Capítulo 16 - Abracei-te

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Despertei com uma dor de cabeça latejante. Com os dedos, pressionei e massagei as têmporas, na esperança de aliviar o desconforto. Ao olhar para o lado, deparei-me contigo deitado de costas para mim, no extremo da cama. Fui inundado pelas lembranças do mal que te infligia, da dor que te causava.

"Deves estar assustado", pensei. Senti vontade de te acariciar o rosto, mas não quis mostrar arrependimento nem expor a minha vulnerabilidade. A tua respiração parecia contida. Sabia que não estavas a dormir, apesar de os teus olhos permanecerem fechados.

Aproximei-me de ti, toquei-te levemente no ombro e, para iniciar conversa, perguntei:

- Estás acordado, Dek noi?

Não respondeste.

Abanei-te e tu continuaste calado. O vazio da tua resposta envolveu-me como um manto sombrio. Senti uma ansiedade gélida apertar-me o peito. Numa tentativa desesperada de interagir contigo, subi para o teu quadril, prendi-te os pulsos acima da cabeça e, olhando-te nos olhos, interpolei-te:

- Estás a provocar-me, dek noi?

Começaste a chorar.

A tuas lágrimas atiraram-me para uma pira inflamável. Inclinei-me para te beijar a testa, numa tentativa de acalmar a tempestade que se formava dentro de ti. Queria te oferecer algum consolo silencioso, mas tu assustaste-te ainda mais com o movimento e, em desespero, gritaste:

- Pára! Pára!

Recuei no movimento, mas sem largar os teus pulsos. Não pretendia magoar-te. Estava apenas a tentar identificar o quê que a tua reação despoletava em mim. Cada gota que caía como pérolas preciosas no lençol parecia atirar-me para um turbilhão de emoções conflituosas. A tua dor era palpável, uma ferida exposta que me atravessava como uma lâmina afiada. Combatias como um animal encurralado até que, num ímpeto de aflição, o teu grito ecoou no ar:

- "Pii NIIIRAAAANN!"

Larguei os teus pulsos e saltei da cama. Fiquei de pé, petrificado, a olhar para ti. Tu ficaste de joelhos com a mão a tapar a boca num gesto de arrependimento. Provavelmente, julgaste que me tinhas enfurecido. Mas eu só pensava "Pi Niran ainda vive dentro de ti". Num momento de aflição foi o meu nome que proferiste, foi por mim que chamaste.

Aproximei-me de ti, abracei-te e, encostando a tua cabeça ao meu peito, disse:

- Nong Kiet!

Não respondeste. Mas pude sentir o teu coração a desacelerar. Segundos depois, talvez minutos, senti o calor da palma da tua mão nas minhas costas e a tua cabeça a pressionar-me o peito, a comprimir-me o coração, a esmagar-me a alma. Afaguei-te os cabelos. Os teus olhos procuraram os meus e neles descobri uma cumplicidade há muito perdida no tempo.
Tu eras, sem dúvida, o meu Nong Kiet. Ao abraçar-te, senti uma ligação tão profunda e verdadeira. Naquele reconfortante abraço, perdi-me e encontrei-me novamente após quinze longos anos de separação. Com ternura, deslizei a minha mão pela tua nuca e puxei-te para um beijo saudoso, transmitindo toda a emoção que despertavas em mim. Após quase ficarmos sem fôlego, afastei os meus lábios sedentos o suficiente para olhares-me nos olhos e encontrares a minha alma refletida no olhar.

"Oh, como eu ansiava pelo prazer de te ter ali comigo!"

Retomei o beijo, e tu correspondeste a cada movimento, revelando um desejo impossível de ser disfarçado. Com suavidade, deslizei os meus dedos pelo teu peito, provocando um pequeno gemido escapar dos teus lábios. Estávamos completamente à vontade.
O meu único desejo era proporcionar-te prazer, envolver-te em carícias e demonstrar toda a minha devoção.

"Meu Nong Kiet, tu és a pessoa que eu mais amo nesta vida."

Thirasak & Kiet - O Reverso Do Ódio  Onde histórias criam vida. Descubra agora