me viro para casa, assim que vou gritar, tenho minha boca tampada. Arregalo os olhos e encaro o homem. O maldito bruxo.

- Se me ajudar, te deixo viver. - sou empurrada contra a cerca de Madeira. - Vai ajudar? - assinto instintivamente. Ele segura meu pescoço e sinto uma dor passageira, ele solta e vejo uma cobra terminar de sair da gola de seu sobretudo. Passo minhas mãos sobre meu pescoço e não sinto nada.

- O que fez? - pergunto assombrada.

- Morrerá enforcada se tentar me denunciar, tem uma de minhas cobras presa a seu pescoço. Passo a mão ao redor do meu pescoço e realmente não sinto nada, mas sei que provavelmente ele usou magia em mim.

- O que quer de mim? - pergunto.

- Quero que me traga duas virgens amanhã nesse horário, entendeu? - me sinto impotente. - Se não, será uma das minhas vítimas. - ele diz e abre o portão saindo. Continuo parada e descrente. Me pergunto se realmente isso aconteceu e olho em direção ao portão aberto. Sinto meu peito apertado e fecho os olhos por um momento. "Aconteceu..."

Me forço a me mover e sigo para dentro de casa, entro apressada no banheiro e me olho no espelho. Passo a mão sobre meu pescoço e vejo algo se mover ao redor dele. Me afasto do espelho com certo apavoramento. Tomo um banho rápido e sigo para o quarto, me deito e busco alternativas para tentar contar a alguém sem ser pega, mas se eu abrir minha boca, acabarei morta e se eu não ajudar, serei morta por ele amanhã.

O que eu faço?

Acabo passando a noite em claro e me levanto preparando tudo outra vez.

Acabo passando a parte da manhã sem saber o que fazer.

- Ana... - encaro os caixotes. - Ana! - olho para cima e sorrio fracamente. Minha mãe me olha com preocupação. - Tudo bem? Aconteceu algo? - nego e sorrio.

- Não... - digo e ela assente.

- Pode ir para casa. - ela diz e olho ao redor.

- Já?! - ela assente e aponta o céu.

- É meio-dia Ana. - assinto e encaro minha mãe. "Não vou conseguir levar o que ele pediu e sei que acabarei morta." Penso em meus irmãos e meu coração aperta. Isso não pode acontecer...

Sigo para casa e tomo um banho, me visto para trabalhar no castelo e penso no quão cruel seria se eu levasse alguém para aquele monstro.

Sigo para o castelo e passo por minha mãe, ela sorri mansamente e sinto um nó na garganta, aceno levemente e continuo em direção ao castelo. Entro na cozinha e olho para minhas companheiras de trabalho, elas conversam animadamente e se servem do almoço. Olho para a comida gritante e pela primeira vez desejo calar eles e bater com algo até que não exista mais ruído e toda a comida esteja destruída. Respiro fundo e penso no que o bruxo fará. Me sento para comer e meus olhos marejam. Serei levada a floresta enganosa e despida, ele vai arrancar meu coração e come-lo... Fecho os olhos com força e abro novamente encarando a mesa, me sirvo de comida e olho para as meninas. Eu jamais atrairei alguém para ele e não desejo morrer pelas mãos dele, mas também não tem como eu contar.

Nova Geração - AXE -Onde histórias criam vida. Descubra agora