Thirasak & Kiet - O Reverso Do Ódio

Capítulo 51 - O Ultimato

—Vivíamos felizes como uma só família, e vós fostes a razão dessa união. Vós, crianças alegres e despreocupadas, com uma ligação tão profunda. Onde um ia, o outro ia logo a seguir. Vós éreis a luz da casa.

Ao dizer isto, uniu as nossas mãos e, dando palmadinhas ligeiras, acrescentou:

— Ainda bem que o tempo não apagou essa luz. Até me atrevo a dizer que talvez esteja mais brilhante do que nunca. — Sorriu cumplicemente para nós, como testemunha do amor que nos une.

— Se não fosse aquele castigo... — Lembrou com revolta.

Pi apertou-me a mão. Estava a chegar a parte que talvez ele não quisesse ouvir. Ao aperto, respondi-lhe com a palma da minha outra mão acariciando suavemente a sua. Pa'Noon continuou, mas com mais dificuldade:

— Enquanto Nong Kiet não acordava, muitas reviravoltas aconteceram. Peço desculpa, menino, mas Pa'Noon quis afastá-lo de tudo para que não sofresse. — Desculpou-se para Pi, esperando algum consolo da sua parte.

— Por favor, continue. Não tenha medo de ferir susceptibilidades. Sou mais forte do que pensa. — Pi sorriu com um misto de nervosismo.

— Khun Paramita tinha um casamento marcado com outro jovem de quem não gostava. Ela também procurava o seu pai. Não sabia se o que sentia era realmente amor ou se queria apenas o pai do menino porque sabia que o seu pai nunca seria dela por completo. Quando descobriu onde estava o pai do menino, ameaçou matar-se se o pai dela não a casasse com ele. O pai de Paramita ignorou a ameaça, mas ela chegou a tentar suicidar-se, ingerindo uma grande quantidade de comprimidos. Tiveram que lhe fazer uma lavagem estomacal. Como o pai de Paramita fazia tudo por ela, primeiro anulou o casamento marcado, pagando uma quantia generosa pela quebra de contrato, e depois tentou contra a vida da mãe do menino.

— Tentaram matar a minha mãe? — Perguntou Pi, indignado e mostrando sinais de compaixão.

— Sim, por duas vezes. A segunda vez foi o seu pai que levou um tiro por ela, atingindo o braço. — Confessou, olhando para mim.

— Eu lembro-me de o ver com um curativo no braço após tantos dias de ausência, especialmente quando o seu filho estava em coma. — Pelo tom de voz, parecia que Pi começava a suspeitar que nada era como parecia ser.

— Quando se descobriram as tentativas de homicídio, o pai do menino confrontou o pai de Paramita. Foi nessa altura que o pai do menino percebeu que aquele homem tinha relações obscuras ligadas ao mercado negro e que não hesitava em usar meios ilícitos para atingir os seus objetivos. Ele tinha muitos contactos, até forças policiais corrompidas para o proteger. Visto ter sido descoberto, o pai de Paramita fez um ultimato descarado: ou a mãe do menino saía de vez da vida do seu pai e do menino, ou ambos morreriam.

Pi ficou atónito, inclinou-se involuntariamente para trás, não conseguindo manter o seu tronco pelo peso da verdade. Ali, naquele momento, Pi descobriu que toda a sua revolta e angústia de quinze anos não tinha razão de ser.