Abro os olhos e encaro o teto, pisco algumas vezes e bocejo. Já acostumei a acordar cedo e nem tenho dificuldades mais. Me sento na cama e me espreguiço.
Me troco apressadamente e saio do quarto sem fazer muito barulho. Divido meu quarto com meus irmãos. Caminho pela casa e saio para os fundos. Pego os caixotes que minha mãe deixou preparado e coloco na carroça mediana. Somente consigo levar quatro caixotes por vez e todos os dias tenho que fazer duas viagens para levar os oito caixotes.
Olho para o céu ainda escuro e agradeço pelo clima cálido de hoje.
Apoio minhas mãos na madeira e começo a empurrar em direção ao portão. Faço certa força para conseguir, já que fica um tanto pesado. Abro o portão e saio com a pequena carroça, fecho o portão novamente e olho para a carroça. "Podíamos tanto ter um cavalo!" Apoio minhas mãos novamente e começo a empurrar pela rua larga e ainda pouco habitada. Poucos seres místicos estão nas ruas, alguns mortais e os donos de estabelecimento limpando seus lugares para iniciar mais um dia de trabalho.
Passo pelas ruas e passo em frente a uma pequena venda de vestimentas, a senhorinha é amiga de minha mãe. Sorrio para ela e ela acena.
- Bom dia Ana! - balanço a cabeça.
- Bom dia dona Margarida. - ela sorri.
- Diga a sua mãe que estou confeccionando vestimentas lindas para os garotos. - assinto. - E tem muitos retalhos também.
- Ok! - digo e continuo empurrando a carroça. "Devo fazer mais um vestido..."
Olho para meu vestido de retalhos e vejo muitos furos. Continuo empurrando a carroça. "Espero que sejam retalhos bonitos..."Chego no local onde deixamos nossas coisas e vejo outros vendedores.
Marília organiza sua barraca, a dela é coberta e cheia de regadores. Ela vende flores e é bem requisitada, já que aqui é um ponto onde muitos casais costumam caminhar. Sorrio.
- Bom dia Marília! - sorrio. Ela abre um sorriso genuíno.
- Ana! - ela se curva levemente en cumprimento. - Fiz alguns biscoitos, gostaria de provar? - ela abre uma pequena vasilha e estende o braço. Pego um dos biscoitos e mordo. - É feito de trigo, mel e leite. - assinto e sorrio.
- Está delicioso. - ela assente e retiro todas os caixotes da carroça. Busco os outros e termino de organizar. O sol começa a surgir e vejo o céu com alguns alados. Somos vizinhos de um casal. Mia e Jácomo. São muito amáveis. Começo o dia atendendo a vários clientes e sendo sempre simpática.
Um moço de capuz preto para em frente a carroça com metade dos caixotes sobre ela e me sinto um pouco tensa. Mesmo que sejam bons moradores ou visitantes, o uso dos capuz fazem que se tornem suspeitos, principalmente por esconder os rostos.
Ele pega uma das maçãs de um dos caixotes e observa ela.
- Cada cinco maças está apenas uma moeda de bronze. - digo. Ele levanta o olhar e noto os traçados pretos ao redor dos olhos, são desenhos gráficos feitos com carvão. Sorrio. - Lindos desenhos nos olhos. - digo e ele volta a olhar para os caixotes. Meu coração está um pouco acelerado e creio que o fato dele não ter falado nada, o torna um cliente peculiar. - Vai levar? - pergunto e ele coloca a maçã no lugar novamente. Uma senhora fada se aproxima.
- Quero duas abóboras, por favor. - sorrio.
- Custará apenas uma moeda de prata. - digo e ela me entrega. Coloco no bolso e coloco as abóboras em um suporte feito de palha. Minha mãe é uma excelente artesã, mas acaba não vendendo nada e apenas produz cestos, suportes, sacolas para uso nas vendas. Ela pega e se afasta. - Volte sempre! - digo e olho para o rapaz de capuz. Ele estende a mão com a moeda de bronze e pego um dos cestos e coloco as cinco maças, entrego a ele e novamente ele volta a me olhar. Sorrio amplamente. - Que tenha um bom dia. - digo e ele olha para o cesto.
- Sabe me informar onde encontro um local para estadia? - "Forasteiro?" Assinto.
- Tem alguns ao final da ponte de pedras e muitos espalhados pelo vilarejo, não terá dificuldade em encontrar algum... Primeira vez indo ao vilarejo? - ele assente e engulo seco. - Bruxo? - pergunto e ele me encara.
