Capítulo 12

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Elo's p.o.v.

29 de maio de 2022, domingo.

Monte Carlo, Mônaco.

22h 14min.

Após alguns lances de escada finalmente chego ao meu destino final - o terraço do Hôtel de Paris. O vento frio da fresca noite de primavera bateu em meu resto e balançou meus longos cabelos castanhos enquanto me encosto no parapeito.

E eu finalmente respiro ar puro.

Respiro fundo enquanto admiro a visão panorâmica do principado. Mônaco é linda durante o dia, mas nada, absolutamente nada - nem mesmo Mônaco de dia -, conseguia superar a beleza da noite monegasca. Às estrelas. Às luzes. O mar. Tudo era perfeito. E eu não conseguiria colocar em palavras o sentimento de felicidade de poder ter aquela vista de camarote, no terraço de um dos hotéis mais tradicionais do principado.

Outra brisa atinge meu rosto. E eu decido que um momento daqueles precisava de uma trilha sonora especial - que não fosse a música eletrônica que ecoava do salão de festas, alguns andares a baixo.

Em poucos segundos, os acordes de Wish You Were Here, do Pink Floyd, começam a tocar - estar 24 horas com o celular em mãos precisava servir para alguma coisa, a final de contas. E como eu desejava meus fones de ouvidos nesse momento, foi a primeira coisa que passou em minha mente. A segunda, era como essa cidade conseguira ficar ainda mais linda.

Eu estava pronta para cantar os primeiros versos quando sou surpreendida - e levemente assustada, admito - por uma doce voz familiar. E David Gilmour começa a cantar sozinho enquanto recebo um pedido de desculpas do homem que acabara de terminar com a minha paz naquele momento - e nos últimos tempo em geral.

Eu não acreditava em karma, mas se acreditasse, tenho certeza que o meu seria o monegasco de olhos verdes e 1,80m de altura que interrompia o meu momento - e a minha fuga.

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Elo's p.o.v.

29 de maio de 2022, domingo.

Monte Carlo, Mônaco.

10h 53min

- Você está extraordinariamente atrasada. - minha irmã fala no momento que põe os olhos em mim enquanto adentro a área externa da Red Bull Energy Station. Alguém não estava de bom humor.

- Bom, eu ficaria verdadeiramente surpreso se ela tivesse chegado extraordinariamente cedo. - fala meu cunhado na falha tentativa de me defender. Mas no final, o que vale é a intenção, não?

- Falta mais de duas horas para a corrida. - respondo minha irmã. - E eu posso ter perdido um pouco a noção do horário. - admito perante a persistência do olhar de julgamento de Kelly.

E dessa vez eu não a culpava. Mônaco era a corrida mais importante do ano, todos sabiam disso. Consequentemente, a Red Bull provia um coquetel anual para convidados exclusivos no Red Bull Energy Station, o qual, este ano, minha irmã havia ajudado a organizar cada detalhe. E eu havia prometido que estaria aqui às nove horas em ponto para prestigiá-la. Mas a minha cama estava tentadora demais para simplesmente ser ignorada.

E eu não estava exatamente animada para o coquetel da marca de energéticos mais famosa do planeta. Primeiro porque descobri que sim, o principado é pequeno demais - e aparentemente eu era um ímã para encontrar os Leclerc's. Tanto nos treinos de sexta quanto na classificação de sábado, parecia que se eu respirasse forte demais algum Leclerc surgia ao meu lado. E, por mais que eles fossem adoráveis, eu estava começando a me sentir sufocada. Cada vez que eu escutava a risada escandalosa de Arthur ou os xingamentos de Pascale enquanto assistia o filho do meio correr, eu me sentia mais envolvida naquela trama a qual eu já não sabia como sairia - ou se sairia. E isso estava ficando perigoso demais. E segundo, e não menos importante, eu odiava a quantidade de gente chata e puxa saco que esse tipo de evento social traz consigo.

Sabiamente, decido sair da mira da minha querida irmã, que agora, por uma dádiva, havia encontrado Maye Musk - e provavelmente permaneceria envolvida em um assunto de dar sono com ela por um bom tempo. Após me afastar de Kelly e Max , dou uma olhada panorâmica no local. A direita havia um grupo de mulheres jovens que não conseguiam parar de gravar cada detalhe - e cada pessoa - do recinto. Eram  provavelmente modelos ou influencers. Não sei ao certo, mas qualquer curiosidade que eu poderia ter acabou no momento em que algumas delas apontaram suas câmeras de maneira totalmente indiscreta em minha direção. Nesse monte eu soube que a direção oposta era o lugar mais seguro. Porém, a esquerda havia apenas um grande grupo de homens de terno, que deduzi serem executivos. Outra opção pouco tentadora. Em volta da piscina estava Horner e os principais diretores da RBR, incluindo Helmut Marko. Mediante a estas opções tão tentadoras, o bar me parecera o lugar mais seguro ali. E provavelmente era mesmo.

E ali fiquei. Intercalado taças de espumantes, garrafas de água e cumprimentos falsos. Agradeci mentalmente por cada minuto que cheguei atrasada. E, inevitavelmente, penso a respeito do box vermelho há algumas centenas de metros de distância. Talvez ser sufocada pela calorosa onda de presença dos Leclerc's não fosse tão ruim assim. Eu poderia tranquilamente conviver com aquilo. Talvez eu fosse um tanto masoquista por pensar assim. Mas eu também sabia que lá havia Charlotte. E eu não era tão masoquista assim ao ponto de pensar que poderia aturar sua presença - e principalmente: seu significado.

O início da corrida se aproximava e com isso o público do Red Bull Energy Station começou a sofrer uma modificação em sua composição. Os funcionários da marca de energético davam lugar a cada vez mais pessoas desconhecidas - e inconvenientes. E, após ser parada três vezes por três desconhecidas diferentes que pediam para eu fazer um stories como se fossemos amigas, decidi que era minha hora de sair dali também.

Em poucos minutos cheguei até a garagem da RBR. Não era meu lugar favorito, porém parecia ser o local mais seguro do paddock no momento - se é que existia um.

A corrida iniciou algum tempo depois e estava tão interessante quanto o GP de Mônaco pode ser. Não precisava ser um expert em corridas para saber que as ruas monegascas estavam se tornando estreitas demais para aqueles carros. O GP tinha um valor muito mias histórico do que competitivo. Apesar dos pesares, era necessário admitir o bem que aqueles carros em velocidades absurdas faziam àquela paisagem. Era como se a Fórmula 1 pertencesse à Mônaco.

A monotonia, no entanto, resolveu dar uma breve trégua. Por algum motivo sem sentido, a Ferrari decidiu chamar Charles para os boxes. Enquanto Carlos estava lá. Também não era necessário ser um expert em corridas para saber que o escutaria de Maranello havia arruinado a corrida de Leclerc - e com ela, as chances de retornar a liderança do campeonato.

Eu deveria estar feliz com isso. O resultado era ótimo para Max. Mas a ideia de ver Charles decepcionado me causava incômodo, e por mais que "meu time" saísse ganhador de Mônaco - já que Checo acabou por cruzar a bandeira quadriculada em primeiro lugar -, eu saia perdedora.

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Espero que tenham tido uma boa leitura! Até o próximo 🌻

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