Capítulo 9.

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Juliet Angel.

—  Eu sei o que vocês devem estar se perguntando: será que ela sabe o que fazendo? Será que uma princesinha tãããão linda como eu, sabe mesmo o que dizendo? Pois bem, é óóóbvio que sim, claro que ainda não sou um gênio pra dizer palavras difíceis como paralepedido, não... é palelepedido, não, não, é parelepípedo! Ah, eu não sei, porque eu ainda sou um bebêzinho então se eu errar algumas coisas, vocês fingem que eu falei certo bem? — Cruzo minhas pernas e encaro todos a minha frente. — Eu não sou bobinha, sei que meus papais não estão bem, vejo a maneira como eles se olham e tentam simpesmente disfarçar. Mamãe com os olhinhos tristes e o papi também. Eu juro que não fiz nada... nem o Tarzan, tadinho. Então eu vou tentar uma forma de ajudar eles a sorrirem de novo. Porque a mamãe é o "tchan" do papi e o papi, o tchan da mami.   Vocês vão me ajudar ? — O senhor Rufles escorregou um pouco no travesseiro e seus olhos escuros brilhantes pareciam concordar comigo. — Eu sabia que podia contar com a ajuda de vocês.

  Agarro uma foto que tem na minha esquivaninha — escrivaninha —, onde eu estou no colo do papi e a mamãe me beijava na bochecha quase me esmagando como se fosse um slime.

Vou até pedir um novo pro papai depois...

— Eu prometo que vai ficar tudo bem. — Deito na minha caminha com todos os meus ursinhos e com aquela foto.

  Vai ficar tudo bem.

Vovó sempre diz que se a gente pedir as coisas com muita força, Deus concede. Então eu só peço que fique tudo bem.

  Por favor.

Camila.

  Eu queria ter a mesma inocência que a dela, nesse momento. Ela sorria apenas por ter sua comida favorita posta a mesa, ela estava inerte a tudo que nos rodeava, ela brincava o tempo todo, fazendo suas piadinhas costumeiras e contando como fora seu dia para um Shawn, que pela primeira vez não conseguia soar animado ao ouvir a filha. Estávamos destruídos. Não sorrimos, não falamos, não tínhamos aquela coisa leve... nossa casa parecia um local estranho, nosso quarto era o último lugar onde eu queria estar. Ficar perto dele me sufocava, me fazia mal e bem ao mesmo tempo. Pela primeira vez, eu não conseguia ser a mulher viva e positiva de sempre.

— E aí ela salvou o Paris de novo. — Angel contou empolgada.

— Incrível pequena, — ele diz em um sorriso fraco.

— Sim papai, demais. — Angel se vira para mim. — Mami, quando eu acabar posso brincar com o Tarzan lá em cima?

  Assinto, completamente  distraída. Observo Shawn, que tinha sua cabeça abaixada. Seu cabelo parecia maior... e eu senti saudade de percorrer minhas mãos por ali por uns segundos... Ao mesmo tempo meu subconsciente me sabota me fazendo lembrar quem também colocou as mãos ali e me senti furiosa outra vez.

— Mami... — Olho para minha pequena e ela sorri. — Te amo.

   Shawn me encara engolindo em seco, uma lágrima solitária escorre por sua bochecha mas ele disfarça quando percebe que Angel se vira para olhá-lo.

Só o amor pode machucar assim.

Sentia que todos os dias meu amor e minha raiva por ele, brigavam, ambos disputavam um espaço no meu coração. Muitas vezes usava a raiva como forma de escape, para fugir dele. Magoá-lo não me fazia sentir melhor, mas me fazia não voltar atrás do que prometi a mim.

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