- Agradeço a informação. - ele diz e assinto. Ele se afasta e olho em direção a Marília, ela me olha com preocupação e sorri.
- É sempre uma caixa de surpresas trabalhar em locais visitados. - assinto e organizo alguns produtos.
- É... - digo e continuo minha manhã tranquilamente.
Acabo o trabalho assim que minha mãe me substitui, sigo para casa e tomo um banho apressado, visto as roupas necessárias para trabalhar no castelo e sigo para ele caminhando rápidamente. Assim que entro na cozinha, cumprimento as meninas e separo um prato de alimento para mim. Louise ordena que levem a sala de jantar e se retira com as responsáveis pela cozinha. Fico com as moças da limpeza e como tranquilamente, termino minha refeição e pego um dos baldes e um esfregão. Sempre começo pelo salão e limpo ele junto a mais três moças. De vez em quando, Ada, Faruk ou as crianças passam, Faruk sempre ocupado com os comandantes e com os alados e fadas, Ada sempre com as crianças ou resolvendo algum assunto que algum morador trás ao Castelo para ser discutido.
Limpo a sala de jantar em seguida e sigo para os quartos, consigo limpar cinco quartos até o fim da tarde e caminho pelo corredor vendo as meninas fazendo o trabalho delas. O castelo é enorme e precisa de muitas moças trabalhando na limpeza. É cheio de guardas reais e todos são alados. No castelo, raramente é admitido algum guarda real mortal. São incomuns aqui dentro do castelo, mas quando são admitidos, é porque são os melhores.
Deixo tudo em seu devido lugar e corro para casa, me troco depressa e sigo para a taberna que trabalho. Chego apressada e sorrio para seu Astolfo.
- Olá.. - o reverencio em respeito e ele continua secando os vários copos.
- Limpe as mesas depressa! - assinto e pego o pano e começo a passar nas mesas, seu Astolfo é bem exigente e um pouco rude.
Aos poucos, o bar começa a lotar e me sinto um pouco descontente ao ver guardas suados e sujos do trabalho, eles literalmente saem de seus turnos e vem direto pra cá. Me aproximo de um deles.
- O que vai querer? - ele me olha de cima embaixo.
- Você está no cardápio, Ana? - nego e cerro os dentes. Rank é um guarda velho fedido e desrespeitoso que sempre bebe aqui no bar. - Sabe que poderia ganhar muito dinheiro se passasse a estar no cardápio. - ele diz e grita. - Não quer colocar Ana no seu cardápio Astolfo? - ele diz e ouço risadas e alguns gritos encorajadores. Sinto um nó na garganta e bato a mão na mesa com força. Olho para ele séria.
- O que vai pedir Rank? - ele dá de ombros.
- Cerveja. - assinto e me afasto da mesa. Passo pela mesa de outros guardas e alguns bêbados e alguns fazem comentários desnecessários, por estarem completamente tomados. Sirvo as mesas e deixo a cerveja na mesa de Rank, olho para a entrada do bar e vejo alguns alados do batalhão de Aigon, suas fardas com sangue me fazem desviar o olhar e acabo pegando um rosto conhecido de relance. O bruxo... Ele para em frente ao bar e me olha com curiosidade. Desvio o olhar e me aproximo da mesa onde os alados sentam.
- Pra hoje rapazes? - um deles pede whisky e outro gim. Eles nunca pedem bebidas leves e quando pedem, são litros seguidos por horas até estarem satisfeitos. São ótimos para a venda na taberna. Sirvo eles e olho para a mesa ainda vazia e com o bruxo sentado. Me aproximo e sorrio. - Decidiu beber algo? - pergunto e ele assente.
- Que bebida costuma ser considerada a melhor? - ele pergunta.
- Depende de seu paladar... Bebida forte ou fraca? - ele me entrega uma moeda de ouro.
- A mais cara. - assinto e me afasto. Sirvo ele em seguida e pego o olhar fixo dele. Me sinto desconfortável, mas já me acostumei a olhares desagradáveis na taberna.
É só mais um dia.
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Nova Geração - AXE -
FantasiaAna é uma mortal comum de Pearl, batalhando dia e noite para manter seus irmãos alimentados e vestidos adequadamente. Seu caminho não tem pretensão de cruzar com nenhum romance, mas aos poucos ela acaba apaixonada... E esconde isso até quando pode...