Capítulo 1

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Elo's p.o.v.

Aproveito a brisa quente que bate em meu rosto enquanto tomo meu café recém passado. Quente. Hoje definitivamente estava sendo um dia quente. E, por mais que eu amasse inverno como amo poucas coisas na vida, eu estava feliz com aquela brisa quente de primavera, afinal, não há uma forma humanamente possível de não amar a Itália.

Eu amava tanto aquela pequena comuna italiana chamada Imola, que nem mesmo me importava de ter que assistir a tal corrida. Eu não era fã de carros. Nem de velocidade. E, sinceramente, achava essa combinação perigosa demais.

Tal fato seria absolutamente normal para qualquer pessoa consciente - mas não para alguém que veio de uma família de pilotos. Eu era, como meu pai dizia, "a filha desviada" - apelido carinhoso que ganhei após tirar minha carteira de motorista apenas com 23 anos (e apenas por pura necessidade). Kelly também não corria, mas fora perdoada desse terrível pecado assim que começara a namorar Daniil - e nem preciso dizer que fora elevada a filha favorita do papai depois de engatar o namoro com Max.

Nelsinho era o campeão de papai. Geraldo, Laszlo e Pedro seguiam o mesmo caminho. Já Marco era o caçula, o que automaticamente o absolvia de qualquer responsabilidade. E tinha eu. Que não apenas reneguei o automobilismo, como ainda decidi seguir carreira como atriz. E junto disto vem a mídia e a fama, duas das coisas que meu pai mais odiava.

Minha família, apesar de ter nascido sob os holofotes, sempre foi muito boa em desviar deles. Meu pai, mesmo sendo um piloto famoso, sempre presou pela nossa privacidade. Ele odiava a mídia. E eu fora me envolver justo no maior ramo de mídia do mundo - Hollywood. Talvez ele tivesse razão: eu deveras era a filha desviada.

Mas mesmo com meus defeitos quase imperdoáveis, por vezes, eu ainda era uma boa irmã. E era isso que eu estava sendo hoje, uma boa irmã. Aliás, uma ótima irmã.

Kelly andava nervosa. Max não estava tendo o início de campeonato dos sonhos. Ele era fora de série em pista, e isso até mesmo eu, que não entendo nada de F1, poderia afirmar de olhos fechados. O grande problema era o carro, que não parava de quebrar.

O quê, consequentemente, deixava Max nervoso. O quê, consequentemente, deixava Kelly nervosa. O quê, consequentemente, me deixava nervosa.

Eu não gostava do paddock. Agradecia mentalmente por ter nascido depois do meu pai se aposentar da fórmula 1. Eu não frequentava o paddock nem mesmo quando Nelsinho corria. Era um lugar tumultuado e barulhento. E, a minha vida já era tumultuada e barulhenta demais.

Mas minha irmã precisava de mim. E meu amor pela minha irmã - e pela Itália - era maior que meu ódio pelo paddock e pelas corridas. Ainda.

Eu consegui escapar do dia de treinos livres e do dia dos treinos classificatórios, mas não iria conseguir escapar da corrida. A competição iniciaria apenas às 10h da manhã. Mas Max precisava ir mais cedo. O quê significava que Kelly precisava ir mais cedo. O quê terminava comigo tendo que estar pronta às 6h em ponto para irmos para o autódromo.

- Você parece péssima. - fala Max assim que me vê no lobby do hotel.

- Bom dia para você também. - respondo. Quem olhasse de fora poderia achar que tínhamos uma relação conturbada. Mas a verdade era muito o contrário. Max, quando você o conhecia de verdade, era uma pessoa muito divertida e nós acabamos nos tornando grandes amigos. No final das contas, Kelly ganhou um marido, Penélope um segundo pai, e eu mais um irmão.

- Não comecem vocês dois, já estamos atrasados. - Kelly morou um tempo na Inglaterra, e desde então ficou insuportável quando o assunto era horário. Minha irmã logo foi em direção ao carro e eu e Max apenas trocamos uma careta antes de segui-la.

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