Capítulo 24 - De volta a Krungthep

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Já estava a anoitecer.
Pedalava sem destino, quando vi que tinha uma luz de faróis sobre mim.
Um som de buzina também ecoava para assustar as exuberantes aves que desfrutavam da tranquilidade daquele descampado. O pânico que esse intruso som me causou atrapalhou a minha condução.
Não precisava de olhar para trás para saber quem era.
Thirasak.
"O que este homem quer de mim?! Levar-me a um colapso emocional?!"
De repente, no meio do caminho:

《CRAASHH!》

À minha frente surgiu uma lomba que me fez ser projetado para a frente da bicicleta.

"Estou condenado! Não me vou ver livre dele!" Pensei eu.
Saiu do carro e logo se baixou, perguntando-me:

- Nong Kiet, estás bem?
Dói-te alguma coisa?

Estava preocupado.
Aquela expressão soou-me estranhamente familiar.

Para não dar parte de fraco, disse-lhe:

- Eu estou bem.

Ao tentar levantar-me, caí outra vez.

Fui desmentido.

Ele agarrou-me pelo braço e cintura para me erguer e eu não consegui apoiar o pé direito no chão.

Mas mesmo assim, com um empurrão, disse-lhe:

- Eu consigo. Vai-te embora.

Vi-o a dirigir-se para o carro.
Vê-lo de costas a afastar-se de mim causava-me uma angústia aterradora. Pensei se seria a última imagem a guardar daquele homem que tantos sentimentos contraditórios me provocava.

No entanto, eis que ele abriu a porta de passageiro dianteiro e voltou para me vir buscar.

Quando estava a tentar carregar-me,perguntei:

- O que vais fazer?
Não, não.- E levou-me pelo ombro, alertando-me:

-Nong Kiet , não sejas um menino travesso.

- Põe-me no chão !- Ordenei mas logo ele deu-me uma palmada no traseiro.

Não me pôs no chão, e para o cúmulo sentou-me diretamente no banco da frente ao lado dele.

Arrancou e de imediato fez uma chamada em alta voz:

- " Pa Kaew, Nong Kiet já se encontra comigo.
Vamos voltar para Krungthep.
Quando quiser pode vir visitar-nos. Teremos muito gosto em recebê-la."

Que ousadia a dele. Deu a entender que eramos um recém casal quando me humilhou daquela maneira.

Ele tirou a chamada de alta voz.
Pa Kaew devia ter dito alguma coisa para ele, porque olhou para mim e disse " khrap" e logo depois despediu-se.

Encostei-me ao vidro, tentando disfarçar a minha contrariedade com um fingido descanso, mantendo os olhos fechados. A tensão era opressiva, pois estar ao lado dele despertava sentimentos conflituosos. A sua mão repousou levemente na minha perna, e a minha reação foi imediata, um estremecimento involuntário que refletia a minha inquietação.
Naquele momento, uma mistura de ressentimento e desejo de distância dominava-me. As suas ações insinuavam um jogo de sedução que eu queria evitar, mas que ao mesmo tempo me intrigava. Era difícil resistir ao seu toque, mesmo quando minhas emoções oscilavam entre o amuo e a atração.
Eu sabia que aquela situação complicada estava longe de ser resolvida, e o encontro de olhares sussurrava promessas e dilemas às quais eu não podia escapar.

Aquele gesto involuntário não passou despercebido por Thirasak.

-Eu sabia que não conseguias dormir.
Assim como eu.
Desde que saíste eu não fechei os olhos um minuto que fosse.-Confessou.

Olhei para ele perifericamente e continuou, mesmo sem ouvir um único som da minha boca:

- Nong Kiet, Pi koh tor.
Pi sabe que fez muito mal.
Mas Pi está mesmo arrependido.- Disse isto com o aparecimento de lágrimas.

Mantive a minha intransigência, indiferente às suas emoções. As lágrimas que verti por ele e as humilhações suportadas nas suas mãos ressoavam intensamente. Voltei a fechar os olhos, determinado, como um claro aviso de que, não importa as suas ações, não cederei à tentação de o perdoar.
Enquanto ele interrompeu a viagem para urinar, permaneci inerte no banco, mesmo quando ele sacudiu a minha perna impacientemente. Naquela noite, a caminho de Bangkok, a minha disposição era sombria, e a ideia de comer não me seduzia.
Ao chegarmos a Krungthep, ele fez uma paragem numa farmácia de serviço, onde comprou uma pomada Namman Muay ( para hematomas e contusões) uma pomada de Tetraciclina (para feridas abertas) e zaragatoas para a aplicação desta última. A minha mudez persistia mantendo os lábios fechados e eu continuava afundado nos pensamentos negativos.
Continuamos até o apartamento, onde a noite em Bangkok se desdobrava com uma mistura de cores e sons. As luzes vibrantes da cidade dançavam no horizonte, enquanto os sons da agitação urbana ecoavam no ar quente. A noite, para muitos, prometia aventuras, mas eu permanecia distante, absorto nos meus próprios pensamentos.

Thirasak & Kiet - O Reverso Do Ódio  Onde histórias criam vida. Descubra agora