Capítulo 6

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Charles p.o.v.

- Você tem algum explicação para isso? - fala Charlotte antes de praticamente jogar o iPad em mim.

A corrida havia terminado havia apenas algumas horas e eu ainda estava terrivelmente cansado. O final de semana por si só era cansativo. Todas as entrevistas, treinos e afins. A ainda tinha ela.

Juntando as forças que me restavam, comecei a ler a matéria a qual Charlotte se referia no iPad. Na capa da página de fofoca tinham uma foto de Eloise com a jaqueta vermelha que eu havia lhe dado há poucas horas. Tive de me segurar para conter o sorriso ao ver aquela imagem. Ela ficava incrível de vermelho. E mais incrível ainda com uma jaqueta com o número dezesseis atrás.

E eu era a pior pessoa do mundo por pensar assim.

Quando todo o drama aconteceu com Giada, eu era jovem. Eu era imaturo. Hoje a situação é diferente. Eu sou um homem adulto disputando um título mundial de Fórmula 1 e esses dramas não podem mais ter espaço na minha vida.

Porém, por mais que eu tivesse plena consciência disso, era difícil demais simplesmente ignorar Eloise Piquet. Eu não conseguia. Era simplesmente impossível. E como eu queria poder ignorá-la. Deus sabe como. Eu pensei seriamente eu nem mesmo lhe entregar a jaqueta. Em colocar um ponto final no que quer que seja isso que temos - ou que podemos vir a ter. Mas a simples ideia de decepcioná-la me deixava em pânico.

E o que me decepcionava ainda mais, é não conseguir pensar o mesmo em relação a Charlotte.

A tal matéria falava sobre a cunhada de Max Verstappen ter sido clicada saindo do paddock com um jaqueta da Ferrari - número dezesseis, importante acrescentar. Eu queria, mais do que tudo no mundo, ler a tal matéria e ficar indignado comigo, com minha atitude. Mas a única coisa que me deixava triste ao ler a reportagem era perceber que Eloise não havia visto a corrida. A ideia de que Eloise Piquet não estivesse no paddock torcendo por mim trouxe mais angústia do que deveria. E este era um sinais mais do que vermelho de que eu deveria esquecer essa história. Deveria esquecer completamente a existência de Eloise Piquet.

Não havia como lutar por um título mundial em meio a um drama amoroso. E eu iria lutar por aquele título com unhas e dentes. E eu iria esquecer Eloise Piquet - por mais doloroso que isso pudesse ser.

Respirei fundo ao terminar de ler a matéria.

- Que culpa eu tenho se até a cunhada do Max torce por mim? - eu era um cínico. E não merecia Charlotte. Eu não merecia ninguém, para ser bem sincero.

- Você não tem nada haver com isso? - ela continuava com interrogatório.

- Por que teria? - eu era mais sínico do que imaginava.

- Charles. - Ela adverte.

- Charlotte. - eu retruco. - Não posso controlar o que as pessoas vestem e, no fundo, Sebastian tem razão, todo mundo é fã da Ferrari. - uso o argumento que Seb usou em uma entrevistas anos atrás. Eu era pior do que imaginava.

- Ok. - Charlotte se da por vencida. - Eu acredito em você. - fala ela olhando fundo em meus olhos. Eu apenas balanço a cabeça concordando. E aquilo dói. Por mais que nosso relacionamento esteja desmoronando aos poucos, há tempos, Charlotte não merecia aquilo. Ninguém no mundo mereci um tipo de traição assim.

Assim que a minha (ainda) namorada sai do estar dos pilotos, eu penas viro de lado no sofá e tento dormir. Eu conseguiria dormir com o segundo lugar na corrida de hoje. Mas não podia afirmar com tanta certeza que iria conseguir dormir sem pensar com Eloise Piquet, nem que fosse por um mísero segundo.

Mas como aparentemente dirigir para a Ferrari automaticamente tira toda a sua possibilidade de paz e sossego no mundo, quando eu estava finalmente pegando no sono, Carlos entra no estar - barulhento como sempre.

- O que passa, cabrón? - meu colega pergunta ao me ver praticamente jogado no sofá.

- Cansado. - me restrinjo a responder. Com sorte Carlos aceitaria essa resposta de bom grado.

Mas sorte é algo que não podemos contar nesta equipe.

- Aham. - ele responde irônico. - Vai falar por bem ou por bem ou por mal? - fala ele fazendo sinal para que eu reconhece as pernas para que ele pudesse sentar no sofá.

Eu apenas bufo. Essa era uma batalha perdida. Carlos não me deixaria em paz tão cedo. Nem com toda sorte do mundo.

- Charlotte. - Eu digo na esperança de que Carlos levasse isso com apenas uma briga entre casais, mas pelo olhar de incentivo do meu amigo, ele obviamente queria saber o porquê da briga. - Eloise Piquet estava com uma jaqueta da Ferrari número dezesseis no paddock e isso deixou ela irritada. - Carlos me olha pensativo.

 -Ela não tinha dado a tal jaqueta para um tifosi? - Carlos questiona. Eu havia contado para ele do tal feito de Eloise após a corrida de Ímola, visto que Carlos não parava de questionar se nosso "plano" de deixar Max emburrado havia funcionado.

Meu amigo leva alguns segundos para perceber o que estava acontecendo.

Cabrón... - ele fala em advertência.

- Eu sei. - E eu realmente sabia.

- O quê Charlotte disse a respeito?

- Ela perguntou se eu tinha alguma coisa haver com a tal a jaqueta.

- E você disse que não. - Carlos conclui. Não precisava de mais do que dois neurônios para concluir que sim, eu tinha tudo haver com a bendita jaqueta. - E ela acreditou?

- Não sei. - e eu realmente havia ficado em dúvida. Talvez ela realmente tivesse acreditado. Mas talvez apenas quisesse evitar mais um drama. Sinceramente, a segunda opção me parecia mais verídica.

- Eu vi o jeito que você olhou para ela aquele dia...

- Carlos, não começa por favor. - eu interrompo meu amigo.

- E - ele apenas me ignora e continua o sermão -, eu também vi o jeito que ela olhou pra você. - de repente, uma corrente elétrica percorre meu corpo. - O jeito que você e a Charlotte se olham... Quer dizer, você sabe o que eu quero dizer.

E eu sabia. Não era o olhar de duas pessoas apaixonadas - o que até seria não seria tão estranho para um casal em um relacionamento há tanto tempo. Mas era ao cinismo e ao cansaço que Carlos se referia.

- Por que continuar insistindo? - e, então, meu amigo faz a pergunta de um milhão de dólares. E eu não tinha a resposta.

Eu poderia dizer que apenas queria evitar um drama no meio do campeonato. E isso não era totalmente mentira. Mas a verdade era que, no fundo, eu sou um grande covarde - no fim das contas, talvez eu tivesse a resposta. 


*****

Espero que tenham gostado!

O GP de Mônaco se aproxima - e com ele, muitos dramas...

Até o próximo!

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