Capítulo 21 - Rituais

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No local de estágio fui muito bem recebido por toda equipa. Todos estavam dispostos a ajudar e a partilhar os seus conhecimentos. Sentia-me motivado para aprender e contribuir para o sucesso da empresa de Thirasak.

Quando saí, caminhei até ao final da Silom road, virei à esquerda na Charoen Krung road e prossegui em direção ao Sathorn Pier. Desconhecia a religião de Thirasak, mas, como era o seu aniversário, fazia questão de fazer uma oferenda em seu nome. Não demorei mais de 15 minutos a chegar ao cais. Porém, não foi uma caminhada fácil, dado o calor húmido sufocante que se fazia sentir. No pier, não tive de esperar muito para embarcar.

Eram quase 6 horas da tarde. O sol já começava a ceder à manta dourada do horizonte, pintando o céu com tons de laranja e rosa, que se refletiam sobre as águas do rio Chao Phraya. Na margem do Sathorn Pier, a vida fluía com uma energia vibrante, típica de Bangkok.

Quando o barco partiu, uma brisa suave, fresca como o sopro da serenidade, acariciava-me o rosto, estimulava-me o olfato com o aroma de especiarias que trazia da rua e alegrava-me os ouvidos com o eco dos risos dos vendedores ambulantes. As luzes, que começavam a piscar, pontuavam as margens do rio como estrelas urbanas que se acendiam uma a uma. As silhuetas dos imponentes arranha-céus erguiam-se contra o céu em constante mudança. A viagem de barco parecia uma história onde modernidade e tradição se entrelaçavam na malha de edifícios antigos e novos. A voz suave do narrador fluvial anunciava cada paragem que se aproximava. Mas o cais do Wat Arun, revelado sob as luzes cintilantes, dispensava apresentações. O templo, iluminado por holofotes dourados, erguia-se como um guardião imortal do passado, saudando o crepúsculo com sua presença majestosa. As suas estupas altas e espiraladas, adornadas com mosaicos coloridos que brilhavam como joias, refletiam as cores do entardecer como um segredo compartilhado apenas entre o céu e as águas. As escadarias íngremes que levavam ao coração do templo pareciam desafiar o próprio céu, uma trilha celestial que levava os mortais em direção ao divino. Lá no alto, cada degrau testemunhava séculos de história e adoração, uma escada esculpida pelo tempo e polida pelas mãos dos devotos. Os contornos detalhados das esculturas e decorações do templo ganhavam vida sob a luz alaranjada. Cada figura esculpida, cada fragmento de arte, forçava-me a respirar fundo antes de olhar uma segunda vez.

Antes de entrar, atravessei o jardim e dirigi-me às bancas que exibiam os instrumentos de devoção. Comprei flores de cores variadas, mensageiras silenciosas dos desejos sinceros que levava no coração, uma vela, para dissipar a escuridão, e incenso, para purificar e perfumar a alma. Com as oferendas nas mãos, passei pelas portas ornamentadas do templo. Ao chegar diante da imagem dourada do Iluminado, senti-me envolvido por uma paz profunda, por um abraço invisível que acalmava o meu espírito agitado. Com reverência, posicionei as flores com cuidado e disse:

- Que estas flores, símbolos da beleza efêmera da vida, possam trazer saúde e alegria àquele que ocupa o meu coração. Que o seu caminho se ilumine com felicidade, tal como as pétalas que se abrem para o sol.

Em seguida, acendi a vela e expressei:

- Que esta vela, chama de luz e esperança, possa dissipar as sombras que o perseguem. Que ele encontre clareza e serenidade nos momentos difíceis, assim como esta chama que brilha mesmo na escuridão.

Por fim, acendi o incenso e, à medida que a fragância se espalhava no ar, proferi:

- Que este incenso, que queima com a pureza do fogo e o aroma da terra, seja como um mensageiro entre os mundos. Que a sua fumaça se eleve aos céus, carregando as minhas preces, as minhas esperanças, os meus desejos. Que a sua essência chegue aos ouvidos de Buda e que o amor e proteção de Buda penetrem no seu coração.

Quando terminei, já o dia tinha cedido à noite. Vi-me, então, rodeado pela energia silenciosa do Wat Arun, um lugar de encontro entre o sagrado e o humano, onde os anseios são acarinhados pela esperança.

Thirasak & Kiet - O Reverso Do Ódio  Onde histórias criam vida. Descubra agora