Capítulo 8

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Elo's p.o.v.

Inacreditável. Era a única coisa que eu conseguia pensar.

Óbvio que em meio a tantos restaurantes no principado, Charles Leclerc tinha de escolher justo o que eu viria.

Era inacreditável.

Eu sabia que iria vê-lo em algum momento do final de semana. E eu estava me preparando psicologicamente para isso. Mas em um treino, ou durante a classificação. Com sorte, no dia da corrida.

Eu esperava o encontrar em qualquer local do paddock, e estava preparada - dentro do possível - para isto. Mas não ali. Em nenhum momento passou em minha mente a chance de encontrar Charles ali. 

Eu estava travada. Eu não sabia o que fazer. Minha vontade era dar meia volta e fingir que não tinha o visto. Ou simplesmente ir embora, sem dar a mínima satisfação. Afinal, eu não precisava fingir nada. Eu não devia nada a Charles Leclerc.

Eu tentei. Eu juro que tentei dar a volta. Mas era simplesmente impossível desviar dos olhos verdes mais intenso do que esmeralda que focavam em mim e no fundo da minha alma. Mesmo a metros de distância, Charles mantinha contato visual comigo, e eu não fazia ideia de como.

E também não queria saber. Há coisas que simplesmente não precisam de explicação. E o olhar de Charles Leclerc era uma delas.

Eu poderia fingir que este breve momento não tivesse acontecido, mas a ideia de ignorar Charles me quebrava por dentro. E como eu me odiava neste momento.

E jogando pela sacada o meu último fio de dignidade, caminhei em direção a mesa onde o monegasco de olhos verdes estava. E Charles não desvio o olhar de mim por nenhum segundo durante a minha breve caminhada.

Eu não sabia o que iria dizer, eu simplesmente estava seguindo o fluxo. Mas, por sorte - ou azar -, não precisei me dar este trabalho. O olhar focado de Charles naturalmente chamou a atenção do restante da mesa, e quando eu estava a poucos passos do encontro do monegasco e companhia, a mulher loira que estava sentada de costas para mim e de frente para Charles se vira para descobrir o que tanto ele olhava.

E para a minha surpresa, não era qualquer mulher.

- Eloise! - exclama a loira - Espero que você realmente tenha me desculpado. - ela acrescenta. Pelo visto, Pascale havia realmente se sentindo culpada pelo ocorrido. Eu, por outro lado, nem me lembrava mais, ela estava totalmente desculpada por isso.

- Está tudo bem, Pascale. - eu respondo finalmente quebrando o contato visual com Charles. E por isso eu não sabia se poderia desculpá-la tão facilmente.

- Vocês se conhecem? - Charles pergunta ignorando os olhares do restante da mesa.

- Ela é a moça que eu esbarrei e sujei toda de vinho. - ela explica como se minha roupa branca com uma mancha roxa não fosse autoexplicativa. - E essa não foi a educação que eu te dei, Charles Leclerc.

- Bom dia, Eloise. - fala Charles envergonhado após a chama de atenção da mulher que, pela frase, deduzi ser provavelmente mãe do monegasco.

- Bom dia, Charles. - eu repondo segurando a risada. Era cômico e fofo ao mesmo tempo ver aquele homem tão imponente reduzido a uma criança envergonhada com um simples puxão de orelha da mãe.

- A pergunta é, vocês se conhecem? - ela questiona curiosa.

- Ela é cunhada do Max. - Charles responde antes mesmo que Pascale conseguisse terminar a frase.

- E ganhadora do Oscar. - fala um garoto loiro, muito parecido com Charles, que sentava ao lado do piloto da Ferrari. Ao lado dele, estava um homem moreno, um pouco mais velho, que também lembrava Charles. - Arthur Leclerc - ele se apresenta -, um grande fã, se você permite que eu me apresente já que meu irmão é um grande mal educado e não fez isso. - ele fala sorrindo.

- Eu não sei o que deu em Charles hoje, eu juro que o dei mais educação que isso. - Pascale tenta se justificar.

- Mãe. - Charles parecia envergonhado. Sua bochechas ganhavam um leve tom rosado, que deixava o monegasco ainda mais belo.

- Então essa é a famosa cunhado de Max Verstappen? - pergunta o homem moreno, o único que eu ainda não sabia o nome. - Lorenzo Leclerc - ele se apresenta estendendo a mão.

- Prazer. - eu retribuo o aperto de mãos - Famosa? - questiono sem pensar antes. Foi mais forte do que eu. Por um breve segundo, tive a sensação de que Lorenzo lançou um olhar questionador a Charles. E, de repente, meu coração batia mais rápido, e não havia nada que eu pudesse fazer.

- Eu também sou um grande fã. - responde ele e eu tento não demonstrar minha decepção. Por um momento eu pensei, ou pelo menos queria muito, que ele me conhece por algo que Charles havia dito. A ideia de que Charles tivesse comentado de mim para alguém fazia meu estômago borbulhar. E era a ideia mais ridícula que eu já havia tido.

Era óbvio que Lorenzo me conhecia apenas pelo meu trabalho. Afinal, não havia outro motivo para conhecer. Não havia um motivo pelo qual Charles devesse falar ou simplesmente mencionar minha existência para quem quer que fosse.

Eu troco mais algumas palavras com a família Leclerc. Não tantas quanto gostaria, mas o suficiente para descobrir que Pascale era, deveras, a matriarca da família Leclerc, e que Arthur e Lorenzo são, respectivamente, os irmãos mais novo e mais velho de Charles. Descobri, inclusive, que mais novo também era piloto. Ao contrário do mais velho, que parecia ser o único verdadeiramente ajuizado.

O clima com a família monegasca era leve. E em poucos instante eu sentia como se os conhece há um bom tempo. Eu estava considerando aceitar o convite de Pascale e me unir a eles no brunch. Quando sou trazida de volta a realidade por uma voz suave.

- Me desculpem pelo atraso. - fala a voz doce, o qual eu me viro para em direção. E me arrependo profundamente.

A minha frente estava Charlotte Sine. Mais radiante e bela do que nunca. E mais namorada de Charles do que nunca. E eu precisa lembrar desta última parte.

Ela parecia uma pessoa do bem. E vê-la assim, em carne e osso e muita felicidade, me trouxe um certo peso na consciência.

Eu não sabia feito nada de errado. Mas, no fundo, eu sabia que era muito mais por falta de oportunidade do que por bom caráter. Eu era péssima.

Comprimento Charlotte como se não desejasse o namorado dela mais do que tudo. E eu me sentia o ser humano mias sujo do Universo nesse momento. Eu poderia jurar que iria vomitar se ficasse mais um minuto naquela mesa. E juntando o restante das forças que eu tinha - nem cito a dignidade, pois essa acredito que se esgotou há um certo tempo -, me despeço a família Leclerc com a desculpa de que minhas acompanhantes devia estar estranhando minha demora. O que não era totalmente mentira. Mas também não era um motivo que me deixasse preocupada.

Então me viro em direção ao meu caminho, unindo todas as minhas forças para não cair. Eu sentia minhas pernas bambas e minhas costas queimando. Charles estava me olhando. Eu sabia que estava. Ou estava apenas desesperada para que ele estivesse. E isso me fazia uma grande idiota - ou pelo menos era um dos vários motivos pelos quais eu era uma grande idiota.

- Ganhadora do Oscar? Como vocês não me avisam disso? - Escuto Pascale falar enquanto me afasto. Dou um sorriso de canto. Apesar do contexto, devo admitir que conhece a família Leclerc fora um privilégio. Eles representavam o significado da palavra família em seu sentido mias cru, e era possível notar isso convivendo com eles por apenas alguns segundos.

Mantenho o meu sorriso de quanto enquanto me afasto. No final das contas, Charles não era o única Leclerc que sofreria as represálias da mãe hoje. Eu não saberia dizer quem seria o ganhador do Oscar da noite, mas com certeza não seria Lorenzo, e muito menos, Arthur.

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